Semana de 19 a 25 de novembro de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Dois grandes temas destacam-se na semana: a
desaceleração da economia mundial e a formação do novo governo.
Comecemos pela desaceleração da economia
mundial, assunto já tratado nesta coluna há vários meses. É só conferir nos
jornais anteriores ou no Blog do PROGEB (progeb.blogspot.com) onde elas estão
disponíveis.
Os sintomas que apontam na direção da
aproximação de uma nova crise são cada vez mais evidentes e há mesmo quem fale
da aproximação de uma “tempestade perfeita”. Discute-se se ocorrerá em 2019 ou
nos anos seguintes. Os principais fatores aprontados como causas são: a guerra
comercial Trump x China, a elevação das taxas de juros do Fed (Banco Central
americano), as incertezas políticas como o Brexit (saída da Inglaterra da União
Europeia) e as eleições na Alemanha e Itália.
Há analistas que afirmam que a
desaceleração já vem ocorrendo e estes fatores apenas agravam o fenômeno. O
processo é comandado pelas grandes economias, que são as locomotivas EUA, China
e União Europeia. As estimativas para o crescimento global para 2019 e 2020 já
foram reduzidas de 3,7% para 3%, pela Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. Para a economia dos EUA,
o Federal Open Market Commitee, órgão do Fed (equivalente ao nosso Copom do BC)
prevê que o crescimento de 3,1% deste ano cairá para 2,5% em 2019, 2% em 2020 e
1,8% em 2021. Para a China, os 6,6% deste ano se reduzirão para 6,3% em 2019 e
6% em 2020, segundo a OCDE. A economia do Japão, a terceira maior do mundo, já
teve, no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 1,2%.
Algumas organizações privadas também
divulgaram estimativas pessimistas. A Oxford Economics, por exemplo, prevê que
o crescimento do PIB mundial cairá de 3,1%, este ano, para 2,8%, em 2019 e o
Goldman Sachs estima que a economia americana desacelerará para 1,75%, em 2019.
Como vemos, e como vínhamos prevendo, o
cenário mundial, para o novo governo, não será dos mais favoráveis. O agravante
é que a tempestade desabará sobre um governo que não vem apresentando, em sua
composição, um panorama muito animador. Os constantes desmentidos e
desautorizações do presidente eleito são uma demonstração disso e olhe que ele
conseguiu ficar calado durante quase toda a campanha. Imagine se ele tivesse
falado!
Os poucos dados sobre a economia do país
também não são animadores. A saída de recursos, por efeitos sazonais, segundo
os analistas, está provocando uma alta do dólar superior a 2%, no mês, e a
moeda já ultrapassa os R$3,80. Foram criadas 57,7 mil vagas de trabalho com
carteira assinada, em outubro, mas o número ficou abaixo do esperado e vem
caindo, o que reflete uma desaceleração da retomada da economia. O Índice de
Atividade Econômica do BC (IBC-Br) cresceu 1,74%, no terceiro trimestre, depois
de cair 0,8%, no trimestre anterior. Mas em setembro, o crescimento foi de
apenas 0,5% e as expectativas para o quarto trimestre não são boas.
Enquanto isso, o novo governo vai se
constituindo e os nomes dos escolhidos vão sendo anunciados a conta gotas. Nada
é muito surpreendente. O número de militares de alta patente é elevado e talvez
maior que nos tempos da ditadura. Eles formam um dos grupos de pressão. O outro
grande grupo é constituído pelos amigos do ministro czar da economia, Paulo
Guedes. Sua equipe vai substituir, com vantagem, a atual “equipe dos
pesadelos”. Provavelmente vai ultrapassar as expectativas pela linha dura
ortodoxa. São os Chicago boys já auto denominados “Chicago oldies”. É uma
poderosa equipe de doutores em universidades americanas e adeptos da mesma
cartilha liberal. O pior grupo é, porém, o escolhido pelos parlamentares com o
Lorenzoni na cabeça e que inclui os indicados pelo pseudo filósofo e astrólogo
Olavo de Carvalho. É nesse grupo que se inclui o louco que, segundo o
jornalista Ricardo Boechat, beira a debilidade mental pelas suas declarações e
que chefiará as relações exteriores.
É aguardar a tragicomédia resultante desta
inusitada mistura.
Para rir ... e chorar.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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