Rosângela Palhano Ramalho
[i]
O país segue ruminando o atentado a faca ocorrido em
06 de setembro contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), episódio que pode
afetar o ainda incerto cenário político. Assim, as notícias de cunho econômico
continuam escassas na imprensa.
Mas, curiosamente, esta semana, analistas de
diversas instituições chegaram tardiamente à conclusão a que esta coluna chegou
há mais de um mês atrás: a economia brasileira entalou. Dois termos foram
usados para definir a situação econômica atual. A “recessão de balanço”
caracterizada pelos altos níveis de endividamento de famílias e empresas que
acabam comprometendo o crescimento econômico e a “virtual” estagnação, que se
traduz numa forma envergonhada que o Goldman Sachs encontrou para dizer que o
crescimento brasileiro estancou.
De fato, já havíamos concluído que, mesmo se a greve
dos caminhoneiros não tivesse acontecido, não estaríamos em melhor situação
econômica. As conclusões tardias se repetiram como mantra nos jornais: “Estamos
em uma recuperação lentíssima que se tornou mais frágil ainda”, afirma Margarida
Gutierrez, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Houve
realmente uma reversão na força da recuperação”, diz Rafael Cagnin,
economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial). O “...crescimento subjacente da atividade econômica segue perdendo
força”, afirma o Itaú Unibanco. E finalmente, decreta o Iedi: “Como a
desaceleração vem desde o começo do ano não dá nem para responsabilizar a
paralização dos caminhoneiros pela inflexão, embora possam ter contribuído para
cortar pela metade a taxa de crescimento no semestre.”
Os números confirmam a debilidade da economia. O
IBGE divulgou o PIB do segundo trimestre deste ano. O crescimento foi de 0,2%,
em relação ao primeiro trimestre. O consumo das famílias teve alta de 0,1% e o
consumo do governo cresceu 0,5%. O investimento caiu 1,8% permanecendo no nível
de 2009. A indústria de transformação continua em queda (de -0,4% para -0,8%
entre o primeiro e o segundo trimestre). E, para piorar, o IBGE ainda fez a
revisão do PIB do primeiro trimestre que ao invés de crescer 0,4%, conforme
divulgado anteriormente, cresceu apenas 0,1%.
A construção civil, setor que estimula os
investimentos, recuou 1,1% no segundo trimestre segundo o IBGE, recuo maior que
o de -0,4% registrado no primeiro trimestre. O setor caminha para o quinto ano
consecutivo de queda na atividade e acaba contribuindo para o desemprego e para
a queda do investimento total. E ainda não há perspectivas de retomada do
investimento. Pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias do Material de
Construção (Abramat) apurou entre as empresas que os investimentos não serão
retomados nos próximos 12 meses. A Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias (Abrainc), que reúne 20 empresas de grande porte, registrou que no
primeiro semestre as vendas aumentaram 28,5% em relação ao primeiro semestre de
2017. Em contrapartida, em junho, as vendas de imóveis novos cresceram apenas
3,3% em relação a junho de 2017.
Nem mesmo o desempenho da produção industrial de julho
que recuou apenas 0,2% em relação a junho, serve de alento. A produção de
veículos caiu neste mês 4,5% e a de alimentos 1,7%. O setor de bens de capital
recuou 6,2% enquanto que, a produção de bens intermediários cresceu 1%.
Diante deste cenário sombrio, o jornalismo econômico
continua a vender a ilusão de que “...se houver uma crença de que o futuro será
melhor, os consumidores voltarão a comprar e os empresários voltarão a
produzir...”, como se tudo se resumisse a uma questão de vontade.
Fica o alerta para os que tratam a economia a partir
dos sentimentos. Ser o consumidor ou produtor, crente, otimista ou pessimista,
não mudará a realidade dos fatos. E, como concluído em nossa última coluna, a
realidade econômica atual é cruel demais para ser ignorada.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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