Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na ressaca pós-carnavalesca as notícias econômicas
são escassas. As poucas informações que são divulgadas, no entanto, confirmam
as tendências que temos apontado em nossas análises.
A recuperação da economia continua
lentamente e muitas empresas já comemoram o aumento dos lucros, no último trimestre
de 2017. Estimativas de algumas instituições financeiras para 89 empresas
pesquisadas apresentam resultados positivos. O BTG Pactual apresenta para estas
empresas um crescimento do lucro líquido de 52,8% na comparação com o quarto
trimestre de 2016. O Morgan Stanley eleva este valor para 104,3% e o Santander
é ainda mais otimista apresentando um aumento de 233,2%. E nas estimativas não
estão incluídas a Embraer, a Vale e a Petrobrás.
As instituições financeiras apontam ainda
os fatores positivos que justificam estes resultados: a queda dos juros, o
aumento do crédito, o crescimento do emprego e o aumento da confiança do
consumidor. Este último fator é comprovado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)
com o Índice de Confiança do Consumidor calculado por ela. Este índice passou
de 73,1 pontos para 86,4 pontos.
Outro acontecimento importante da semana
foi a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que
havia reduzido a taxa Selic de 7% para 6,75%. Apesar das divergências
relatadas, foi aberta nova possibilidade para outra redução dos juros. Havia
sido criada a expectativa de que o relaxamento monetário estava encerrado. Com
a ata ficou claro que o órgão considera a hipótese de uma “flexibilização
monetária adicional” caso haja mudanças na evolução do cenário. O Copom
considera que a inflação tenderá a convergir para a meta de 4,5% e que a Selic
atual de 6,75% já é satisfatória. No entanto, não fica fechada a possibilidade
de uma nova redução.
Este panorama econômico positivo não se refletiu
no ambiente político. A este nível a semana foi bastante agitada culminando com
a decretação da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, fato que
vem dominando todas as páginas dos jornais e toda a mídia. Apesar de não ter
sido concretizada nenhuma medida efetiva decorrente do decreto, a repercussão é
geral e as discussões são acaloradas. O processo legal mal começou e já se
esperam milagres.
Parece que o Presidente Temer encontrou uma
saída para a situação difícil em que se encontra. Com um só golpe atingiu
vários objetivos. Livrou-se da desastrosa derrota para onde caminhava com a
reforma da previdência que não seria aprovada. O processo, por razões
constitucionais, agora está legalmente suspenso. Encontrou na “segurança” uma
nova bandeira para alimentar seu desmoralizado governo e apoiar suas pretensões
à reeleição. Criou mais um ministério, o da Segurança Publica, para atender às
demandas de sua base de apoio. Com a demissão da Luislinda Valois, ministra dos
Direitos Humanos, agora são duas vagas a preencher além da pendência do
ministério do Trabalho.
No panorama internacional, embora a
tendência para a recuperação das principais economias se mantenha, surgiram
algumas preocupações novas.
A volatilidade nas principais bolsas de
valores do mundo voltou. Em Nova York, em apenas um dia, o dia 5, o índice Dow
Jones teve a maior queda diária em pontos de sua história: perdeu 1.175 pontos.
Além disso, a elevação dos salários nos EUA provocou um crescimento de 2,9% nos
rendimentos dos trabalhadores. Isto traz de volta o medo da elevação da
inflação que pode provocar alterações nos preços dos ativos. Os especuladores
começam a entrar em pânico.
Em Wall Street, o Índice de Volatilidade
CBOE VIX chamado “termômetro do medo” subiu 116% em um dia. Foi o maior salto
percentual da história. Surgem vários pronunciamentos de grandes investidores
alertando para a formação de bolhas e “ruídos iniciais de um terremoto”. Jim
Rogers, sócio de George Soros alerta que “o próximo mercado de baixa... será o
pior de nossas vidas”. O que virá por aí?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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