Semana de 28 de maio a 03 de junho de 2018
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
A queda do Parente (do capeta) foi uma boa notícia
após a tempestade que passou pelo país nas últimas semanas. Se, por um lado,
isto não representa nenhuma garantia de que a Petrobrás estará mais disposta a
agradar aos brasileiros do que aos seus acionistas, por outro indica uma
mudança na suicida política de preços. Passado o furor do movimento de greve
dos caminhoneiros, as coisas voltaram ao normal no Brasil, pero no mucho.
Como é comum no dia a dia dos analistas de mercado,
as expectativas para o crescimento da atividade econômica brasileira começaram
a retratar melhor nossa realidade: de uma estimativa de crescimento de 2,69% no
primeiro Boletim Focus divulgado pelo Banco Central do Brasil este ano, em 05
de janeiro, passando para 2,90% no relatório de 2 de março, a previsão de
crescimento do PIB nacional em 2018 caiu para 2,18% em 01 de junho.
Contudo, essa ainda é uma previsão otimista. Segundo
uma pesquisa feita com 16 instituições financeiras e consultorias, o ValorPro
estimou uma média de crescimento de 1,86% na economia, em 2018. A J.P. Morgan
foi ainda mais longe, prevendo um crescimento de apenas 1,2%. No geral, como
afirma Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, a elevação do PIB de 2018
poderá ser “significativamente inferior a 2%”. E olhe que, segundo a 4E
Consultoria, o impacto negativo da greve dos caminhoneiros sobre o PIB deve ser
de apenas 0,45 pontos percentuais. Ou seja, não adiantaria culpar os
transportadores pelo fracasso.
Mas, o que estaria por trás dessa situação? A
resposta vem de duas fontes interconectadas: a economia nacional e a
internacional. No âmbito internacional, está o movimento especulativo que os
EUA estão causando, seja com a mudança na taxa básica de juros, seja com os
devaneios do atual presidente. A situação mais crítica, porém está, de fato, no
interior da economia brasileira.
Não é objetivo no governo ilegítimo do presidente
Michel Temer, nem jamais foi, utilizar o Estado para estimular a atividade
econômica, com a rara exceção do fomento ao consumo trazido pela liberação do
FGTS inativo, em 2017. Desde sempre, o maior desejo do vampiro foi oferecer
ativos nacionais importantes para que outros pudessem sugar (vide os projetos
de privatização de estatais e reformas que foram propostos e aprovados). Além
disso, a escolha do agora pré-candidato do MDB à Presidência, Henrique
Meirelles, significou um alento ao “mercado” e a garantia da máxima austeridade
no orçamento público, o que está sendo seguido pelo sucessor, Eduardo Guardia.
E isto já apresentou resultados para o PIB de 2018.
O consumo da administração pública caiu 0,4%, na
comparação entre o primeiro trimestre de 2018 e os últimos 3 meses de 2017. Por
sua vez, o consumo das famílias cresceu 0,5% nesta mesma comparação. A formação
bruta de capital fixo, que havia crescido 2,1% nos últimos 3 meses de 2017,
cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2018. Juntando-se a isso os resultados
das exportações (que cresceram 1,3% no primeiro trimestre desse ano) e das importações
(expansão de 2,5%), o resultado foi um pífio crescimento de 0,4% do PIB
nacional, nos três primeiros meses de 2018.
Sob a ótica da produção, os setores que mais
sofreram foram os que têm maior potencial de ramificação dos efeitos do
crescimento: a indústria de transformação e a construção civil, que,
respectivamente, produziram resultados negativos de -0,4% e -0,6% nos três
primeiros meses de 2018, quando comparado com último trimestre de 2017. No
total, a indústria apresentou um fraco crescimento de 0,1% na mesma comparação,
crescimento igual ao setor de serviços. Já a agropecuária contribuiu
positivamente, crescendo 1,4%.
Diante da atual conjuntura político-econômica,
talvez tenhamos uma coisa para comemorar: as eleições de outubro. Quem sabe a
impopularidade de Temer não se traduza em repulsa a este modelo.
Cabe ao povo eleger que governo eles querem para seu
futuro.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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