Semana de 30 de julho a 05 de agosto
de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Passado o susto dos caminhoneiros as coisas
começam a voltar aos seus lugares e o mesmo “ritmo lento” da recuperação vai
sendo retomado, mas a partir de um patamar mais baixo. O ambiente político e as
incertezas dele decorrentes são apontados como os grandes vilões. De fato, o
Indicador de Incerteza da Economia (IIE) calculado pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) subiu 10,1 pontos atingindo 121,1 pontos, o nível mais elevado desde
2017. Acima de 110 pontos considera-se que se chegou à região de “incerteza
elevada”.
Outros índices confirmam a desconfiança dos
agentes econômicos. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), também calculado
pela FGV, que havia caído 4,8 pontos, em junho, subiu 2,1 pontos, em julho, mas
ficou em um total de 84,2 pontos considerado baixo. O Índice Nacional de
Confiança (INC) do consumidor, calculado pela Associação Comercial de São Paulo
(ASCP), apesar de ter subido 3 pontos, em julho, atingiu apenas 77 pontos no
total, igualmente considerado muito baixo.
Outros indicadores econômicos também são
desanimadores. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), no período
maio-junho, subiu 0,8% passando de 75,9 para 76,7. As horas trabalhadas
cresceram 1,3%, mas o emprego caiu 0,2%, e a massa salarial caiu 0,8%, segundo
dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No comércio a Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) apurou uma
queda de 4,4%, em julho.
Do lado do mercado de força de trabalho a
situação é ainda mais grave. A Abit, associação que congrega a indústria têxtil
e de vestuário, divulga as demissões de 5 mil trabalhadores, em abril, 4 mil,
em maio, e 6 mil, em junho. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), pesquisa realizada pela FGV, comprovam que, em maio, a
indústria perdeu 6,4 mil vagas e, em junho, 20,470 mil. Com isto o nível de
emprego, neste mês, voltou aos números de dezembro de 2005. A queda do primeiro
para o segundo trimestre foi de 2,5% o que corresponde a 774 mil pessoas que
passaram à inatividade. O número total de trabalhadores que estão fora do
mercado atinge os 65,6 milhões.
No setor informal, porém, o número de
empregados tem crescido. Os empregadores sem CNPJ aumentaram 51% em dois anos
somando 897 mil pessoas, que representam 21% do total. Os empregados informais,
no primeiro trimestre de 2018, cresceram 1,87 milhões, passando a representar
40,6% do total, de acordo com a Pnad contínua do IBGE.
Até nos sindicatos as demissões são
generalizadas. Dados divulgados pela FGV no Caged apontam 110mil funcionários
até dezembro de 2016. Só nos 12 meses, encerrados em maio de 2018, foram
demitidos 5,9 mil. Mesmo o Dieese, órgão de pesquisa e estatística das centrais
sindicais, dos seus 230 empregados demitiu 90.
Como consequência dessa situação, a
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais
(Anbima) foi mais uma entidade a rever para baixo suas estimativas para o
crescimento do PIB deste ano. Dos 3% inicialmente previstos no início do ano,
reduziu para 2,4%, depois para 1,6% e agora já está em 1,5%, destacando o baixo
dinamismo e a grande ociosidade da economia.
O Conselho de Política Monetária (Copom),
órgão do Banco Central, preocupado com a situação econômica e apesar do perigo
da inflação acelerar, manteve a taxa Selic em 6,5%. Mas, o brioso governo
Temer, firme na execução de sua política de austeridade, ditada pela sua
“equipe dos pesadelos”, segue firme na intenção de manter o teto dos gastos que
ameaça paralisar as pesquisas nas universidades, segundo protesto da Capes, e
provoca o “empoçamento”, nos cofres dos ministérios, das verbas de despesas já
autorizadas e não gastas que já atingem R$12,7 bilhões.
Sem caminhoneiros, quem será o culpado pela
lentidão da recuperação, pela desconfiança dos empresários e pela falta de
investimentos?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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