quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O novo governo e a economia II


Semana de 19 a 25 de novembro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Dois grandes temas destacam-se na semana: a desaceleração da economia mundial e a formação do novo governo.
Comecemos pela desaceleração da economia mundial, assunto já tratado nesta coluna há vários meses. É só conferir nos jornais anteriores ou no Blog do PROGEB (progeb.blogspot.com) onde elas estão disponíveis.
Os sintomas que apontam na direção da aproximação de uma nova crise são cada vez mais evidentes e há mesmo quem fale da aproximação de uma “tempestade perfeita”. Discute-se se ocorrerá em 2019 ou nos anos seguintes. Os principais fatores aprontados como causas são: a guerra comercial Trump x China, a elevação das taxas de juros do Fed (Banco Central americano), as incertezas políticas como o Brexit (saída da Inglaterra da União Europeia) e as eleições na Alemanha e Itália.
Há analistas que afirmam que a desaceleração já vem ocorrendo e estes fatores apenas agravam o fenômeno. O processo é comandado pelas grandes economias, que são as locomotivas EUA, China e União Europeia. As estimativas para o crescimento global para 2019 e 2020 já foram reduzidas de 3,7% para 3%, pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. Para a economia dos EUA, o Federal Open Market Commitee, órgão do Fed (equivalente ao nosso Copom do BC) prevê que o crescimento de 3,1% deste ano cairá para 2,5% em 2019, 2% em 2020 e 1,8% em 2021. Para a China, os 6,6% deste ano se reduzirão para 6,3% em 2019 e 6% em 2020, segundo a OCDE. A economia do Japão, a terceira maior do mundo, já teve, no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 1,2%.
Algumas organizações privadas também divulgaram estimativas pessimistas. A Oxford Economics, por exemplo, prevê que o crescimento do PIB mundial cairá de 3,1%, este ano, para 2,8%, em 2019 e o Goldman Sachs estima que a economia americana desacelerará para 1,75%, em 2019.
Como vemos, e como vínhamos prevendo, o cenário mundial, para o novo governo, não será dos mais favoráveis. O agravante é que a tempestade desabará sobre um governo que não vem apresentando, em sua composição, um panorama muito animador. Os constantes desmentidos e desautorizações do presidente eleito são uma demonstração disso e olhe que ele conseguiu ficar calado durante quase toda a campanha. Imagine se ele tivesse falado!
Os poucos dados sobre a economia do país também não são animadores. A saída de recursos, por efeitos sazonais, segundo os analistas, está provocando uma alta do dólar superior a 2%, no mês, e a moeda já ultrapassa os R$3,80. Foram criadas 57,7 mil vagas de trabalho com carteira assinada, em outubro, mas o número ficou abaixo do esperado e vem caindo, o que reflete uma desaceleração da retomada da economia. O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) cresceu 1,74%, no terceiro trimestre, depois de cair 0,8%, no trimestre anterior. Mas em setembro, o crescimento foi de apenas 0,5% e as expectativas para o quarto trimestre não são boas.
Enquanto isso, o novo governo vai se constituindo e os nomes dos escolhidos vão sendo anunciados a conta gotas. Nada é muito surpreendente. O número de militares de alta patente é elevado e talvez maior que nos tempos da ditadura. Eles formam um dos grupos de pressão. O outro grande grupo é constituído pelos amigos do ministro czar da economia, Paulo Guedes. Sua equipe vai substituir, com vantagem, a atual “equipe dos pesadelos”. Provavelmente vai ultrapassar as expectativas pela linha dura ortodoxa. São os Chicago boys já auto denominados “Chicago oldies”. É uma poderosa equipe de doutores em universidades americanas e adeptos da mesma cartilha liberal. O pior grupo é, porém, o escolhido pelos parlamentares com o Lorenzoni na cabeça e que inclui os indicados pelo pseudo filósofo e astrólogo Olavo de Carvalho. É nesse grupo que se inclui o louco que, segundo o jornalista Ricardo Boechat, beira a debilidade mental pelas suas declarações e que chefiará as relações exteriores.
