quarta-feira, 23 de maio de 2018

Após 2 anos, recuperação econômica não vinga

Charge de Jota A
Semana de 14 a 20 de maio de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

O presidente Michel Temer procurou motivos pra comemorar os dois anos de seu governo e tratou de listar os convidados para a cerimônia celebrativa do dia 15 de maio. Ministros, ex-ministros, presidentes de estatais e aliados foram convocados. Mais que as presenças, chamaram à atenção as ausências dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e do Senado, Eunício Oliveira. Fingindo não tomar conhecimento dos fatos, o presidente enalteceu a aprovação do teto dos gastos públicos, a recuperação da credibilidade da Petrobras, a “provável” privatização da Eletrobrás, a entrega de 1 milhão de moradias no programa Minha Casa, Minha Vida, a aprovação da reforma trabalhista, a redução da taxa básica de juros e o fim da recessão.
Pois bem. Um dia depois destes anúncios, foi divulgado o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O indicador caiu 0,13% em relação ao último trimestre de 2017. As quedas de 0,1% da produção industrial, de 0,2% dos serviços e a leve alta de 0,3% do varejo medidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) permitiram construir o índice geral que é uma prévia do PIB oficial.
Então, os últimos números apresentados pela economia brasileira indicam que, ao contrário do que o governo afirmou, o crescimento do PIB de 2018 será mais próximo de 2% do que dos 3% prometidos no início do ano. Além das revisões para baixo citadas em nossa última análise, esta semana foi a vez do Bank of America Merrill Lynch revisar sua projeção de 3% para 2,1%. O Boletim Focus também rebaixou sua estimativa de 2,7% para 2,51%. O Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) cortou a previsão para o PIB de 3% para 2,4%. E o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) admitiu que a atividade econômica evolui abaixo do esperado e apontou o recuo do indicador de consumo aparente de bens industriais de 2%, em março, como um dado preocupante. Mesmo assim, o órgão afirmou que, na “...ausência de novas fontes significativas de volatilidade ou instabilidade no cenário externo ou no front político doméstico, a atividade deverá continuar em sua trajetória de recuperação gradual ao longo do ano.”
A economia cresce a níveis baixíssimos e de forma bastante irregular, e os especialistas continuam a exaltar sua “trajetória gradual e consistente”. Veja-se o exemplo do Banco Central. O Copom manteve a taxa básica de juros em 6,5% em sua última reunião ocorrida em 16 de maio, encerrando o ciclo de queda monetária. E uma das suas justificativas para a manutenção da taxa chama a atenção: “Os últimos indicadores de atividade econômica mostram arrefecimento, num contexto de recuperação consistente, mas gradual, da economia brasileira...” A atividade econômica arrefece, mas sua “recuperação é gradual e consistente”!
Isto é que é coerência!
Some-se a esta “consistência” os dados do IBGE que dão conta, no primeiro trimestre deste ano, de 27,7 milhões de trabalhadores subutilizados. O desemprego ampliado, que caracteriza a subutilização da força de trabalho, computa os trabalhadores desempregados, os subocupados por insuficiência de horas (trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais) e os trabalhadores potenciais (que não buscam emprego, mas estão disponíveis para trabalhar). O desemprego ampliado subiu de 23,6% para 24,7%, na comparação com o quarto trimestre de 2017. Já o desalento (medido pela desistência do trabalhador em procurar emprego) atinge 4,6 milhões de pessoas, aumento de 278 mil em relação ao fim do ano passado. Além disso, a taxa de desemprego, que está em 13,1%, se elevou em todas as faixas etárias, no primeiro trimestre, e continuou a penalizar a parcela jovem da população. O número de desempregados de 14 a 24 anos de idade aumentou em 600 mil e já atinge 5,6 milhões.
Com 71,2% da população classificando o seu governo como ruim ou péssimo e contando com apenas 0,9% das intenções de voto para o próximo pleito, segundo a última pesquisa CNT/MDA, Michel Temer insiste, há 2 anos, em continuar desconectado da realidade.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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