Semana de 16 a 22 de julho de 2018
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Mesmo sem apresentar taxas exuberantes de
crescimento, a economia mundial se recuperou da crise iniciada em 2008. Em
2009, o Brasil foi atingido por ela e, em 2010, com a ajuda de políticas
expansionistas, uma recuperação foi ensaiada. Mas, nos anos de 2012 e 2014
fomos lançados à lona novamente e de lá só saímos em 2017. Mas, o festejado
crescimento de 1% do PIB no ano passado, se deu em virtude da supersafra da
agricultura. O “novo” governo, aliviado, prometeu crescimento de 3% para 2018.
Ponhamos os pingos nos “is”. Desde o início do ano
que as estatísticas mensais evidenciavam a trajetória errática do crescimento
interno. Veja-se, por exemplo, a prévia do PIB fornecida pelo IBC-Br e
calculada pelo Banco Central. Nos primeiros quatro meses do ano (antes da greve
dos caminhoneiros), os resultados daquele indicador foram de -0,52%, 0,3%,
-0,77% e 0,5%, resultando no saldo negativo de 0,13% no primeiro trimestre se
já não vínhamos bem, em maio, mês em que ocorreu a greve dos caminhoneiros, a atividade
industrial caiu 10,9% e o IBC-Br caiu 3,34%.
No dia 18 de junho, o ministro da Fazenda, Eduardo
Guardia, garantiu que os impactos da greve dos caminhoneiros na economia seriam
transitórios. Mas, um mês depois, a Confederação Nacional da Indústria (CNI)
constatou que as “expectativas dos empresários para os próximos meses, que já
estavam em trajetória de queda, pioraram.” Segundo a CNI, os efeitos “não serão
apenas pontuais e transitórios” e o tabelamento do frete pode inviabilizar a
produção de setores como o alimentício e o de construção. A Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) calculou leve alta de
0,6 ponto no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) entre junho e
julho e queda de 4,3% no Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec).
Como não há sinais de melhora na economia, há uma
tendência de piora dos indicadores econômicos para os próximos meses
independentemente da ocorrência da greve. E não é difícil entender o porquê.
Todos os remédios prescritos pelo governo para recuperar a atividade funcionam
como purgantes. A definição de um teto para os gastos públicos, por um lado,
não impediu a gastança e, por outro, reduziu consideravelmente os investimentos
públicos. Em 2017, a queda dos investimentos foi de 29,5% em relação a 2016 e
de 10,5%, apenas no primeiro bimestre deste ano, segundo dados da Agência
Contas Abertas.
A Reforma Trabalhista, que transfere as negociações
para o mercado, como já era esperado, não gerou os empregos que prometeu. No segundo
trimestre de 2018, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
Contínua do IBGE, apurou uma taxa de desemprego de 12,7%, o que significa que
ainda há no país, 13,2 milhões de trabalhadores desempregados.
Como o poder de compra da população continua
reduzido, as empresas não têm perspectiva de aumento das vendas e, logicamente,
não estão usando o crédito para investir. Segundo a Serasa Experian, a procura
por financiamentos caiu 1,4%, em junho, em relação a maio. E mesmo que as
empresas quisessem usar uma fonte de financiamento mais barata, não a teria,
pois, o governo de forma deliberada, está destruindo o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este banco somou esforços para
conter a dívida bruta do governo e vai liquidar a devolução dos R$ 130 bilhões,
requeridos pelo Tesouro Nacional, em agosto, pagando os R$ 70 bilhões que
restam. Além disso, vai antecipar em 20 anos, o cronograma de pagamento de
dívidas com o governo federal no total de R$ 250 bilhões. O BNDES pretende
também reduzir a capacidade anual de empréstimos (que já alcançou 3,75% do
PIB), para uma taxa entre 1% e 1,2% do PIB, entregando ao mercado de capitais,
o financiamento produtivo.
Mais do que os resultados, o que nos assusta é que o
governo e a maioria dos economistas continuam a repetir o mantra de que a
austeridade e as “soluções” do mercado são as únicas saídas. Enquanto isso, a
realidade se impõe, e com ela, a cegueira geral prevalece.
Viva o austericídio e a fábula do equilíbrio de
mercado!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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