É aguardar a tragicomédia resultante desta inusitada mistura.
Para rir ... e chorar.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A atividade econômica mantém desempenho pífio


Semana de 12 a 18 de novembro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, continuamos a assistir atônitos, mas não surpresos, o bate-cabeças da equipe de transição do novo governo que conduzirá o país a partir de 1º de janeiro. O grupo e seu mentor maior ainda não perceberam que a campanha eleitoral acabou. Todos os dias lançam ao vento uma fala, um posicionamento desastroso que gera consequências. Mudança de embaixada, eliminação de “viés ideológico” no comércio mundial e o não financiamento da ditadura cubana que acabou com o programa Mais Médicos, são alguns dos motivos que tornaram o Brasil alvo de chacota do momento.
Infelizmente nossa situação vai piorar. Não é necessário ter bola de cristal para prever isto. Basta interpretar a realidade, coisa que a equipe de transição não conhece, ou finge não existir. Limitemos-nos à atividade econômica.
Não é de hoje que esta coluna alerta para o crescimento pífio da nossa economia. Ao contrário do que o atual governo afirmou, não se pode culpar a greve dos caminhoneiros, pois quatro meses se passaram e a tendência de queda se mantém.
As vendas do varejo, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, caíram 1,3%, em setembro. Esperava-se um recuo de apenas 0,2%. Ao comentar o resultado, os analistas dizem, em coro, que “a recuperação tem sido mais lenta que o esperado...”, um sinal de que as sondagens de expectativas revelam que elas não passaram de expectativas.
Corroborando a tendência, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,09% em setembro, comparado a agosto. Até setembro, o indicador acumula alta de 1,14% e a previsão é de que a atividade econômica avance apenas 1,4%, em 2018. A previsão anual em janeiro era de crescimento de 2,83%.
A inadimplência continua em alta. No mês de outubro, de acordo com dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a quantidade de inadimplentes cresceu 4,22%, comparado a outubro do ano passado. E o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 0,2 ponto, em outubro. É o oitavo mês consecutivo de queda deste indicador, sinal de que o emprego não está se recuperando. Na região metropolitana de São Paulo, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE, apresentam uma taxa de desemprego de 14,6%, no terceiro trimestre, maior que a apresentada no terceiro trimestre do ano passado. A renda média caiu R$ 101,00 comparada também a 2017.
A formação da equipe econômica, a começar pelo “rico” superministro, que sabe de menos, torna a situação preocupante. Sua agenda liberal vai promover o retorno do austericídio e nos levar de volta ao fundo do poço. A propósito, os Chicago Boys estão em alta e ocuparão, além do Ministério da Economia, a presidência da Petrobras (Roberto Castello Branco) e a presidência do BNDES (Joaquim Levy, o retorno).
Lembro ao leitor que durante 10 meses do ano de 2015, Joaquim Levy atuou como ministro da Fazenda do governo de Dilma Roussef e pôs em prática um doloroso ajuste fiscal, aumentando, por exemplo, os juros dos empréstimos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). (Confira em http://progeb.blogspot.com/2015/) As medidas, que tinham como objetivo promover o crescimento, promoveram sim uma queda de 3,8% do PIB em 2015.
Portanto, a experiência tem mostrado que a saída idealizada por Paulo Guedes e seus apadrinhados, provavelmente não entregará o prometido. E se a economia mundial entrar em nova crise, como se está prevendo, nossa economia será dizimada. Mesmo diante desta perspectiva, mais de 100 economistas lançaram, sob o guarda-chuva do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV (Fundação Getúlio Vargas-RJ), um documento intitulado Carta Brasil com propostas em 22 áreas e que, em sua maioria, apoiam as ideias do guru econômico do próximo governo.
