quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Recessão de balanço e economia “virtualmente” estagnada



Semana de 03 a 09 de setembro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

O país segue ruminando o atentado a faca ocorrido em 06 de setembro contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), episódio que pode afetar o ainda incerto cenário político. Assim, as notícias de cunho econômico continuam escassas na imprensa.
Mas, curiosamente, esta semana, analistas de diversas instituições chegaram tardiamente à conclusão a que esta coluna chegou há mais de um mês atrás: a economia brasileira entalou. Dois termos foram usados para definir a situação econômica atual. A “recessão de balanço” caracterizada pelos altos níveis de endividamento de famílias e empresas que acabam comprometendo o crescimento econômico e a “virtual” estagnação, que se traduz numa forma envergonhada que o Goldman Sachs encontrou para dizer que o crescimento brasileiro estancou.
De fato, já havíamos concluído que, mesmo se a greve dos caminhoneiros não tivesse acontecido, não estaríamos em melhor situação econômica. As conclusões tardias se repetiram como mantra nos jornais: “Estamos em uma recuperação lentíssima que se tornou mais frágil ainda”, afirma Margarida Gutierrez, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Houve realmente uma reversão na força da recuperação”, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). O “...crescimento subjacente da atividade econômica segue perdendo força”, afirma o Itaú Unibanco. E finalmente, decreta o Iedi: “Como a desaceleração vem desde o começo do ano não dá nem para responsabilizar a paralização dos caminhoneiros pela inflexão, embora possam ter contribuído para cortar pela metade a taxa de crescimento no semestre.”
Os números confirmam a debilidade da economia. O IBGE divulgou o PIB do segundo trimestre deste ano. O crescimento foi de 0,2%, em relação ao primeiro trimestre. O consumo das famílias teve alta de 0,1% e o consumo do governo cresceu 0,5%. O investimento caiu 1,8% permanecendo no nível de 2009. A indústria de transformação continua em queda (de -0,4% para -0,8% entre o primeiro e o segundo trimestre). E, para piorar, o IBGE ainda fez a revisão do PIB do primeiro trimestre que ao invés de crescer 0,4%, conforme divulgado anteriormente, cresceu apenas 0,1%.
A construção civil, setor que estimula os investimentos, recuou 1,1% no segundo trimestre segundo o IBGE, recuo maior que o de -0,4% registrado no primeiro trimestre. O setor caminha para o quinto ano consecutivo de queda na atividade e acaba contribuindo para o desemprego e para a queda do investimento total. E ainda não há perspectivas de retomada do investimento. Pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias do Material de Construção (Abramat) apurou entre as empresas que os investimentos não serão retomados nos próximos 12 meses. A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), que reúne 20 empresas de grande porte, registrou que no primeiro semestre as vendas aumentaram 28,5% em relação ao primeiro semestre de 2017. Em contrapartida, em junho, as vendas de imóveis novos cresceram apenas 3,3% em relação a junho de 2017.
Nem mesmo o desempenho da produção industrial de julho que recuou apenas 0,2% em relação a junho, serve de alento. A produção de veículos caiu neste mês 4,5% e a de alimentos 1,7%. O setor de bens de capital recuou 6,2% enquanto que, a produção de bens intermediários cresceu 1%.
Diante deste cenário sombrio, o jornalismo econômico continua a vender a ilusão de que “...se houver uma crença de que o futuro será melhor, os consumidores voltarão a comprar e os empresários voltarão a produzir...”, como se tudo se resumisse a uma questão de vontade.
Fica o alerta para os que tratam a economia a partir dos sentimentos. Ser o consumidor ou produtor, crente, otimista ou pessimista, não mudará a realidade dos fatos. E, como concluído em nossa última coluna, a realidade econômica atual é cruel demais para ser ignorada.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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