Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
Os sinais de recuperação da economia
brasileira se tornaram significativamente mais claros no início desse ano e
consolidam a ideia de que o processo de retomada do crescimento econômico está
em marcha. A melhora nos indicadores é verificada em praticamente todos os
setores, o que também afeta positivamente as expectativas dos empresários.
A elevação da atividade econômica, que
antes permanecia restrita a atividades agrícolas e ao setor exportador, parece
ter se consolidado também no setor industrial. De acordo com a Pesquisa
Industrial Mensal-Produção Física do IBGE, o setor não só cresceu 2,5% no
acumulado de 2017, como também 2,8% em dezembro, em relação a novembro, já com
ajuste sazonal. Isso reforça, portanto, a ideia de aceleração do ritmo de
atividade. Essa retomada do crescimento na indústria, como era de se esperar,
está se dando com base apenas no aumento da utilização da capacidade instalada.
De acordo com a série com ajuste sazonal elaborada pela Confederação Nacional
da Indústria, CNI, o indicador, que estava em 76,7% em dezembro de 2016,
alcançou 78% em dezembro de 2017. Essa elevação, contudo, não foi suficiente
para exercer qualquer pressão na venda de máquinas e equipamentos, e a receita
líquida total das empresas do setor caiu 2,9% neste mesmo ano. A Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Abimaq, contudo, espera
crescimento do indicador, em 2018, sustentado tanto pelas exportações, como
pela demanda interna.
A recuperação atingiu também a arrecadação
de impostos, que fechou 2017 com elevação real de 0,59%. Em dezembro, contudo,
a alta real foi de 4,9% em relação a dezembro de 2016. Isso levou o chefe do
centro de estudos tributários e aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias, a
afirmar que “Em 2017 se encerrou o ciclo de resultados negativos”. Ademais, em
função da composição esperada para o crescimento do PIB, o órgão projeta uma
expansão da arrecadação maior do que a do referido indicador em 2018, o que
abre espaço para uma elevação do investimento público, que alcançou níveis
baixíssimos nos últimos tempos.
Mantendo um traço que parece tradicional
para o movimento cíclico brasileiro, a recuperação está caracterizada pela
elevação do nível de exploração da força de trabalho, assim como ocorrido no
início dos anos 2000. A despeito de uma queda da taxa de desemprego para 11,8%
no quarto trimestre do ano passado, o número de trabalhadores com carteira
assinada, que era 34,293 milhões em 2016, recuou para 33,340 milhões em 2017,
uma queda de 2,78%.
No que tange a demanda externa, aqueles que
acompanham nossas análises já sabem que esta aceleração do crescimento havia
sido antecipada e seria consequência do arrastamento do restante da economia
pelo setor exportador. Essa demanda, por sua vez, permanecerá contribuindo para
a recuperação da nossa economia, tanto pela melhora das condições econômicas
internacionais, quanto por alguns fatores pontuais. Um exemplo desses últimos
foi a decisão da China de encerrar a produção de minérios de baixa qualidade e
transferir sua demanda para o mercado externo. Como resultado desse movimento
oposto de oferta e demanda internacional, temos, pois, uma elevação do preço no
mercado mundial, o que melhora os termos de troca para Brasil, que são uma
medida das vantagens do comércio internacional para o país. No que tange aos
fatores mais gerais, a retomada da economia mundial parece ter se
intensificado, com a Zona do Euro tendo alcançado, em 2017, a maior taxa de
crescimento econômico (2,5%) desde 2007.
Com base, portanto, na trajetória
apresentada pelo cenário econômico, com uma probabilidade muito pequena de
reversão, parece ser seguro afirmar que 2018 marcará uma mudança de fase no
movimento cíclico da economia brasileira, dando início à fase de reanimação. A
triste notícia, contudo, é que, em função das características apresentadas
durante as fases de crise e depressão do ciclo, a probabilidade de que essa
fase de reanimação e a de auge tenham uma duração menor do que o normal é
significativamente elevada.
[i] Professor
Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
(www.progeb.blogspot.com).
0 comentários:
Postar um comentário