quinta-feira, 21 de junho de 2018

Começou a Copa, será que agora vai?


Semana de 11 a 17 de junho de 2017

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Depois do famigerado “Mineiraço”, ocasião onde o Brasil perdeu para Alemanha por 7 a 1, os brasileiros parecem não depositar lá muita confiança na seleção canarinho nesta Copa do Mundo. E olhem que o técnico Tite, tido como o salvador da pátria, muito fez para levantar o moral do time. Ademais, creio eu, parte desta apatia é resultado da situação político-econômica do país. De 2014 pra cá, do ponto de vista social, a situação só piorou para a maior parte da população. Além disso, pouca coisa mudou na economia.
Quem não se lembra das manifestações pré-Copa do passado? Apesar de tudo, teve Copa. Numa tentativa desesperada de manter sua governabilidade e legitimidade diante das classes dominantes, Dilma Rousseff resolveu adotar uma política econômica fortemente restritiva. O tiro saiu pela culatra pois esta política aprofundou ainda mais o movimento cíclico de crise que se aproximava. A política foi mantida até outro momento vergonhoso da nossa história, o Golpe Parlamentar de 2016.
Este serviu, tal como prometido na “Ponte para o Futuro”, para que fosse retomada a agenda de contrarreformas neoliberais. Algumas (ainda) não passaram, como a da Previdência, mas outras já estão a pleno vapor. Por exemplo, a Emenda Constitucional 95 que limita, durante 20 anos, o crescimento dos gastos públicos ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, ou seja, não haverá crescimento real das despesas básicas para o funcionamento dos serviços estatais. Pergunto ao caro leitor se você conhece uma única pessoa que esteja satisfeita com a educação ou a saúde pública no Brasil, hoje. Pois bem, tal forma de reajuste desconsidera, por exemplo, o crescimento populacional. Se hoje muitos serviços públicos, com 207 milhões de habitantes, já são deploráveis, imagina o que irá acontecer em 2030, quando, segundo o IBGE, a população brasileira será de 223 milhões de pessoas. Poderíamos, continuar a tecer comentários sobre outras mudanças de cunho social, como a (contra)Reforma Trabalhista, a redução da verba para o Bolsa Família, etc. Mas isto nos impediria de falar da conjuntura econômica atual.
A temática da taxa de câmbio brasileira não é nova na presente coluna. Já foi mostrado o porquê de tanta preocupação: o país depende do setor externo para manter grande parte da dinâmica econômica interna. Se o dólar fica mais caro, grande parte da atividade econômica no curto prazo é negativamente afetada. E esta é a tendência atual.
Ainda no âmbito externo, além dos EUA, a União Europeia resolveu pôr fim, até dezembro de 2018, ao seu programa de salvação das empresas financeiras, que, ao todo, soma 2,4 trilhões de euros em compras de “ativos podres” pelo Banco Central Europeu. Dentre outros indicadores, esta interrupção resulta do crescimento de 2,3% da Zona do Euro. Contudo, para 2018, a expansão já vem perdendo força. De uma previsão inicial de crescimento de 2,4% do PIB, agora espera-se que a região cresça 2,1%.
Na China, maior parceira comercial do Brasil desde os primeiros anos da década de 2010, a situação é ainda pior. Em maio de 2018, o aumento nos investimentos chineses foi o menor dos últimos 22 anos. Além do crescimento abaixo do esperado para a produção industrial e para as vendas no varejo, a inadimplência das empresas do país tem crescido de maneira alarmante, indicando que a solvência destas pode estar comprometida.
Mas nem tudo são espinhos.  No Brasil, o varejo restrito (que não inclui veículos e materiais de construção) e os serviços em geral cresceram 1% entre março e abril de 2018, sendo o crescimento dos serviços de transporte de 4,4%. Com isso, o IBC-BR, que é uma “prévia” mensal do PIB, apresentou crescimento 0,46%. Este crescimento, contudo, deve ser ofuscado pela greve dos caminhoneiros de maio.
Como boa parte dos brasileiros, minha esperança é que as coisas melhorem, tanto aqui quanto lá na Rússia. O primeiro jogo da seleção, contra a Suíça, mostrou que “jogo é jogo, treino é treino”. Sei que no âmbito político-econômico será difícil arrumarmos um Tite. Mas também não podemos crer na existência de um super-herói salvador da pátria.
 Resta-nos pagar para ver, se daqui a quatro anos teremos andado para trás ou se iremos rumo ao hepta, no futebol e na situação político-econômica.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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