Semana de 21 a 27 de maio de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Estamos sob o impacto do grande
acontecimento da semana: a greve dos caminhoneiros. Pelas dimensões que
atingiu, bloqueou estradas com caminhões, piquetes e barreiras físicas
impedindo a circulação das mercadorias e provocando desabastecimento geral. Surpreendido
com a gravidade dos acontecimentos o governo resolveu negociar e foi cada vez
mais empurrado contra a parede à medida em que o movimento ganhava mais
adesões.
Os noticiários ficaram todos preenchidos
com as ocupações das estradas, bloqueios, desabastecimento, falta de
combustível, encerramento de atividades na indústria comércio, agricultura,
escolas, etc. Não houve tempo para refletir sobre os dados da conjuntura que
continuaram mostrando a lentidão da recuperação econômica.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os
índices de confiança do consumidor (ICC) recuou 2,5 pontos, entre abril e maio,
o Índice de expectativas (IE) recuou 4,8 pontos, as compras de bens duráveis
recuaram 8,4 pontos. A desigualdade no país se agravou. Enquanto os 20% mais
ricos cresceram seus ganhos em 10,8% os 20% mais pobres perderam 5,0%. Os dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, além dos
13,7 milhões de desempregados (13,1% do total), há os 4,6 milhões de
desalentados (desempregados que já não procuram emprego) e 6,2 milhões de
subempregados. Juntos representam 24,7% do total da força de trabalho
disponível.
Também passou despercebida a primeira greve
dos trabalhadores das montadoras de automóveis que já paralisa totalmente a
Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, São Paulo, por ajustes salariais. É um
sintoma de que o movimento sindical no ABC volta a mover-se.
Mas, só a greve dos caminhoneiros chamou a
atenção pois, demonstrou não só a desinformação do governo, mas a sua completa
incapacidade técnica, administrativa e política. Encurralado Temer falou
grosso, ameaçou, convocou as forças armadas, assinou um decreto de Garantia da
Lei e da Ordem (GLO), mas resolveu negociar. A cada dia, a cada reunião um novo
acordo foi assinado. A dispersão das lideranças dos caminhoneiros dificulta as
negociações. Eles são cerca de 2,3 milhões, dispersos pelo país e organizados
em mais de uma dezena de entidades. Os protestos foram motivados pela política
de preços dos combustíveis praticada pela Petrobrás, sob a presidência de Pedro
Parente, indicado pelo governo Temer. Além de muito elevados, os preços podem
variar diariamente o que ameaça a viabilidade econômica do negócio de
transportes.
As tentativas do governo têm se concentrado
na redução dos preços, via redução dos impostos que incidem sobre eles (Cide,
PIS, PASEP, COFINS, ICMS), e que, no caso da gasolina, representam 45% e do
óleo diesel, 29%. Nas últimas negociações, o governo ofereceu zerar a Cide e
reduzir o PIS/COFINS para o diesel. A Petrobrás, por seu lado, ofereceu um
desconto temporário de 10% no preço do diesel por 15 dias, depois ampliado para
30. Ainda se falou em congelamento de preços por um certo período, mas a cada
dia as condições mudam diante da recusa dos caminhoneiros que contestam suas
lideranças e os acordos assinados.
Há, no entanto, um tabu. Ninguém discute a
própria política de preços da Petrobrás na gestão Parente. No cálculo eles
tomam como referência os preços internacionais do petróleo (commoditie que é
objeto de monopólio da OPEP, Rússia e mais alguns grandes produtores) e a
variação da cotação do dólar (resultado da especulação financeira
internacional). Ambos os fatores estão totalmente fora do nosso controle e, na
atual conjuntura, forçam a elevação dos preços.
O sr. Parente (do capeta), visando criar
lucros extraordinários e distribuir dividendos aos acionistas privados da
Petrobrás (35,52% do capital), quer empurrar na goela dos brasileiros, e dos
caminhoneiros, em particular, dois componentes de preços inusitados e que são
resultado da ação de especuladores financeiros e de commodities internacionais.
Agora durma-se com um barulho desses!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).