Semana de 23 a 29 de julho de 2018
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Os leitores que nos acompanham há mais tempo já nos
viram falando da forma como as “economias de mercado” alternam seu crescimento
entre períodos de “aquecimento” e “desaquecimento” da atividade produtiva em
geral. Isto significa que, devido às características próprias dessas economias,
o funcionamento da produção e distribuição da riqueza social oscila através de
ciclos de maior ou menor expansão. Historicamente, isto pode ser constatado
desde que o capitalismo se tornou um sistema social maduro, com a Revolução
Industrial Inglesa.
A partir da sua disseminação para outros países e a
integração das economias nacionais no mercado mundial, este movimento alternado
das fases de maior ou menor crescimento (ou mesmo decrescimento) passou a ser
visto em todas as “economias de mercado”. A primeira grande crise em escala
mundial ocorreu em meados da década de 1870. A segunda se apresentou nos anos
de 1929/33. Nos anos de 1970 tivemos outra, a “Crise do Petróleo”. Já no fim
dos anos 2000 tivemos a chamada “Crise Financeira internacional”.
Existe um conjunto de elementos comuns entre elas,
que permitem classificar estas, e todas as demais “menores” crises que
existiram, como crises cíclicas de excesso de capitais sob as suas diversas
formas: mercadorias em estoque, capital produtivo ocioso, desemprego de mão de
obra, falências, destruição de capitais no mercado financeiro, etc. No presente
texto, contudo, destacamos apenas um aspecto: o peso que as economias maiores
(avançadas) têm sobre as menores (atrasadas).
Na década de 1970, o Milagre Econômico Brasileiro
teve fim junto com a citada “Crise do Petróleo”. Na década de 1980 a propagação
da crise mundial para o Brasil se manifestou através da “Crise da Dívida
Externa” e da balança de pagamentos (que registra todas as transações de uma
economia nacional com o resto do mundo). Na década de 1990 foi a vez da “Crise
Cambial” mexicana e asiática. Em 2008, muitos devem lembrar, fomos atingidos
pela “marolinha”, nome dado pelo então presidente Lula à “Crise do Subprime”.
Nesta coluna, temos falado que a economia brasileira
não está às mil maravilhas. Contudo, comparando o crescimento de 0,99% do PIB
em 2017 com as quedas de 3,46% 3,77% em 2016 e 2015, respectivamente, significa
que tivemos a saída de uma situação de contração para uma expansão econômica.
Isto se reforça ainda mais com a previsão oficial do governo de crescimento de
1,55% em 2018. Estaríamos, portanto, ainda de maneira pífia, retomando uma
trajetória ascendente de crescimento econômico. Para além da política suicida
adota pela equipe econômica de Michel Temer, tema tratado na semana passada por
esta coluna, agora existe outra ameaça à economia brasileira: a crise econômica
que se aproxima dos EUA.
A economia americana vem crescendo a uma taxa média
de 2,2% desde 2010. Apenas no 2º trimestre de 2018, que terminou em junho, o
crescimento anualizado do PIB foi de 4,1%, depois de ter crescido 2,5% no
primeiro trimestre deste mesmo ano. Contudo, este forte crescimento do último
trimestre é insustentável, pois se baseou em fatos que não devem se repetir nos
próximos meses, como a antecipação da venda de soja aos chineses antes que
entre em vigor as barreiras comerciais.
Para além disto, da “euforia” em que se encontra a
economia estadunidense, existem indicadores mostrando sinais de reversão
econômica. Um deles é a diferença entre os juros de curto e longo prazo, que,
ao se tornar negativa, significa que uma recessão está próxima de acontecer
(isto ocorre desde 1955). Atualmente esta diferença é de 0,3 pontos
percentuais. Outro sinal da “euforia” (que sempre precede uma crise) é o
recorde do índice S&P 500 de valorização de ações, que está em seu valor
histórico mais alto. A tudo isto, soma-se o fim dos estímulos monetários dados
pelo Fed (banco central dos EUA), que, diante da pressão inflacionária e da
recuperação econômica, vem elevando gradualmente a taxa de juros.
Tudo isto liga o alerta: será que nossa já fraca
recuperação se manterá?
A experiência tem mostrado que, se desaba a economia
dos EUA, vai abaixo a economia mundial e o Brasil será inevitavelmente
arrastado.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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