quarta-feira, 30 de maio de 2018

Caminhoneiros versus Petrobrás


Semana de 21 a 27 de maio de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Estamos sob o impacto do grande acontecimento da semana: a greve dos caminhoneiros. Pelas dimensões que atingiu, bloqueou estradas com caminhões, piquetes e barreiras físicas impedindo a circulação das mercadorias e provocando desabastecimento geral. Surpreendido com a gravidade dos acontecimentos o governo resolveu negociar e foi cada vez mais empurrado contra a parede à medida em que o movimento ganhava mais adesões.
Os noticiários ficaram todos preenchidos com as ocupações das estradas, bloqueios, desabastecimento, falta de combustível, encerramento de atividades na indústria comércio, agricultura, escolas, etc. Não houve tempo para refletir sobre os dados da conjuntura que continuaram mostrando a lentidão da recuperação econômica.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os índices de confiança do consumidor (ICC) recuou 2,5 pontos, entre abril e maio, o Índice de expectativas (IE) recuou 4,8 pontos, as compras de bens duráveis recuaram 8,4 pontos. A desigualdade no país se agravou. Enquanto os 20% mais ricos cresceram seus ganhos em 10,8% os 20% mais pobres perderam 5,0%. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, além dos 13,7 milhões de desempregados (13,1% do total), há os 4,6 milhões de desalentados (desempregados que já não procuram emprego) e 6,2 milhões de subempregados. Juntos representam 24,7% do total da força de trabalho disponível.
Também passou despercebida a primeira greve dos trabalhadores das montadoras de automóveis que já paralisa totalmente a Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, São Paulo, por ajustes salariais. É um sintoma de que o movimento sindical no ABC volta a mover-se.
Mas, só a greve dos caminhoneiros chamou a atenção pois, demonstrou não só a desinformação do governo, mas a sua completa incapacidade técnica, administrativa e política. Encurralado Temer falou grosso, ameaçou, convocou as forças armadas, assinou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), mas resolveu negociar. A cada dia, a cada reunião um novo acordo foi assinado. A dispersão das lideranças dos caminhoneiros dificulta as negociações. Eles são cerca de 2,3 milhões, dispersos pelo país e organizados em mais de uma dezena de entidades. Os protestos foram motivados pela política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobrás, sob a presidência de Pedro Parente, indicado pelo governo Temer. Além de muito elevados, os preços podem variar diariamente o que ameaça a viabilidade econômica do negócio de transportes.
As tentativas do governo têm se concentrado na redução dos preços, via redução dos impostos que incidem sobre eles (Cide, PIS, PASEP, COFINS, ICMS), e que, no caso da gasolina, representam 45% e do óleo diesel, 29%. Nas últimas negociações, o governo ofereceu zerar a Cide e reduzir o PIS/COFINS para o diesel. A Petrobrás, por seu lado, ofereceu um desconto temporário de 10% no preço do diesel por 15 dias, depois ampliado para 30. Ainda se falou em congelamento de preços por um certo período, mas a cada dia as condições mudam diante da recusa dos caminhoneiros que contestam suas lideranças e os acordos assinados.
Há, no entanto, um tabu. Ninguém discute a própria política de preços da Petrobrás na gestão Parente. No cálculo eles tomam como referência os preços internacionais do petróleo (commoditie que é objeto de monopólio da OPEP, Rússia e mais alguns grandes produtores) e a variação da cotação do dólar (resultado da especulação financeira internacional). Ambos os fatores estão totalmente fora do nosso controle e, na atual conjuntura, forçam a elevação dos preços.
O sr. Parente (do capeta), visando criar lucros extraordinários e distribuir dividendos aos acionistas privados da Petrobrás (35,52% do capital), quer empurrar na goela dos brasileiros, e dos caminhoneiros, em particular, dois componentes de preços inusitados e que são resultado da ação de especuladores financeiros e de commodities internacionais.
Agora durma-se com um barulho desses!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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2 comentários:

  1. Acompanhando sempre o blog, pois a realidade aqui apresentada é lúcida, diferente do que se lê em alguns outros Locais, onde você tem medo de tá sendo feito de besta... Parabéns professores!

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    1. Obrigado, Lilian! É muito gratificante esse tipo de comentário, qualquer sugestão ou dúvida pode nos encaminhar, nosso email para contanto é progebufpb@gmail.com.

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