quarta-feira, 13 de junho de 2018

Alguém terá que pagar a conta


Semana de 04 a 10 de junho de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

A economia brasileira continua a patinar em sua “recuperação consistente”. Estatísticas referentes ao período anterior à greve dos caminhoneiros continuam a dar conta da fragilidade econômica brasileira.
O Indicador Antecedente de Emprego medido pela Fundação Getúlio Vargas, que foi levantado até a data de 23 de maio, caiu 2,5 pontos em maio, na comparação com abril. Esta é a terceira queda consecutiva do índice que sonda indústrias, empresas de serviços e consumidores.
O Indicador Coincidente de Desemprego aumentou 2,3 pontos entre abril e maio. mas, segundo o responsável pela pesquisa, ainda é cedo para assegurar que a trajetória de lenta recuperação foi rompida.
O setor da construção civil continua a agonizar. Segundo dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção 2016, realizada pelo IBGE, o setor demitiu, entre 2015 e 2016, aproximadamente 430 mil trabalhadores. O número de empresas foi reduzido em 3.972 e houve queda de R$ 55,3 bilhões no valor de incorporações, obras e serviços.
E quanto aos efeitos da greve dos caminhoneiros, números preliminares mostram que o segundo trimestre do setor industrial foi comprometido. Analistas ouvidos pelo Jornal Valor Econômico preveem queda média de 13% da produção industrial de maio e afirmam que os efeitos negativos se estenderão até junho.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), comunicou que o setor deixou de fabricar entre 70 e 80 mil unidades durante a greve dos caminhoneiros. Em maio, quando comparada a abril, a produção de veículos caiu 20,2% e as vendas no mercado interno despencaram 7,1%.
E a série de reduções das projeções para o crescimento deste ano continua. Incorporados os feitos da greve dos caminhoneiros e o pífio resultado do PIB no primeiro trimestre, o J.P. Morgan cortou sua previsão de 2,4% para 1,2%. A Oxford Economics reduziu de 1,9% para 1,6% e a A.C. Pastore & Associados concorda que a expansão será menor que 2%. A mediana das estimativas do Boletim Focus do Banco Central (BC) caiu de 2,37% para 2,18%.
Por outro lado, a pauta dos caminhoneiros ainda não foi totalmente atendida, pois o governo Temer continua a fazer lambanças. A prometida queda de R$ 0,46 no preço do óleo diesel ainda não chegou às bombas na maior parte do país. Além disso, a promessa opôs os interesses dos caminhoneiros ao dos donos de postos de combustíveis, que argumentam estar no “livre mercado” e, portanto, livres para determinar seus próprios preços.
A questão do frete mínimo também não foi solucionada, pois, o governo esqueceu, de novo, que além dos caminhoneiros outros atores estavam envolvidos. Diversas associações de produtores se puseram a bradar para não arcar com os prejuízos. O governo recuou duas vezes: a primeira revoltou o agronegócio e a segunda não atendeu os caminhoneiros. No momento, vale a primeira edição, e com isto, brotam ações de inconstitucionalidade. A Associação dos Transportadores Rodoviários (ATR) ingressou com uma ação e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pretende fazer o mesmo.
O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), que faz parte da base do governo e atende aos anseios da bancada ruralista, apresentou uma emenda à medida provisória 832/2018 que trata do assunto, recomendando que o tabelamento de fretes seja facultativo servindo apenas de “referência” para a cobrança.
Portanto, o impasse está criado e enquanto uma terceira tabela de preços não é definida, os embarques de mercadorias estão sendo represados. Segundo a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) há 10 milhões de toneladas de grãos vendidas, mas paradas e 50 navios de soja à espera do embarque.
Diante deste quadro, não precisamos fazer muito esforço para saber quem pagará a conta.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog