quarta-feira, 25 de julho de 2018

Austeridade ameaça aniquilar recuperação econômica


Semana de 16 a 22 de julho de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Mesmo sem apresentar taxas exuberantes de crescimento, a economia mundial se recuperou da crise iniciada em 2008. Em 2009, o Brasil foi atingido por ela e, em 2010, com a ajuda de políticas expansionistas, uma recuperação foi ensaiada. Mas, nos anos de 2012 e 2014 fomos lançados à lona novamente e de lá só saímos em 2017. Mas, o festejado crescimento de 1% do PIB no ano passado, se deu em virtude da supersafra da agricultura. O “novo” governo, aliviado, prometeu crescimento de 3% para 2018.
Ponhamos os pingos nos “is”. Desde o início do ano que as estatísticas mensais evidenciavam a trajetória errática do crescimento interno. Veja-se, por exemplo, a prévia do PIB fornecida pelo IBC-Br e calculada pelo Banco Central. Nos primeiros quatro meses do ano (antes da greve dos caminhoneiros), os resultados daquele indicador foram de -0,52%, 0,3%, -0,77% e 0,5%, resultando no saldo negativo de 0,13% no primeiro trimestre se já não vínhamos bem, em maio, mês em que ocorreu a greve dos caminhoneiros, a atividade industrial caiu 10,9% e o IBC-Br caiu 3,34%.
No dia 18 de junho, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, garantiu que os impactos da greve dos caminhoneiros na economia seriam transitórios. Mas, um mês depois, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) constatou que as “expectativas dos empresários para os próximos meses, que já estavam em trajetória de queda, pioraram.” Segundo a CNI, os efeitos “não serão apenas pontuais e transitórios” e o tabelamento do frete pode inviabilizar a produção de setores como o alimentício e o de construção. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) calculou leve alta de 0,6 ponto no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) entre junho e julho e queda de 4,3% no Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec).
Como não há sinais de melhora na economia, há uma tendência de piora dos indicadores econômicos para os próximos meses independentemente da ocorrência da greve. E não é difícil entender o porquê. Todos os remédios prescritos pelo governo para recuperar a atividade funcionam como purgantes. A definição de um teto para os gastos públicos, por um lado, não impediu a gastança e, por outro, reduziu consideravelmente os investimentos públicos. Em 2017, a queda dos investimentos foi de 29,5% em relação a 2016 e de 10,5%, apenas no primeiro bimestre deste ano, segundo dados da Agência Contas Abertas.
A Reforma Trabalhista, que transfere as negociações para o mercado, como já era esperado, não gerou os empregos que prometeu. No segundo trimestre de 2018, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, apurou uma taxa de desemprego de 12,7%, o que significa que ainda há no país, 13,2 milhões de trabalhadores desempregados.
Como o poder de compra da população continua reduzido, as empresas não têm perspectiva de aumento das vendas e, logicamente, não estão usando o crédito para investir. Segundo a Serasa Experian, a procura por financiamentos caiu 1,4%, em junho, em relação a maio. E mesmo que as empresas quisessem usar uma fonte de financiamento mais barata, não a teria, pois, o governo de forma deliberada, está destruindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este banco somou esforços para conter a dívida bruta do governo e vai liquidar a devolução dos R$ 130 bilhões, requeridos pelo Tesouro Nacional, em agosto, pagando os R$ 70 bilhões que restam. Além disso, vai antecipar em 20 anos, o cronograma de pagamento de dívidas com o governo federal no total de R$ 250 bilhões. O BNDES pretende também reduzir a capacidade anual de empréstimos (que já alcançou 3,75% do PIB), para uma taxa entre 1% e 1,2% do PIB, entregando ao mercado de capitais, o financiamento produtivo.
Mais do que os resultados, o que nos assusta é que o governo e a maioria dos economistas continuam a repetir o mantra de que a austeridade e as “soluções” do mercado são as únicas saídas. Enquanto isso, a realidade se impõe, e com ela, a cegueira geral prevalece.
Viva o austericídio e a fábula do equilíbrio de mercado!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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