quinta-feira, 5 de julho de 2018

O primeiro semestre se foi, mas as incertezas permanecem


Semana de 25 de junho a 01 de julho de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, o cenário global de incertezas continua a se agravar. Enquanto o mundo (o Brasil incluído) teme as ações do “furacão Trump”, a greve dos caminhoneiros contribuiu para ampliar a desaceleração da economia interna. O evento acabou sendo um prato cheio para as desculpas do governo e grande parte dos economistas acaba por apresenta-lo como a causa da desaceleração econômica.
Então, permanece a retórica de que o PIB tombou em maio, mas que melhores horizontes estão por vir. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, apurou, em maio, uma queda de 9% da produção industrial, mas espera que a situação se reverta em junho. A boa perspectiva fica no discurso, pois a instituição continua a prever desaceleração do investimento e do PIB. A taxa de investimento cairá 1,5%, no segundo trimestre. A projeção anual do crescimento foi revisada de 5% para 4% com manutenção do viés de baixa. O aumento do PIB foi revisado de 2,3% para 1,9%, também com viés de baixa.
Ainda segundo a FGV, o Índice de Confiança do Comércio caiu 3 pontos, em maio, e seguirá com viés de baixa, pois não há sinais “mais contundentes” de melhora da atividade econômica. O índice, que foi construído como base nas informações de 1187 empresas, também demonstrou piora tanto na percepção da situação atual, com queda de 2,2 pontos, quanto nas expectativas, com redução de 3,8 pontos.
O Banco Central também revisou para baixo a taxa de crescimento do PIB de 2,6% para 1,6%. Por setores, apurou-se que a indústria avançará apenas 1,6%, em vez de 3,1% inicialmente previsto, os serviços crescerão 1,3% ao invés de 2,4% e a produção agropecuária saiu do campo negativo (-0,3) para o positivo (1,9%). Mas a melhora da agropecuária não será suficiente para reverter a revisão para baixo do PIB e segundo o Banco Central, a nova taxa foi determinada pela greve dos caminhoneiros, pela piora do mercado financeiro e pela divulgação de dados trimestrais decepcionantes.
A instituição detectou também, em seu Relatório de Inflação trimestral, uma desaceleração da produção industrial, que apresentou queda de 0,1%, no trimestre móvel terminado em abril, antes da greve dos caminhoneiros, fato que indica que o arrefecimento da atividade econômica é anterior ao evento de maio. Além disso, o Ministério da Fazenda já havia previsto que o impacto direto gerado pela greve será de apenas 0,2% sobre o PIB anual, mas a revisão feita pelo Banco Central representou uma queda de 1% em relação à previsão anterior.
Outros indicadores para o ano, que sofreram revisão pelo BC, foram: o consumo do governo, reduzido de 0,5% para 0,2%, a alta dos investimentos revisada de 4,1% para 4%, o consumo das famílias que crescerá 2,1% ao invés de 3%. A maior decepção virá da construção civil, que teve o crescimento de 1,5% revertido para uma queda de 0,7%.
Por incrível que pareça, o Banco Central, na pessoa do diretor de Política Econômica Carlos Viana, declarou, na apresentação do Relatório, que “a economia brasileira segue operando com alto nível de ociosidade, mas continua em recuperação gradual”. Do ponto de vista teórico e prático esta é uma afirmação insustentável.
A economia do país continua a padecer e a queda da inflação está ligada à morosidade da atividade. Mesmo assim, o Banco Central resolveu redefinir, com base no resultado presente, a meta de inflação que vigorará a partir de 2021. A meta que atualmente é de 4,5% será de 3,75% e, é claro que o remédio amargo dos juros continuará a ser usado quando este indicador ultrapassar o limite estabelecido.
Temos observado então, que desde o início do ano, tem acontecido revisões para baixo do crescimento econômico anual. Ao final do primeiro semestre a estatística já foi cortada pela metade, o que expõe a fragilidade da nossa recuperação.
 Eleger um bode expiatório para o fato não resolverá o problema. E ao chegarmos à segunda metade do ano, a fragilidade interna estará exposta às loucuras do Trump.
Bons ventos não sopram pras bandas de cá.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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