Nelson Rosas Ribeiro[i]
A recuperação continua em ritmo lento e
instável. Os dados divulgados confirmam a instabilidade enquanto as discussões
alfabéticas continuam: será a saída da crise em V, em U ou em W? Ou será que
teremos um “duplo mergulho” (duble dive)?
Em meio às dúvidas, a Confederação Nacional
da Indústria (CNI) divulgou a sua sondagem industrial. O índice de evolução da
produção industrial, em julho, cresceu de 50,8 pontos para 52,2 pontos. O
índice varia de 0 a 100 e números superiores a 50 indicam crescimento. Mas a
própria CNI informou que o aumento nesta época do ano é usual por razões
sazonais. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) também cresceu de 66% para
68%. No entanto a pesquisa constatou um acúmulo de estoques. O índice de
estoque efetivo passou de 50,4 para 50,8, em julho, e a situação do emprego
industrial manteve-se em 48,5 pontos, abaixo da linha divisória dos 50 pontos o
que indica desemprego. Temos recuperação mas ...
O Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgou dados que mostram uma das razões
para a lentidão da recuperação. No primeiro semestre a balança comercial do
setor manufatureiro apresentou um déficit de US$9,4 bilhões, apesar do câmbio
pouco favorável às importações. Isso mostra que a produção industrial foi
incapaz de atender à demanda interna e as encomendas foram dirigidas para fora.
O Banco Central (BC) divulgou o seu “Índice
de Atividade Econômica do Banco Central” (IBC-Br) que é uma prévia do Produto
Interno Bruto (PIB). No segundo trimestre, este índice apontou um crescimento
de 0,84%. Apesar das dificuldades, as maiores empresas continuaram gerando
lucros elevados. As 257 empresas de capital aberto, não financeiras,
totalizaram um lucro de R$11 bilhões, de abril a junho. Além disso, o Índice de
Confiança da Indústria (ICI) apresentado na Sondagem da Indústria de
Transformação feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou uma queda de 0,8
pontos ficando em 99,3 pontos (abaixo dos 100 indica pessimismo).
O setor bancário, como sempre, manteve sua
lucratividade. A Caixa Econômica Federal (CEF), segundo o Iedi, apresentou
lucro de R$6,7 bilhões e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), com uma folga de caixa, resolveu devolver ao Tesouro mais de R$30
bilhões, completando os R$130 bilhões que deveria devolver até o final do ano.
Aliás, nos últimos 3 anos o BNDES liquidou R$310 bilhões junto ao Tesouro
antecipando em 20 anos seus compromissos com o governo. Aí está o motivo da
redução das atividades do banco de desenvolvimento.
A grande novidade da semana, porém, foi o
disparo do dólar que ultrapassou a barreira dos R$4,00 e na sexta feira dia 24,
atingiu R$4,12. Muitos comentaristas e as classes empresariais apressaram-se a
atribuir a culpa do descontrole à instabilidade política interna que vem
provocando o nervosismo do “mercado”. É mais uma chantagem com o eleitorado. Ou
se elege um candidato comprometido com as reformas da previdência e trabalhista
e com o equilíbrio fiscal ou o país vai para o caos.
A subida de preço do dólar, com a
consequente desvalorização do real, já um prenúncio deste caos. Ficam relegadas
para o segundo plano as causas externas. Apesar das incertezas eleitorais
deixarem o “mercado” nervoso, a situação internacional é a causa determinante
no momento. Por um lado, a política comercial insensata do presidente Trump
deflagrou uma guerra comercial sem precedentes que está desorganizando o
mercado mundial e as cadeias internacionais de valor. Os horizontes da
globalização tornam-se nebulosos. A guerra declarada contra a China envolve a
todos e respinga muito no Brasil e na América Latina. Por outro lado, o
processo de consolidação do auge da economia americana está fazendo que o
Federal Reserve (Fed), BC dos EUA, mude sua política monetária e comece a
elevar os juros dos títulos do país atraindo os capitais espalhados pelo mundo
de volta para os EUA.
Com isso, o “apetite pelo risco” dos
abutres especuladores diminui e eles partem de volta para a pátria aumentando a
demanda por dólares internamente.
A cotação do dólar vai continuar oscilando
com tendência para cima enquanto todos esperam quando o nosso BC começará a
intervir no mercado no jogo da flutuação suja.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).