quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A debilidade dos investimentos no Brasil



Semana de 06 a 12 de agosto de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Enquanto o país se encaminha para a eleição mais estranha da sua história com as chapas eleitorais sendo definidas aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, os indicadores da economia continuam a apresentar comportamento morno.
No comércio varejista, as vendas caíram 0,3%, em junho, quando comparadas a maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O varejo ampliado que abrange veículos e material de construção cresceu 2,5%. Mas tanto o varejo restrito quanto o ampliado não voltaram ao nível pré-greve dos caminhoneiros ficando, em junho, respectivamente 1,5% e 2,4%, abaixo dos níveis registrados em abril.
No mercado de força de trabalho, ainda não há sinais de recuperação. A Fundação Getúlio Vargas, apurou queda, pela quinta vez consecutiva, do Indicador Antecedente de Emprego. O recuo de 0,8% no indicador mostra que os empresários continuam a postergar as contratações.
Quanto ao crédito, no fim do segundo trimestre, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander somaram um total de R$ 2,2 trilhões em empréstimos e financiamentos, aumento de 4,3% em um ano. Pessoas físicas, micro, pequenas e médias empresas foram os clientes que contribuíram para a alta. A recuperação do crédito garantiu um lucro de R$ 17,8 bilhões para os quatro bancos, alta de 12,3% no trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano passado.
Apesar da recuperação do crédito, pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), agora em agosto, com aproximadamente 500 empresas, detectou que 44% tem dificuldades em gerar caixa suficiente para quitar as parcelas dos empréstimos tomados. Entre as empresas de pequeno e médio porte, 12,4% têm dívidas em atraso com instituições financeiras bancárias e para 31,5% das indústrias, quitar as parcelas de seus empréstimos em dia se tornou complicado. Com a taxa de juros média do refinanciamento acima de 14% ao ano e a taxa de juros para capital de giro em torno de 17,7% ao ano, segundo dados do Banco Central, o cenário de dificuldades na indústria paulista certamente não mudará. Além disso, a Fiesp se preocupa com os possíveis efeitos sobre a cadeia de fornecedores e também com a alta capacidade ociosa que vem comprometendo o lucro do setor.
As projeções para a Formação Bruta de Capital Fixo, principal indicador dos investimentos privados, vêm recuando, do aumento de 6% cogitado no início do ano, para alta entre 3,5% e 4%. Há quem diga que a incerteza política tem dominado o cenário econômico e que, com ela, a dúvida em relação à implementação das reformas, tem comprometido a recuperação. O aumento do dólar também afeta negativamente os investimentos, pois encarecem a importação de bens de capital.
No setor público, o teto dos gastos vem comprometendo o investimento do governo desde o ano passado. Em 2017, o governo federal investiu apenas R$ 45,7 bilhões, pouco menos de 30% do gasto no ano anterior. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) os investimentos públicos estão sendo insuficientes para repor a depreciação do capital do governo federal.
Diante deste cenário, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) apurou um “abrandamento” do crescimento interno. Os Indicadores Compostos Avançados (ICA) da instituição mostram que a recuperação brasileira continua fraca.
A saída, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), estaria na aceleração do ajuste fiscal. Para isso, bastaria seguir a bula da instituição: eliminação dos subsídios e das isenções fiscais, congelamento dos salários do funcionalismo público e suspensão das admissões por 5 anos, reforma da previdência, limitação dos reajustes do salário mínimo à variação da inflação, reforma tributária, etc. Vindo do FMI, nada de novo.
São os tradicionais remédios amargos para uma economia em crise que só produzem mais crise.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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