Semana de 18 a 26 de junho de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Um furacão arrasa o mundo: o furacão Trump.
Não é por outro motivo que o presidente dos Estados Unidos da América (EUA) foi
o protagonista das mais importantes notícias da semana. Parece que o presidente
Trump está disposto a tocar fogo no mundo. É imprevisível e impossível prever o
que ele fará no momento seguinte. Se alguém quisesse fazer um plano para criar
conflitos e desestabilizar o planeta dificilmente conseguiria fazer melhor.
No campo político, Trump transferiu a embaixada
dos EUA para Jerusalém contrariando o acordo existente e provocando protestos
de quase todos os países do mundo com exceção de Israel e alguns fieis aliados.
A consequência foi a desestabilização da paz nos países árabes, com protestos
até da Arábia Saudita fiel aliada dos americanos e da Turquia além de
manifestações por toda parte com fortes repercussões no mercado do petróleo.
Não satisfeito Trump retirou-se do acordo
sobre a produção de armas atômicas no Irã voltando a restabelecer as medidas de
bloqueio econômico ao país, para desgosto das empresas que estão fazendo
investimentos lá e dos governos que se beneficiam com o petróleo iraniano. Ao
mesmo tempo continua a apoiar e estimular os ataques de Israel à Síria e ao
Líbano. Investindo em outra direção Trump decidiu retirar os EUA do Conselho de
Direitos Humanos da ONU, conselho que tantas vezes ele utilizou para atacar
países como China, Venezuela, Cuba, Coréia do Norte, etc.
Passando ao campo econômico Trump resolveu
voltar-se contra a China deflagrando uma guerra comercial de tarifas que se
estendeu ao Canadá, México, União Europeia (UE), Índia e sobrando para o
Brasil. Estes países estão retaliando e a guerra comercial está deflagrada. A
guerra comercial já está tendo consequências nas previsões de crescimento de
diferentes países. Para a Alemanha, as estimativas para o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) caíram de 2,6% para 1,8% neste ano. O PIB da França
deverá cair para 1,7%, depois de ter crescido 2,3% em 2017. A Rússia também foi
atingida pela elevação das tarifas e já anunciou que dotará represálias.
Além das consequências imediatas para o
comércio mundial, teme-se que isto possa romper as cadeias de suprimentos que
alimentam os setores tecnológicos e automobilísticos.
Evidentemente a instabilidade tem provocado
grandes flutuações nas principais bolsas de valores do mundo e queda no valor
das ações. A onda de Sell-off (venda generalizada) derrubou os preços das ações
de grandes empresas como a Boeing, Caterpillar, Volkswagen, Thyssen-Krupp, etc.
Outra fonte de preocupações para os
chamados “países emergentes” é a nova política do Federal Reserve (Fed.), o
banco central dos EUA. Considerando que a economia americana está em
recuperação (o PIB deve crescer entre 3% e 4%), que o desemprego está baixo e
que a inflação caminha para a meta de 2%, o Fed resolveu suspender a compra de
títulos e aumentar os juros pelo menos 3 vezes até o fim do ano.
Estes acontecimentos podem ter grandes
repercussões na economia interna no Brasil e os efeitos já estão sendo
sentidos. São bons exemplos para isto a crise dos caminhoneiros e a valorização
do dólar, que tende a continuar e tem obrigado o nosso BC a intervir no mercado
vendendo parte das nossas reservas.
Temos constatado que, após chegar ao fundo
do poço, a economia brasileira iniciou sua fase de recuperação cíclica que,
lamentavelmente, todos consideram lenta e instável. A última reunião do
Conselho de Política Econômica (Copom) do Banco Central confirmou esta
percepção e, por unanimidade, manteve a taxa básica de juros Selic em 6,5%. O
Copom expressou preocupação com as repercussões das instabilidades externas
para a recuperação da economia e a inflação considerada ainda no centro da
meta. Na verdade, indicadores antecedentes confirmam essa preocupação.
Acrescente-se a isto a indefinição do quadro eleitoral e o crescimento das
denúncias que atingem o governo e podemos desconfiar que o furacão pode atingir
nossas praias e abortar nossa frágil e lenta recuperação.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).