quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Economia e eleições




Semana de 10 a 16 de setembro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

A economia mundial continua desacelerando. O Banco Central Europeu reviu para baixo (de 2,1% para 2%) a previsão de crescimento deste ano, para os 19 países que compõem a União Monetária. E, segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, frutos da pesquisa da World Economic Survey de julho, mais de 50% dos países consultados esperam que o terceiro trimestre seja de desaceleração econômica. O pé no freio virá da retirada dos estímulos monetários em alguns países e da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Enquanto o crescimento mundial desacelera, o Brasil segue em rumo incerto, tanto nas eleições, quanto na economia.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou queda de 0,5% das vendas do varejo restrito em julho (que exclui comércio de automóveis e material de construção). O resultado foi pior que a alta esperada de 0,2%. Este é o terceiro mês consecutivo de queda e já houve tempo suficiente para que os estoques se normalizassem, após a greve dos caminhoneiros. As vendas de móveis e eletrodomésticos e produtos de uso pessoal e doméstico registraram a maior queda do grupo varejista pesquisado. Segundo os analistas o resultado se deve à lenta recuperação do mercado de trabalho e a indefinição eleitoral. Ainda reforçam que, apesar do recuo dos juros ao consumidor, o cenário eleitoral tem dificultado as decisões de consumo.
Como a subjetividade tem dominado as análises econômicas, convido o leitor a uma reflexão. Se a fonte de consumo da maioria da população é o salário, e esta se encontra comprimida pelo alto desemprego, porque figura como elemento decisivo a incerteza eleitoral?
O editorial do jornal Valor Econômico de 14 de setembro intitulado “Vendas em queda mostram perda de ímpeto da economia” é iniciado com a seguinte frase: “Como parece ter acontecido com o resto da economia, o varejo entrou em compasso de espera eleitoral.” É como se o consumidor tivesse adiado as compras por um período de tempo finito, o período eleitoral. Ou seja, o consumidor está adiando seus gastos em consumo não porque sua renda está comprometida em dívidas ou por causa do desemprego, mas porque não sabe quem vai ser o próximo presidente da República. É no mínimo estranho. A confirmação de que esta hipótese é insustentável é fornecida pelo próprio texto referido: “O ponto de inflexão tanto para o varejo restrito como para o ampliado ocorreu em abril, mês anterior à greve. De lá para cá a média móvel trimestral do varejo restrito foi sempre negativa.” O problema, portanto, é anterior à greve dos caminhoneiros e à eleição.
Inflação e juros baixos, deflação no setor dos alimentos e a futura liberação do PIS-Pasep, poderiam recuperar o consumo no terceiro trimestre, segundo os analistas. No entanto estes mesmos analistas querem fazer crer que tudo depende da confiança, da sinalização dada para o futuro e do incerto resultado das eleições.
A mesma justificativa passou a ser usada para explicar a atual desvalorização do real que a princípio foi explicada pelo aumento da taxa de juros dos Estados Unidos. Esta semana, o dólar fechou perto dos R$4,20. Esta é a maior cotação desde o início do Plano Real. De imediato, as explicações para as altas remetem às chances de um candidato de esquerda vencer Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, pois é o que mostram as recentes pesquisas. Sob as justificativas já conhecidas de que um candidato de esquerda faria uma farra com o dinheiro público e não executaria as reformas tão desejadas pelos rentistas, o “mercado” alarmou-se.
Como os objetivos do tal “mercado” são diametralmente opostos aos interesses do povo, pouco deveria nos importar o seu nervosismo. Afinal, ser instável e volátil é uma característica intrínseca das atividades financeiras. Mesmo assim, o “mercado” continua à espera de um aceno de qualquer um dos candidatos que o “acalme” e sinalize que o Estado continuará a proteger os seus ganhos.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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