Semana de 30 de abril a 06 de maio de 2018
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Poderíamos utilizar esse espaço para falarmos do
governo Temer, que, em pouco menos de dois anos, já tem o maior número de vetos
derrubados pelo congresso desde a redemocratização (total de 15). Poderíamos
também falar da sua genial afirmação, de que o desemprego não se elevou, mas
“aumentou o número dos que procuram emprego”. Contudo, o assunto mais quente e
que atualmente já aterroriza nossa “hermana” Argentina é o arrocho na política
monetária do Banco Central dos EUA (Fed).
As economias nacionais, como partes, se desenvolvem
de maneira desigual, mas estas desigualdades se combinam formando a economia
mundial, como totalidade. Cada integrante do mercado mundial ocupa uma posição
diferenciada naquilo que se chama de divisão internacional do trabalho. Os
capitais das economias mais avançadas, aquelas onde se desenvolvem novas
tecnologias, máquinas, equipamentos, etc., se inserem nos estratos mais
elevados desta hierarquia. Contudo, existem as atrasadas, onde os capitais
locais não têm condições de dinamizar a atividade econômica através de suas
forças internas. Por isso, elas dependem das primeiras para poderem funcionar a
pleno vapor.
Foi assim, por exemplo, que Brasil, México e
Argentina se industrializaram no século passado. Por serem atrasadas, estas
economias usaram recursos externos para diversos fins, sejam estes produtivos,
tecnológicos, financeiros ou apenas para consumo final. E foi justamente isso
as que tornou tão vulneráveis às variações no dólar.
A questão fundamental é que, como em qualquer
iniciativa capitalista, os empreendimentos nas economias dependentes precisam
oferecer retorno aos empresários que ali decidem investir ou especular. Como a
especulação, tem maior influência sobre o câmbio dos países que adotam a “livre”
flutuação, quando os EUA elevam (mesmo que em apenas 0,25%) sua taxa básica de
juros, os especuladores decidem tirar seu dinheiro das aplicações menos seguras
(em países atrasados) para colocar naquela que é considerada uma das aplicações
mais seguras do mundo: os títulos do tesouro americano. Como os EUA só aceitam
dólares em suas negociações, mais moeda estadunidense será procurada nos
mercados cambiais (para que se possam comprar os referidos títulos), elevando,
portanto, o preço de compra do dólar.
Assim, dois problemas se manifestam (às vezes,
simultaneamente). Primeiro isto afeta negativamente o balanço de pagamentos
(registro de todas as transações entre um país e o resto do mundo), que tende a
apresentar déficits e diminuir a quantidade de poupança externa disponível para
investimento e aplicação no país (o que cria problemas ao funcionamento
“normal” da economia dependente). Segundo, o movimento de capitais para os EUA,
ao encarecer o câmbio, eleva diretamente os preços de tudo aquilo que é comprado
em moeda estrangera, gerando, assim, inflação. Este é o carma das economias
dependentes, incluindo-se os países da América Latina.
Uma das formas de se impedir a fuga de capitais é
através da elevação da taxa básica de juros, pois isto poderia fazer com que os
aplicadores preferissem manter o dinheiro onde está mesmo com a elevação dos
juros pelo Fed. Esta é a estratégia utilizada, sem sucesso, pelo presidente
argentino Mauricio Macri, que nas últimas semanas elevou a taxa básica de juros
do país para 40%, a maior do mundo. Seu objetivo era conter tanto a
desvalorização de 8% do peso em uma semana (devido à fuga de capitais), quanto
a inflação prevista em mais de 20% para 2018.
No Brasil, a Selic está em 6,5% desde o dia 22 de
março, o que, teoricamente, daria grande margem de manobra ao Banco Central do
Brasil para tentar conter a escalada do dólar (isto já foi feito em outras
épocas). Soma-se a isso os US$ 381 bilhões que este banco tem em reservas
prontas para qualquer intervenção (isto ainda não foi feito).
A questão que se apresenta, então é: isto será
suficiente?
Não, pois no horizonte próximo (nem mesmo
longínquo), não há sinais de que o Brasil irá superar sua condição de atraso e
apresentar maior resistência frente a estes movimentos de capitais.
[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: lucasmilanez@gmail.com
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