quarta-feira, 6 de junho de 2018

O pós-greve e o futuro



Semana de 28 de maio a 03 de junho de 2018

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

A queda do Parente (do capeta) foi uma boa notícia após a tempestade que passou pelo país nas últimas semanas. Se, por um lado, isto não representa nenhuma garantia de que a Petrobrás estará mais disposta a agradar aos brasileiros do que aos seus acionistas, por outro indica uma mudança na suicida política de preços. Passado o furor do movimento de greve dos caminhoneiros, as coisas voltaram ao normal no Brasil, pero no mucho.
Como é comum no dia a dia dos analistas de mercado, as expectativas para o crescimento da atividade econômica brasileira começaram a retratar melhor nossa realidade: de uma estimativa de crescimento de 2,69% no primeiro Boletim Focus divulgado pelo Banco Central do Brasil este ano, em 05 de janeiro, passando para 2,90% no relatório de 2 de março, a previsão de crescimento do PIB nacional em 2018 caiu para 2,18% em 01 de junho.
Contudo, essa ainda é uma previsão otimista. Segundo uma pesquisa feita com 16 instituições financeiras e consultorias, o ValorPro estimou uma média de crescimento de 1,86% na economia, em 2018. A J.P. Morgan foi ainda mais longe, prevendo um crescimento de apenas 1,2%. No geral, como afirma Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, a elevação do PIB de 2018 poderá ser “significativamente inferior a 2%”. E olhe que, segundo a 4E Consultoria, o impacto negativo da greve dos caminhoneiros sobre o PIB deve ser de apenas 0,45 pontos percentuais. Ou seja, não adiantaria culpar os transportadores pelo fracasso.
Mas, o que estaria por trás dessa situação? A resposta vem de duas fontes interconectadas: a economia nacional e a internacional. No âmbito internacional, está o movimento especulativo que os EUA estão causando, seja com a mudança na taxa básica de juros, seja com os devaneios do atual presidente. A situação mais crítica, porém está, de fato, no interior da economia brasileira.
Não é objetivo no governo ilegítimo do presidente Michel Temer, nem jamais foi, utilizar o Estado para estimular a atividade econômica, com a rara exceção do fomento ao consumo trazido pela liberação do FGTS inativo, em 2017. Desde sempre, o maior desejo do vampiro foi oferecer ativos nacionais importantes para que outros pudessem sugar (vide os projetos de privatização de estatais e reformas que foram propostos e aprovados). Além disso, a escolha do agora pré-candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, significou um alento ao “mercado” e a garantia da máxima austeridade no orçamento público, o que está sendo seguido pelo sucessor, Eduardo Guardia. E isto já apresentou resultados para o PIB de 2018.
O consumo da administração pública caiu 0,4%, na comparação entre o primeiro trimestre de 2018 e os últimos 3 meses de 2017. Por sua vez, o consumo das famílias cresceu 0,5% nesta mesma comparação. A formação bruta de capital fixo, que havia crescido 2,1% nos últimos 3 meses de 2017, cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2018. Juntando-se a isso os resultados das exportações (que cresceram 1,3% no primeiro trimestre desse ano) e das importações (expansão de 2,5%), o resultado foi um pífio crescimento de 0,4% do PIB nacional, nos três primeiros meses de 2018.
Sob a ótica da produção, os setores que mais sofreram foram os que têm maior potencial de ramificação dos efeitos do crescimento: a indústria de transformação e a construção civil, que, respectivamente, produziram resultados negativos de -0,4% e -0,6% nos três primeiros meses de 2018, quando comparado com último trimestre de 2017. No total, a indústria apresentou um fraco crescimento de 0,1% na mesma comparação, crescimento igual ao setor de serviços. Já a agropecuária contribuiu positivamente, crescendo 1,4%.
Diante da atual conjuntura político-econômica, talvez tenhamos uma coisa para comemorar: as eleições de outubro. Quem sabe a impopularidade de Temer não se traduza em repulsa a este modelo.
Cabe ao povo eleger que governo eles querem para seu futuro.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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