quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Da previdência à (in)segurança


Semana de 12 a 18 de fevereiro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Na ressaca pós-carnavalesca as notícias econômicas são escassas. As poucas informações que são divulgadas, no entanto, confirmam as tendências que temos apontado em nossas análises.
A recuperação da economia continua lentamente e muitas empresas já comemoram o aumento dos lucros, no último trimestre de 2017. Estimativas de algumas instituições financeiras para 89 empresas pesquisadas apresentam resultados positivos. O BTG Pactual apresenta para estas empresas um crescimento do lucro líquido de 52,8% na comparação com o quarto trimestre de 2016. O Morgan Stanley eleva este valor para 104,3% e o Santander é ainda mais otimista apresentando um aumento de 233,2%. E nas estimativas não estão incluídas a Embraer, a Vale e a Petrobrás.
As instituições financeiras apontam ainda os fatores positivos que justificam estes resultados: a queda dos juros, o aumento do crédito, o crescimento do emprego e o aumento da confiança do consumidor. Este último fator é comprovado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com o Índice de Confiança do Consumidor calculado por ela. Este índice passou de 73,1 pontos para 86,4 pontos.
Outro acontecimento importante da semana foi a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que havia reduzido a taxa Selic de 7% para 6,75%. Apesar das divergências relatadas, foi aberta nova possibilidade para outra redução dos juros. Havia sido criada a expectativa de que o relaxamento monetário estava encerrado. Com a ata ficou claro que o órgão considera a hipótese de uma “flexibilização monetária adicional” caso haja mudanças na evolução do cenário. O Copom considera que a inflação tenderá a convergir para a meta de 4,5% e que a Selic atual de 6,75% já é satisfatória. No entanto, não fica fechada a possibilidade de uma nova redução.
Este panorama econômico positivo não se refletiu no ambiente político. A este nível a semana foi bastante agitada culminando com a decretação da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, fato que vem dominando todas as páginas dos jornais e toda a mídia. Apesar de não ter sido concretizada nenhuma medida efetiva decorrente do decreto, a repercussão é geral e as discussões são acaloradas. O processo legal mal começou e já se esperam milagres.
Parece que o Presidente Temer encontrou uma saída para a situação difícil em que se encontra. Com um só golpe atingiu vários objetivos. Livrou-se da desastrosa derrota para onde caminhava com a reforma da previdência que não seria aprovada. O processo, por razões constitucionais, agora está legalmente suspenso. Encontrou na “segurança” uma nova bandeira para alimentar seu desmoralizado governo e apoiar suas pretensões à reeleição. Criou mais um ministério, o da Segurança Publica, para atender às demandas de sua base de apoio. Com a demissão da Luislinda Valois, ministra dos Direitos Humanos, agora são duas vagas a preencher além da pendência do ministério do Trabalho.
No panorama internacional, embora a tendência para a recuperação das principais economias se mantenha, surgiram algumas preocupações novas.
A volatilidade nas principais bolsas de valores do mundo voltou. Em Nova York, em apenas um dia, o dia 5, o índice Dow Jones teve a maior queda diária em pontos de sua história: perdeu 1.175 pontos. Além disso, a elevação dos salários nos EUA provocou um crescimento de 2,9% nos rendimentos dos trabalhadores. Isto traz de volta o medo da elevação da inflação que pode provocar alterações nos preços dos ativos. Os especuladores começam a entrar em pânico.
Em Wall Street, o Índice de Volatilidade CBOE VIX chamado “termômetro do medo” subiu 116% em um dia. Foi o maior salto percentual da história. Surgem vários pronunciamentos de grandes investidores alertando para a formação de bolhas e “ruídos iniciais de um terremoto”. Jim Rogers, sócio de George Soros alerta que “o próximo mercado de baixa... será o pior de nossas vidas”. O que virá por aí?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog