Semana de 09 a 15 de julho de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Finalmente o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados sobre o desempenho da
indústria no mês de maio, mês da greve dos caminhoneiros. Os números são
arrasadores. A produção industrial teve uma estrondosa queda de 10,9%, em relação
a abril, voltando aos níveis de 15 anos atrás. Foi a pior queda desde 2008. A
produção dos bens de consumo duráveis desabou 27,4%; a dos bens de capital caiu
18,3%; a de bens de consumo semi e não duráveis caiu 12,2% e a de bens
intermediários 5,2%. Dos 26 ramos industriais estudados 24 tiveram queda e em
15 deles esta queda foi de dois dígitos. Segundo o Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi), a queda da indústria de transformação foi de
12,2%.
Passado o susto, em junho, a Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) registrou um
crescimento na produção de veículos de 20,7%, em relação a maio, mas reduziu
suas previsões de expansão, no ano, de 13,2% para 11,9%. O crescimento da
indústria que foi negativo em 2014, 15 e 16 e só em 20017 conseguiu crescer
2,5%, agora, em 2018, os analistas estimam que, com alguma sorte, atingirá este
último valor.
Refletindo o pessimismo, o índice de
confiança da indústria atingiu o menor patamar do ano e o Nível de Utilização
da Capacidade Instalada (Nuci), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV),
teve, em junho, sua primeira queda desde setembro de 2017.
Enquanto o nível de emprego cresce
timidamente, aumenta o medo do desemprego. O indicador deste medo, calculado
pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em junho, subiu 4,2 pontos,
atingindo 67,9 pontos, o maior patamar da série iniciada em 1996.
Mas, não é só na atividade industrial que o
bicho pega. Em maio, o varejo restrito caiu 0,6% e o varejo ampliado (incluindo
veículos e materiais de construção) 4,9%. Na construção civil a situação também
não é animadora. No primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de
2017, em São Paulo, houve uma redução de 45% nos projetos residenciais
apresentados. A venda de cimento, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do
Cimento (SNIC), terá uma queda de 1 a 1,5% no ano. No primeiro trimestre, as
vendas caíram 3%. O presidente do SNIC declarou pessimista: “vivemos um período
de enorme incerteza”.
A difícil situação começa a refletir-se nas
estimativas oficiais. Já se especula que, no relatório bimestral de receitas e
despesas a ser divulgado no dia 22 próximo pelo Ministério da Fazenda, será
reduzida a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano,
de 2,5%, para 1,6%. Em maio a Fazenda havia feito a primeira redução de sua
previsão de 3% para 2,5%. O Banco Central (BC), antecipando-se à Fazenda, já
havia reduzido a sua estimativa para 1,6%.
O futuro, para onde leva a “ponte” do
presidente Temer, parece que é cada vez mais tenebroso. E não representa apenas
a desaceleração da economia e o aborto da recuperação que está começando. As
medidas tomadas pelo programa Rota 2030 para o setor automotivo revela o
descaramento e desmoralização da “equipe dos pesadelos” em sua pretensa
política de austeridade fiscal. A austeridade é só para o povo, para os
empresários não. E os nossos garbosos empresários que clamam pelo estado mínimo
e pela reforma da previdência não têm a menor vergonha na cara de serem
beneficiados com uma renúncia fiscal que deveria atingir no máximo R$1,5
bilhões por ano, durante 15 anos. A pretexto de promover Pesquisa &
Desenvolvimento o governo, através do programa Rota 2030, fará em benefício do setor
automotivo uma renúncia fiscal que atingirá R$2,113 bilhões, em 2019 e R$1,646
bilhões, em 2020. Será um total de R$3,759 bilhões de redução da receita apenas
nos dois primeiros anos.
Considerando-se a tendência para a piora da
situação internacional, diante do agravamento da guerra comercial desencadeada
pelas loucuras do presidente dos EUA Trump, que tem provocado a queda nas
exportações, não teremos boas notícias até a realização das eleições.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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