Semana de 17 a 23 de setembro de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
É muito difícil, nas circunstâncias atuais,
manter o foco na análise da conjuntura econômica. Por um lado, as novidades
nesta área são poucas, pois as tendências por nós apontadas, nas últimas
semanas se mantêm, ou seja, a recuperação da economia do país percorre sua
lenta e duvidosa trajetória e, no mundo, os ritmos seguem satisfatórios, com
sintomas de desaceleração e tenebrosas profecias de que, após 10 anos da crise
de 2008, uma explosão pode vir a caminho. Por outro lado, estamos na iminência
de uma decisão eleitoral que poderá trazer consequências trágicas para a débil
democracia do país. Como manter a calma e não desviar o assunto para o terreno
da política, sabendo que não é a nossa praia, neste espaço?
Perdoem-nos os leitores, mas não podemos
deixar de opinar. Há um objetivo central que deve unir todos os democratas:
barrar o militarismo, o autoritarismo, o fascismo a qualquer custo. É preciso
derrotar o inominável. A hora é para deixar de lado as simpatias pessoais,
pruridos, fricotes, preconceitos e dar um voto pragmático e útil com um único
objetivo: ELE NÃO!
A facada mal dada foi o pior ato de
estupidez que se poderia ter cometido. Embora seja o resultado da aplicação do
método pregado pelo candidato, contra ele próprio, o feitiço contra o
feiticeiro, não poderia ter ocorrido ação mais idiota e condenável.
Nestas circunstâncias, os nanicos que nos
perdoem, mas é uma bruta ingenuidade dispersar votos neles por melhores que
sejam. É preciso concentrar os esforços naqueles candidatos que possam ir ao
segundo turno e derrotar a besta fascista. E, pelas pesquisas feitas até agora,
só vejo três: Haddad, Ciro e Alckmin.
ELE NÃO.
Depois deste desabafo, voltamos ao assunto
dessa coluna. A primeira notícia é sobre o desalento geral provocado pelo
reconhecimento, nos órgãos de informação, que o sonho acabou. A famosa “equipe
dos sonhos” (dream team), equipe econômica liderada pelo Henrique Meirelles
(ministro da fazenda), e que contava com Ilan Goldfajn, no Banco Central (BC),
e que prometeu crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3%, no início do
ano, e além disso, equilibrar as finanças, reduzir o desemprego e fazer as
reformas, desmoralizada, está a pendurar as chuteiras. Certos estávamos nós
quando apelidamos a tal equipe de “equipe dos pesadelos”. O resultado está aí:
previsão de crescimento do PIB de 1,5%, desemprego de 13 milhões de pessoas
além de 6,5 milhões de subocupados e 4,8 milhões de “desalentados” (aqueles que
desistiram de procurar emprego). O total atinge 27,6 milhões de pessoas. Para
vergonha nossa, segundo dados do relatório do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), o Brasil é, na América Latina, o vice-campeão do
desemprego perdendo apenas para o Haiti e seguido pela Colômbia (9%). Até a
Venezuela, tão falada na mídia, tem uma taxa inferior à nossa (8,1%).
Outro grande objetivo da “equipe dos
pesadelos” era o ajuste fiscal, o controle das contas públicas e do déficit do
orçamento. Também nisso o fracasso é total. A chamada dívida bruta, que orienta
os “investidores”, que em 2016, estava em 70% do PIB, chegará a 75,7%, no final
deste ano. Eis o sonho de dois anos de trabalho do clã Meirelles que agora
recebe o troco nas sondagens eleitorais.
Mas, ainda há muito para destruir. O BC,
considerando a inflação sob controle, dentro da meta, manteve a taxa Selic em
6,5%, apesar do disparo do dólar que deverá continuar. O Ipea divulgou o seu
Indicador Mensal do Consumo Aparente de Bens Industriais e constatou uma
retração de 0,3%, no trimestre terminado em julho. O IBC-Br, estimativa do PIB
feita pelo BC, mostrou, em julho, um crescimento de 0,57%, o que decepcionou os
analistas. Mas, segundo o IBGE, também em julho, a produção industrial caiu
0,2%, os serviços 2,2%, as vendas no varejo 0,5%. Para finalizar, segundo a
FGV, a intenção de investimentos da indústria de transformação recuou 3,1%.
Estamos mal. Coitado de quem ganhar as
eleições!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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