quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Para onde vai o dólar?



Semana de 20 a 26 de agosto de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
A recuperação continua em ritmo lento e instável. Os dados divulgados confirmam a instabilidade enquanto as discussões alfabéticas continuam: será a saída da crise em V, em U ou em W? Ou será que teremos um “duplo mergulho” (duble dive)?
Em meio às dúvidas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou a sua sondagem industrial. O índice de evolução da produção industrial, em julho, cresceu de 50,8 pontos para 52,2 pontos. O índice varia de 0 a 100 e números superiores a 50 indicam crescimento. Mas a própria CNI informou que o aumento nesta época do ano é usual por razões sazonais. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) também cresceu de 66% para 68%. No entanto a pesquisa constatou um acúmulo de estoques. O índice de estoque efetivo passou de 50,4 para 50,8, em julho, e a situação do emprego industrial manteve-se em 48,5 pontos, abaixo da linha divisória dos 50 pontos o que indica desemprego. Temos recuperação mas ...
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgou dados que mostram uma das razões para a lentidão da recuperação. No primeiro semestre a balança comercial do setor manufatureiro apresentou um déficit de US$9,4 bilhões, apesar do câmbio pouco favorável às importações. Isso mostra que a produção industrial foi incapaz de atender à demanda interna e as encomendas foram dirigidas para fora.
O Banco Central (BC) divulgou o seu “Índice de Atividade Econômica do Banco Central” (IBC-Br) que é uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). No segundo trimestre, este índice apontou um crescimento de 0,84%. Apesar das dificuldades, as maiores empresas continuaram gerando lucros elevados. As 257 empresas de capital aberto, não financeiras, totalizaram um lucro de R$11 bilhões, de abril a junho. Além disso, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) apresentado na Sondagem da Indústria de Transformação feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou uma queda de 0,8 pontos ficando em 99,3 pontos (abaixo dos 100 indica pessimismo).
O setor bancário, como sempre, manteve sua lucratividade. A Caixa Econômica Federal (CEF), segundo o Iedi, apresentou lucro de R$6,7 bilhões e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com uma folga de caixa, resolveu devolver ao Tesouro mais de R$30 bilhões, completando os R$130 bilhões que deveria devolver até o final do ano. Aliás, nos últimos 3 anos o BNDES liquidou R$310 bilhões junto ao Tesouro antecipando em 20 anos seus compromissos com o governo. Aí está o motivo da redução das atividades do banco de desenvolvimento.
A grande novidade da semana, porém, foi o disparo do dólar que ultrapassou a barreira dos R$4,00 e na sexta feira dia 24, atingiu R$4,12. Muitos comentaristas e as classes empresariais apressaram-se a atribuir a culpa do descontrole à instabilidade política interna que vem provocando o nervosismo do “mercado”. É mais uma chantagem com o eleitorado. Ou se elege um candidato comprometido com as reformas da previdência e trabalhista e com o equilíbrio fiscal ou o país vai para o caos.
A subida de preço do dólar, com a consequente desvalorização do real, já um prenúncio deste caos. Ficam relegadas para o segundo plano as causas externas. Apesar das incertezas eleitorais deixarem o “mercado” nervoso, a situação internacional é a causa determinante no momento. Por um lado, a política comercial insensata do presidente Trump deflagrou uma guerra comercial sem precedentes que está desorganizando o mercado mundial e as cadeias internacionais de valor. Os horizontes da globalização tornam-se nebulosos. A guerra declarada contra a China envolve a todos e respinga muito no Brasil e na América Latina. Por outro lado, o processo de consolidação do auge da economia americana está fazendo que o Federal Reserve (Fed), BC dos EUA, mude sua política monetária e comece a elevar os juros dos títulos do país atraindo os capitais espalhados pelo mundo de volta para os EUA.
Com isso, o “apetite pelo risco” dos abutres especuladores diminui e eles partem de volta para a pátria aumentando a demanda por dólares internamente.
A cotação do dólar vai continuar oscilando com tendência para cima enquanto todos esperam quando o nosso BC começará a intervir no mercado no jogo da flutuação suja.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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