Assim sendo, bons ventos não sopram pro lado de cá. Aguardemos.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O superministro que sabia de menos


Semana de 05 a 11 de novembro de 2018

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

A Sétima Arte já retratou histórias e estórias de espiões que, por saberem demais, deveriam findar em uma “queima de arquivo”. Infiltrado do mercado financeiro no futuro governo do capitão “aposentado” eleito, Paulo Guedes demonstrou nos últimos dias pouco conhecimento relacionado a sua futura missão de Superministro da Economia.
A primeira demonstração foi sobre o Mercosul, ao colocar no mesmo pacote Argentina, Venezuela e Bolívia, sendo que os dois últimos países não fazem parte, efetivamente, do bloco (a Venezuela está suspensa e a Bolívia em fase de adesão). Em 1991 (ainda no liberal governo Collor), assinaram o Tratado de Assunção (que deu origem ao bloco) Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. O Superministro afirmou que o comércio com estes países da região não seria prioridade, pois existiria um “viés ideológico” nas transações. A primeira pergunta que fica é: o que seria esse “viés ideológico” associado a uma transação de compra e venda?
Além disso, talvez ele não saiba que o Brasil é quem mais se beneficia neste comércio, pois, dentre outros, os três produtos que mais renderam divisas de exportações ao Brasil no comércio com o Mercosul em 2017 foram veículos rodoviários, máquinas e equipamentos para a indústria e petróleo e seus derivados. Todos eles de grande importância para a cadeia produtiva brasileira.
A segunda demonstração de desconhecimento da realidade, do Superministro, veio de algo que qualquer interessado em administração pública saberia: que a constituição obriga que o orçamento governamental de um determinado ano (a LOA – Lei Orçamentária Anual) seja definido no ano anterior através de um Projeto de Lei (PLOA) votado no parlamento. Pois bem, o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira, convidou Paulo Guedes para participar das discussões, que estão ocorrendo agora, sobre o orçamento de 2019. A resposta, pasmem, foi: pode fazer o orçamento de vocês, que, quando assumirmos em janeiro de 2019, faremos o nosso...
O problema é que o Superministro não está acostumado com a gestão pública. Ele é um agente do sistema financeiro, sócio de uma empresa de investimentos, daquelas que concentram dinheiro de vários agentes econômicos e os aplicam no que considerar mais rentável. Foi assim que ele fez fortuna: apostando contra os Planos Cruzado de Collor e a favor do Real (neste, por exemplo, ele pegou emprestado recurso no exterior a uma taxa de juros de até 2% e comprou títulos do governo, que na época de FHC pagavam até 45% de juros).
A situação é tal que, para assumir a superpasta da Economia, ele terá de vender sua participação na Bozano Investimentos, empresa que pode (e deve) se beneficiar diretamente do que Paulo Guedes vem prometendo ao longo da campanha e, agora, na transição de governo: privatizações e (contra)reformas estruturais.
A cabeça do Superministro é tão enviesada que ele equipara a administração pública com a privada. Nas palavras dele, quando “vendeu algumas subsidiárias e pagou bancos, a Petrobrás passou a valer dez vezes mais. Com o país é a mesma coisa”. Isto é tão falacioso quanto comparar o orçamento governamental com o orçamento familiar. Para início de conversa, o Estado não é um “agente” econômico que visa o lucro ou a “gestão” de 3 ou 4 pessoas, portanto, sua lógica de funcionamento não é a do simples custo-benefício empresarial ou da manutenção de um grupo pequeno de pessoas. O Estado é a instituição que reúne e “administra” os diversos interesses (muitas vezes conflituosos) das distintas classes que compõem uma sociedade. Claro que as classes mais fortes economicamente são as de maior poder político. Mesmo assim, elas não podem transformar o Estado em um instrumento exclusivo de realização dos seus interesses. E isto já é manifestado pela Confederação Nacional da Indústria, que deve se prejudicar com as medidas ultraliberais, benéficas ao setor financeiro. A própria classe trabalhadora pode se organizar e impor barreiras às mudanças que vão retirar seus direitos.
