Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Estimado leitor, por vezes os redatores da presente
coluna foram chamados de pessimistas em suas análises. Alguns diriam que temos
previsões catastróficas sobre o futuro e visão de “copo meio-vazio” sobre o
presente. Entretanto, será que somos pessimistas ou a realidade é que está
cruel demais?
No final de semana que passou, vimos um dos maiores
crimes contra a humanidade que qualquer brasileiro jamais pensou em ser
responsabilizado: o incêndio do Museu Nacional. É fato que envergonha qualquer
cidadão minimamente consciente. Mas isto é apenas a ponta do problema.
Somando-se aos mais de 20 milhões de itens que foram perdidos, que em sua
esmagadora maioria jamais poderão ser recuperados, está a estupidez daqueles
que “escolheram” a atual forma de “gestão” do poder público brasileiro. O que
aconteceu não foi mero descaso ou, muito menos, um acidente. Foi o resultado
das escolhas governamentais no trato para com educação, cultura, pesquisa,
saúde, infraestrutura, enfim, com a forma como o Estado atua no desenvolvimento
econômico-social brasileiro.
O caro leitor lembra da famosa “PEC dos gastos”?
Pois bem, a agora Emenda Constitucional (n. 95) representa a
institucionalização do tipo de política pública que desembocou neste incêndio:
restrição (por 20 anos) de algumas despesas, objetivando-se, por outro lado, a
manutenção da máquina de retirada de “direitos” da maior parte da população
(renda média e baixa) para garantir outros “direitos” a uma minoria (de maior
renda).
Juntamente com a (Contra)Reforma Trabalhista, a PEC
dos gastos foi defendida como necessária à recuperação da economia nacional.
Será que isto foi alcançado?
Desde o começo de 2018 o desemprego total na
economia brasileira só tem caído, segundo a pesquisa oficial do IBGE. Contudo,
além dos desempregados, que totalizam 12,9 milhões, existem outros 6,6 milhões
de subocupados (os que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de
trabalhar mais). Somam-se ao cálculo os 4,8 milhões de desalentados (os que, de
tanto levar não, desistiram de procurar emprego) e os 3,3 milhões de pessoas que
poderiam trabalhar mas, por algum motivo, não têm disponibilidade. Assim, temos
um total de 27,6 milhões de pessoas subutilizadas na economia nacional (aumento
de 17,8% em um ano). Para piorar, imagine qual será o resultado da autorização
do STF para que a terceirização atinja as atividades-fim das organizações. Não
será surpresa se, num futuro próximo, surgirem empresas que serão verdadeiros
currais humanos de profissionais (professores, por exemplo) à espera de serem
chamados para executar trabalhos temporários, precários e mal remunerados.
Vê-se que a realidade do emprego não é das melhores.
Vejamos a da produção.
No dia 31 de agosto foram divulgados os dados sobre
a produção no segundo trimestre de 2018. Como já foi alardeado, a greve dos
caminhoneiros afetou negativamente o desempenho do PIB, que cresceu apenas 0,2%
em relação ao trimestre anterior. Falando em trimestre anterior (1º trimestre
de 2018), este teve seu crescimento revisado: antes, o cálculo apontava uma
elevação de 0,4%, mas, com a revisão, o crescimento foi de apenas 0,1%. Dentre
os setores que, pelo lado da produção, contribuíram para o crescimento no
segundo trimestre do ano, destaca-se o de serviços, que ampliou sua produção em
0,3%. Já agropecuária ficou estagnada, enquanto a indústria decresceu 0,6%
(todos em relação ao período anterior). A estimativa é que, nesse ritmo, o país
só retorne ao padrão pré-crise (fim de 2014) em 2022. Na ótica do consumo, o
crescimento ocorreu apenas no consumo das famílias (0,1%) e nos gastos do governo
(0,5%). Tiveram quedas expressivas os investimentos (-1,8%) e as exportações
(-5,5%).
Diante disto, afirmo: a realidade atual está cruel
demais. Nossa esperança (e otimismo) é que os brasileiros saibam escolher
candidatos que tenham propostas objetivas e direcionadas à solução dos
problemas reais do país. Falar sobre questões morais e que “tem que mudar isso
daí”, de forma abstrata, não trará solução, sem dúvida, só contribuirá para a
piora do quadro atual.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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