sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Recuperação depois dos caminhoneiros


Semana de 30 de julho a 05 de agosto de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Passado o susto dos caminhoneiros as coisas começam a voltar aos seus lugares e o mesmo “ritmo lento” da recuperação vai sendo retomado, mas a partir de um patamar mais baixo. O ambiente político e as incertezas dele decorrentes são apontados como os grandes vilões. De fato, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE) calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) subiu 10,1 pontos atingindo 121,1 pontos, o nível mais elevado desde 2017. Acima de 110 pontos considera-se que se chegou à região de “incerteza elevada”.
Outros índices confirmam a desconfiança dos agentes econômicos. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), também calculado pela FGV, que havia caído 4,8 pontos, em junho, subiu 2,1 pontos, em julho, mas ficou em um total de 84,2 pontos considerado baixo. O Índice Nacional de Confiança (INC) do consumidor, calculado pela Associação Comercial de São Paulo (ASCP), apesar de ter subido 3 pontos, em julho, atingiu apenas 77 pontos no total, igualmente considerado muito baixo.
Outros indicadores econômicos também são desanimadores. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), no período maio-junho, subiu 0,8% passando de 75,9 para 76,7. As horas trabalhadas cresceram 1,3%, mas o emprego caiu 0,2%, e a massa salarial caiu 0,8%, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No comércio a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) apurou uma queda de 4,4%, em julho.
Do lado do mercado de força de trabalho a situação é ainda mais grave. A Abit, associação que congrega a indústria têxtil e de vestuário, divulga as demissões de 5 mil trabalhadores, em abril, 4 mil, em maio, e 6 mil, em junho. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), pesquisa realizada pela FGV, comprovam que, em maio, a indústria perdeu 6,4 mil vagas e, em junho, 20,470 mil. Com isto o nível de emprego, neste mês, voltou aos números de dezembro de 2005. A queda do primeiro para o segundo trimestre foi de 2,5% o que corresponde a 774 mil pessoas que passaram à inatividade. O número total de trabalhadores que estão fora do mercado atinge os 65,6 milhões.
No setor informal, porém, o número de empregados tem crescido. Os empregadores sem CNPJ aumentaram 51% em dois anos somando 897 mil pessoas, que representam 21% do total. Os empregados informais, no primeiro trimestre de 2018, cresceram 1,87 milhões, passando a representar 40,6% do total, de acordo com a Pnad contínua do IBGE.
Até nos sindicatos as demissões são generalizadas. Dados divulgados pela FGV no Caged apontam 110mil funcionários até dezembro de 2016. Só nos 12 meses, encerrados em maio de 2018, foram demitidos 5,9 mil. Mesmo o Dieese, órgão de pesquisa e estatística das centrais sindicais, dos seus 230 empregados demitiu 90.
Como consequência dessa situação, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) foi mais uma entidade a rever para baixo suas estimativas para o crescimento do PIB deste ano. Dos 3% inicialmente previstos no início do ano, reduziu para 2,4%, depois para 1,6% e agora já está em 1,5%, destacando o baixo dinamismo e a grande ociosidade da economia.
O Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central, preocupado com a situação econômica e apesar do perigo da inflação acelerar, manteve a taxa Selic em 6,5%. Mas, o brioso governo Temer, firme na execução de sua política de austeridade, ditada pela sua “equipe dos pesadelos”, segue firme na intenção de manter o teto dos gastos que ameaça paralisar as pesquisas nas universidades, segundo protesto da Capes, e provoca o “empoçamento”, nos cofres dos ministérios, das verbas de despesas já autorizadas e não gastas que já atingem R$12,7 bilhões.
Sem caminhoneiros, quem será o culpado pela lentidão da recuperação, pela desconfiança dos empresários e pela falta de investimentos?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog