quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A atividade econômica mantém desempenho pífio


Semana de 12 a 18 de novembro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, continuamos a assistir atônitos, mas não surpresos, o bate-cabeças da equipe de transição do novo governo que conduzirá o país a partir de 1º de janeiro. O grupo e seu mentor maior ainda não perceberam que a campanha eleitoral acabou. Todos os dias lançam ao vento uma fala, um posicionamento desastroso que gera consequências. Mudança de embaixada, eliminação de “viés ideológico” no comércio mundial e o não financiamento da ditadura cubana que acabou com o programa Mais Médicos, são alguns dos motivos que tornaram o Brasil alvo de chacota do momento.
Infelizmente nossa situação vai piorar. Não é necessário ter bola de cristal para prever isto. Basta interpretar a realidade, coisa que a equipe de transição não conhece, ou finge não existir. Limitemos-nos à atividade econômica.
Não é de hoje que esta coluna alerta para o crescimento pífio da nossa economia. Ao contrário do que o atual governo afirmou, não se pode culpar a greve dos caminhoneiros, pois quatro meses se passaram e a tendência de queda se mantém.
As vendas do varejo, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, caíram 1,3%, em setembro. Esperava-se um recuo de apenas 0,2%. Ao comentar o resultado, os analistas dizem, em coro, que “a recuperação tem sido mais lenta que o esperado...”, um sinal de que as sondagens de expectativas revelam que elas não passaram de expectativas.
Corroborando a tendência, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,09% em setembro, comparado a agosto. Até setembro, o indicador acumula alta de 1,14% e a previsão é de que a atividade econômica avance apenas 1,4%, em 2018. A previsão anual em janeiro era de crescimento de 2,83%.
A inadimplência continua em alta. No mês de outubro, de acordo com dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a quantidade de inadimplentes cresceu 4,22%, comparado a outubro do ano passado. E o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 0,2 ponto, em outubro. É o oitavo mês consecutivo de queda deste indicador, sinal de que o emprego não está se recuperando. Na região metropolitana de São Paulo, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE, apresentam uma taxa de desemprego de 14,6%, no terceiro trimestre, maior que a apresentada no terceiro trimestre do ano passado. A renda média caiu R$ 101,00 comparada também a 2017.
A formação da equipe econômica, a começar pelo “rico” superministro, que sabe de menos, torna a situação preocupante. Sua agenda liberal vai promover o retorno do austericídio e nos levar de volta ao fundo do poço. A propósito, os Chicago Boys estão em alta e ocuparão, além do Ministério da Economia, a presidência da Petrobras (Roberto Castello Branco) e a presidência do BNDES (Joaquim Levy, o retorno).
Lembro ao leitor que durante 10 meses do ano de 2015, Joaquim Levy atuou como ministro da Fazenda do governo de Dilma Roussef e pôs em prática um doloroso ajuste fiscal, aumentando, por exemplo, os juros dos empréstimos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). (Confira em http://progeb.blogspot.com/2015/) As medidas, que tinham como objetivo promover o crescimento, promoveram sim uma queda de 3,8% do PIB em 2015.
Portanto, a experiência tem mostrado que a saída idealizada por Paulo Guedes e seus apadrinhados, provavelmente não entregará o prometido. E se a economia mundial entrar em nova crise, como se está prevendo, nossa economia será dizimada. Mesmo diante desta perspectiva, mais de 100 economistas lançaram, sob o guarda-chuva do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV (Fundação Getúlio Vargas-RJ), um documento intitulado Carta Brasil com propostas em 22 áreas e que, em sua maioria, apoiam as ideias do guru econômico do próximo governo.
Assim sendo, bons ventos não sopram pro lado de cá. Aguardemos.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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