quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Ele não!


Semana de 17 a 23 de setembro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
É muito difícil, nas circunstâncias atuais, manter o foco na análise da conjuntura econômica. Por um lado, as novidades nesta área são poucas, pois as tendências por nós apontadas, nas últimas semanas se mantêm, ou seja, a recuperação da economia do país percorre sua lenta e duvidosa trajetória e, no mundo, os ritmos seguem satisfatórios, com sintomas de desaceleração e tenebrosas profecias de que, após 10 anos da crise de 2008, uma explosão pode vir a caminho. Por outro lado, estamos na iminência de uma decisão eleitoral que poderá trazer consequências trágicas para a débil democracia do país. Como manter a calma e não desviar o assunto para o terreno da política, sabendo que não é a nossa praia, neste espaço?
Perdoem-nos os leitores, mas não podemos deixar de opinar. Há um objetivo central que deve unir todos os democratas: barrar o militarismo, o autoritarismo, o fascismo a qualquer custo. É preciso derrotar o inominável. A hora é para deixar de lado as simpatias pessoais, pruridos, fricotes, preconceitos e dar um voto pragmático e útil com um único objetivo: ELE NÃO!
A facada mal dada foi o pior ato de estupidez que se poderia ter cometido. Embora seja o resultado da aplicação do método pregado pelo candidato, contra ele próprio, o feitiço contra o feiticeiro, não poderia ter ocorrido ação mais idiota e condenável.
Nestas circunstâncias, os nanicos que nos perdoem, mas é uma bruta ingenuidade dispersar votos neles por melhores que sejam. É preciso concentrar os esforços naqueles candidatos que possam ir ao segundo turno e derrotar a besta fascista. E, pelas pesquisas feitas até agora, só vejo três: Haddad, Ciro e Alckmin.
ELE NÃO.
Depois deste desabafo, voltamos ao assunto dessa coluna. A primeira notícia é sobre o desalento geral provocado pelo reconhecimento, nos órgãos de informação, que o sonho acabou. A famosa “equipe dos sonhos” (dream team), equipe econômica liderada pelo Henrique Meirelles (ministro da fazenda), e que contava com Ilan Goldfajn, no Banco Central (BC), e que prometeu crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3%, no início do ano, e além disso, equilibrar as finanças, reduzir o desemprego e fazer as reformas, desmoralizada, está a pendurar as chuteiras. Certos estávamos nós quando apelidamos a tal equipe de “equipe dos pesadelos”. O resultado está aí: previsão de crescimento do PIB de 1,5%, desemprego de 13 milhões de pessoas além de 6,5 milhões de subocupados e 4,8 milhões de “desalentados” (aqueles que desistiram de procurar emprego). O total atinge 27,6 milhões de pessoas. Para vergonha nossa, segundo dados do relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil é, na América Latina, o vice-campeão do desemprego perdendo apenas para o Haiti e seguido pela Colômbia (9%). Até a Venezuela, tão falada na mídia, tem uma taxa inferior à nossa (8,1%).
Outro grande objetivo da “equipe dos pesadelos” era o ajuste fiscal, o controle das contas públicas e do déficit do orçamento. Também nisso o fracasso é total. A chamada dívida bruta, que orienta os “investidores”, que em 2016, estava em 70% do PIB, chegará a 75,7%, no final deste ano. Eis o sonho de dois anos de trabalho do clã Meirelles que agora recebe o troco nas sondagens eleitorais.
Mas, ainda há muito para destruir. O BC, considerando a inflação sob controle, dentro da meta, manteve a taxa Selic em 6,5%, apesar do disparo do dólar que deverá continuar. O Ipea divulgou o seu Indicador Mensal do Consumo Aparente de Bens Industriais e constatou uma retração de 0,3%, no trimestre terminado em julho. O IBC-Br, estimativa do PIB feita pelo BC, mostrou, em julho, um crescimento de 0,57%, o que decepcionou os analistas. Mas, segundo o IBGE, também em julho, a produção industrial caiu 0,2%, os serviços 2,2%, as vendas no varejo 0,5%. Para finalizar, segundo a FGV, a intenção de investimentos da indústria de transformação recuou 3,1%.
Estamos mal. Coitado de quem ganhar as eleições!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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