Pelo que parece, não é por saber demais que o Superministro e sua equipe vão se queimar, mas por saberem de menos como funciona a gestão pública.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O novo governo e a economia


Semana de 29 de outubro a 04 de novembro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Resistindo à tentação de falar de política passemos à análise da conjuntura. Internamente, as notícias econômicas não são boas. A lenta recuperação está ainda mais lenta apesar da euforia no setor financeiro provocada pelo resultado eleitoral, saudado com o foguetório das entidades empresariais como a CNI, CNC, ruralistas, Febraban, etc. Um dos indicadores dessa euforia é o Índice de Confiança Empresarial (ICE) calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que subiu 0,9 pontos, entre setembro e outubro, além das notas de apoio publicadas nos jornais.
No entanto a situação da economia não é animadora. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatísticas (IBGE) referentes a setembro, em relação a agosto, mostram uma queda de 1,8% da produção industrial. É a terceira queda seguida neste setor. O IBGE também revisou para pior as quedas de agosto frente a julho (-0,7) e de julho frente a junho (-0,2%). Houve queda em 16 dos 26 ramos industriais destacando-se o de veículos, reboques e carrocerias (-5,1%), máquinas e equipamentos (-10,3%), bebidas (-9,6%), bens de consumo duráveis (-5,5%), bens de capital (-1,3%) e bens intermediários (-1,0%).
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a partir de dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, destaca que a recuperação da indústria perdeu forças. De 93 segmentos estudados, 49 pioraram o desempenho, de janeiro a agosto, em relação ao ano passado e 52% da indústria terá um desempenho decepcionante. Os 4,2% de crescimento industrial previstos pelo Boletim Focus do Banco Central (BC), no começo do ano, foram reduzidos para 2,6% agora. Um terço dos setores permanece em um quadro de crise com destaque para os fabricantes de bens de capital pesados como tanques, caldeiras e reservatórios pesados (-17,5%), geradores, transformadores, motores elétricos (-4,8%), máquinas e equipamentos de uso geral (-1,0%).
Pelo lado do emprego a situação também não é animadora. Apesar de haver uma pequena redução do número de desempregados, os novos empregos criados são de má qualidade, baixa remuneração e informais. A taxa de ocupação caiu para 11,9%, mas, dos 1,3 milhões de empregos criados, 900 mil são informais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, feita pelo IBGE. Continuam desempregados 12,492 milhões de pessoas. Enquanto os empregos sem carteira assinada cresceram 4,7% os com carteira assinada apenas 0,4%. A precária situação da indústria fez com que a demanda interna fosse suprida pelas importações de produtos industriais. No terceiro trimestre o déficit da balança comercial de produtos da indústria de transformação foi 10 vezes maior atingindo US$46,4 bilhões.
A situação internacional vem se agravando ainda mais rapidamente. As bolsas nos EUA apresentaram fortes quedas. O mês de outubro está sendo considerado o pior outubro em uma década. O índice S&P 500, referência do mercado de ações, caiu 7,94%, a maior queda desde 2010. O Dow Jones perdeu 5,99%, o pior desempenho desde 2015. O Nasdaq Composto recuou 11,0%, o pior desde 2008. Os analistas atribuem este pânico ao aumento dos juros nos EUA, à guerra comercial com os chineses, aos problemas financeiros da Itália e a algumas preocupações com a economia americana. Na zona do euro, além dos problemas italianos, também há preocupações com a economia alemã e com redução dos programas de estímulos monetários do Banco Central Europeu. Na América Latina um relatório da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) alerta para a queda das exportações diante do esfriamento do comércio internacional.
O novo governo terá de enfrentar assim, condições internas e externas adversas. Apenas a inflação continua domada o que fez o BC manter a taxa Selic em 6,5%. Nestas condições é de se temer a condução da economia que o novo ministro Guedes pretende imprimir com sua visão liberal e de austeridade fiscal.
Preparemo-nos para as consequências sociais que elas provocarão.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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