quarta-feira, 27 de junho de 2018

O furacão Trump


Semana de 18 a 26 de junho de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Um furacão arrasa o mundo: o furacão Trump. Não é por outro motivo que o presidente dos Estados Unidos da América (EUA) foi o protagonista das mais importantes notícias da semana. Parece que o presidente Trump está disposto a tocar fogo no mundo. É imprevisível e impossível prever o que ele fará no momento seguinte. Se alguém quisesse fazer um plano para criar conflitos e desestabilizar o planeta dificilmente conseguiria fazer melhor.
No campo político, Trump transferiu a embaixada dos EUA para Jerusalém contrariando o acordo existente e provocando protestos de quase todos os países do mundo com exceção de Israel e alguns fieis aliados. A consequência foi a desestabilização da paz nos países árabes, com protestos até da Arábia Saudita fiel aliada dos americanos e da Turquia além de manifestações por toda parte com fortes repercussões no mercado do petróleo.
Não satisfeito Trump retirou-se do acordo sobre a produção de armas atômicas no Irã voltando a restabelecer as medidas de bloqueio econômico ao país, para desgosto das empresas que estão fazendo investimentos lá e dos governos que se beneficiam com o petróleo iraniano. Ao mesmo tempo continua a apoiar e estimular os ataques de Israel à Síria e ao Líbano. Investindo em outra direção Trump decidiu retirar os EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU, conselho que tantas vezes ele utilizou para atacar países como China, Venezuela, Cuba, Coréia do Norte, etc.
Passando ao campo econômico Trump resolveu voltar-se contra a China deflagrando uma guerra comercial de tarifas que se estendeu ao Canadá, México, União Europeia (UE), Índia e sobrando para o Brasil. Estes países estão retaliando e a guerra comercial está deflagrada. A guerra comercial já está tendo consequências nas previsões de crescimento de diferentes países. Para a Alemanha, as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caíram de 2,6% para 1,8% neste ano. O PIB da França deverá cair para 1,7%, depois de ter crescido 2,3% em 2017. A Rússia também foi atingida pela elevação das tarifas e já anunciou que dotará represálias.
Além das consequências imediatas para o comércio mundial, teme-se que isto possa romper as cadeias de suprimentos que alimentam os setores tecnológicos e automobilísticos.
Evidentemente a instabilidade tem provocado grandes flutuações nas principais bolsas de valores do mundo e queda no valor das ações. A onda de Sell-off (venda generalizada) derrubou os preços das ações de grandes empresas como a Boeing, Caterpillar, Volkswagen, Thyssen-Krupp, etc.
Outra fonte de preocupações para os chamados “países emergentes” é a nova política do Federal Reserve (Fed.), o banco central dos EUA. Considerando que a economia americana está em recuperação (o PIB deve crescer entre 3% e 4%), que o desemprego está baixo e que a inflação caminha para a meta de 2%, o Fed resolveu suspender a compra de títulos e aumentar os juros pelo menos 3 vezes até o fim do ano.
Estes acontecimentos podem ter grandes repercussões na economia interna no Brasil e os efeitos já estão sendo sentidos. São bons exemplos para isto a crise dos caminhoneiros e a valorização do dólar, que tende a continuar e tem obrigado o nosso BC a intervir no mercado vendendo parte das nossas reservas.
Temos constatado que, após chegar ao fundo do poço, a economia brasileira iniciou sua fase de recuperação cíclica que, lamentavelmente, todos consideram lenta e instável. A última reunião do Conselho de Política Econômica (Copom) do Banco Central confirmou esta percepção e, por unanimidade, manteve a taxa básica de juros Selic em 6,5%. O Copom expressou preocupação com as repercussões das instabilidades externas para a recuperação da economia e a inflação considerada ainda no centro da meta. Na verdade, indicadores antecedentes confirmam essa preocupação. Acrescente-se a isto a indefinição do quadro eleitoral e o crescimento das denúncias que atingem o governo e podemos desconfiar que o furacão pode atingir nossas praias e abortar nossa frágil e lenta recuperação.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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