quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Pessimismo, não!




Semana de 27 de agosto a 02 de setembro de 2018

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Estimado leitor, por vezes os redatores da presente coluna foram chamados de pessimistas em suas análises. Alguns diriam que temos previsões catastróficas sobre o futuro e visão de “copo meio-vazio” sobre o presente. Entretanto, será que somos pessimistas ou a realidade é que está cruel demais?
No final de semana que passou, vimos um dos maiores crimes contra a humanidade que qualquer brasileiro jamais pensou em ser responsabilizado: o incêndio do Museu Nacional. É fato que envergonha qualquer cidadão minimamente consciente. Mas isto é apenas a ponta do problema. Somando-se aos mais de 20 milhões de itens que foram perdidos, que em sua esmagadora maioria jamais poderão ser recuperados, está a estupidez daqueles que “escolheram” a atual forma de “gestão” do poder público brasileiro. O que aconteceu não foi mero descaso ou, muito menos, um acidente. Foi o resultado das escolhas governamentais no trato para com educação, cultura, pesquisa, saúde, infraestrutura, enfim, com a forma como o Estado atua no desenvolvimento econômico-social brasileiro.
O caro leitor lembra da famosa “PEC dos gastos”? Pois bem, a agora Emenda Constitucional (n. 95) representa a institucionalização do tipo de política pública que desembocou neste incêndio: restrição (por 20 anos) de algumas despesas, objetivando-se, por outro lado, a manutenção da máquina de retirada de “direitos” da maior parte da população (renda média e baixa) para garantir outros “direitos” a uma minoria (de maior renda).
Juntamente com a (Contra)Reforma Trabalhista, a PEC dos gastos foi defendida como necessária à recuperação da economia nacional. Será que isto foi alcançado?
Desde o começo de 2018 o desemprego total na economia brasileira só tem caído, segundo a pesquisa oficial do IBGE. Contudo, além dos desempregados, que totalizam 12,9 milhões, existem outros 6,6 milhões de subocupados (os que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de trabalhar mais). Somam-se ao cálculo os 4,8 milhões de desalentados (os que, de tanto levar não, desistiram de procurar emprego) e os 3,3 milhões de pessoas que poderiam trabalhar mas, por algum motivo, não têm disponibilidade. Assim, temos um total de 27,6 milhões de pessoas subutilizadas na economia nacional (aumento de 17,8% em um ano). Para piorar, imagine qual será o resultado da autorização do STF para que a terceirização atinja as atividades-fim das organizações. Não será surpresa se, num futuro próximo, surgirem empresas que serão verdadeiros currais humanos de profissionais (professores, por exemplo) à espera de serem chamados para executar trabalhos temporários, precários e mal remunerados.
Vê-se que a realidade do emprego não é das melhores. Vejamos a da produção.
No dia 31 de agosto foram divulgados os dados sobre a produção no segundo trimestre de 2018. Como já foi alardeado, a greve dos caminhoneiros afetou negativamente o desempenho do PIB, que cresceu apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior. Falando em trimestre anterior (1º trimestre de 2018), este teve seu crescimento revisado: antes, o cálculo apontava uma elevação de 0,4%, mas, com a revisão, o crescimento foi de apenas 0,1%. Dentre os setores que, pelo lado da produção, contribuíram para o crescimento no segundo trimestre do ano, destaca-se o de serviços, que ampliou sua produção em 0,3%. Já agropecuária ficou estagnada, enquanto a indústria decresceu 0,6% (todos em relação ao período anterior). A estimativa é que, nesse ritmo, o país só retorne ao padrão pré-crise (fim de 2014) em 2022. Na ótica do consumo, o crescimento ocorreu apenas no consumo das famílias (0,1%) e nos gastos do governo (0,5%). Tiveram quedas expressivas os investimentos (-1,8%) e as exportações (-5,5%).
Diante disto, afirmo: a realidade atual está cruel demais. Nossa esperança (e otimismo) é que os brasileiros saibam escolher candidatos que tenham propostas objetivas e direcionadas à solução dos problemas reais do país. Falar sobre questões morais e que “tem que mudar isso daí”, de forma abstrata, não trará solução, sem dúvida, só contribuirá para a piora do quadro atual.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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