Semana de 04 a 10 de junho de 2018
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
A economia brasileira continua a patinar em sua
“recuperação consistente”. Estatísticas referentes ao período anterior à greve
dos caminhoneiros continuam a dar conta da fragilidade econômica brasileira.
O Indicador Antecedente de Emprego medido pela
Fundação Getúlio Vargas, que foi levantado até a data de 23 de maio, caiu 2,5
pontos em maio, na comparação com abril. Esta é a terceira queda consecutiva do
índice que sonda indústrias, empresas de serviços e consumidores.
O Indicador Coincidente de Desemprego aumentou 2,3
pontos entre abril e maio. mas, segundo o responsável pela pesquisa, ainda é
cedo para assegurar que a trajetória de lenta recuperação foi rompida.
O setor da construção civil continua a agonizar.
Segundo dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção 2016, realizada pelo
IBGE, o setor demitiu, entre 2015 e 2016, aproximadamente 430 mil
trabalhadores. O número de empresas foi reduzido em 3.972 e houve queda de R$
55,3 bilhões no valor de incorporações, obras e serviços.
E quanto aos efeitos da greve dos caminhoneiros,
números preliminares mostram que o segundo trimestre do setor industrial foi
comprometido. Analistas ouvidos pelo Jornal Valor Econômico preveem queda média
de 13% da produção industrial de maio e afirmam que os efeitos negativos se
estenderão até junho.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea), comunicou que o setor deixou de fabricar entre 70 e 80
mil unidades durante a greve dos caminhoneiros. Em maio, quando comparada a
abril, a produção de veículos caiu 20,2% e as vendas no mercado interno
despencaram 7,1%.
E a série de reduções das projeções para o
crescimento deste ano continua. Incorporados os feitos da greve dos
caminhoneiros e o pífio resultado do PIB no primeiro trimestre, o J.P. Morgan
cortou sua previsão de 2,4% para 1,2%. A Oxford Economics reduziu de 1,9% para
1,6% e a A.C. Pastore & Associados concorda que a expansão será menor que
2%. A mediana das estimativas do Boletim Focus do Banco Central (BC) caiu de
2,37% para 2,18%.
Por outro lado, a pauta dos caminhoneiros ainda não
foi totalmente atendida, pois o governo Temer continua a fazer lambanças. A
prometida queda de R$ 0,46 no preço do óleo diesel ainda não chegou às bombas
na maior parte do país. Além disso, a promessa opôs os interesses dos
caminhoneiros ao dos donos de postos de combustíveis, que argumentam estar no
“livre mercado” e, portanto, livres para determinar seus próprios preços.
A questão do frete mínimo também não foi
solucionada, pois, o governo esqueceu, de novo, que além dos caminhoneiros
outros atores estavam envolvidos. Diversas associações de produtores se puseram
a bradar para não arcar com os prejuízos. O governo recuou duas vezes: a
primeira revoltou o agronegócio e a segunda não atendeu os caminhoneiros. No
momento, vale a primeira edição, e com isto, brotam ações de
inconstitucionalidade. A Associação dos Transportadores Rodoviários (ATR)
ingressou com uma ação e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pretende
fazer o mesmo.
O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), que faz parte da
base do governo e atende aos anseios da bancada ruralista, apresentou uma
emenda à medida provisória 832/2018 que trata do assunto, recomendando que o
tabelamento de fretes seja facultativo servindo apenas de “referência” para a
cobrança.
Portanto, o impasse está criado e enquanto uma
terceira tabela de preços não é definida, os embarques de mercadorias estão
sendo represados. Segundo a Associação Nacional de Exportadores de Cereais
(Anec) há 10 milhões de toneladas de grãos vendidas, mas paradas e 50 navios de
soja à espera do embarque.
Diante deste quadro, não precisamos fazer muito
esforço para saber quem pagará a conta.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
0 comentários:
Postar um comentário