quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O novo governo e a economia


Semana de 29 de outubro a 04 de novembro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Resistindo à tentação de falar de política passemos à análise da conjuntura. Internamente, as notícias econômicas não são boas. A lenta recuperação está ainda mais lenta apesar da euforia no setor financeiro provocada pelo resultado eleitoral, saudado com o foguetório das entidades empresariais como a CNI, CNC, ruralistas, Febraban, etc. Um dos indicadores dessa euforia é o Índice de Confiança Empresarial (ICE) calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que subiu 0,9 pontos, entre setembro e outubro, além das notas de apoio publicadas nos jornais.
No entanto a situação da economia não é animadora. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatísticas (IBGE) referentes a setembro, em relação a agosto, mostram uma queda de 1,8% da produção industrial. É a terceira queda seguida neste setor. O IBGE também revisou para pior as quedas de agosto frente a julho (-0,7) e de julho frente a junho (-0,2%). Houve queda em 16 dos 26 ramos industriais destacando-se o de veículos, reboques e carrocerias (-5,1%), máquinas e equipamentos (-10,3%), bebidas (-9,6%), bens de consumo duráveis (-5,5%), bens de capital (-1,3%) e bens intermediários (-1,0%).
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a partir de dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, destaca que a recuperação da indústria perdeu forças. De 93 segmentos estudados, 49 pioraram o desempenho, de janeiro a agosto, em relação ao ano passado e 52% da indústria terá um desempenho decepcionante. Os 4,2% de crescimento industrial previstos pelo Boletim Focus do Banco Central (BC), no começo do ano, foram reduzidos para 2,6% agora. Um terço dos setores permanece em um quadro de crise com destaque para os fabricantes de bens de capital pesados como tanques, caldeiras e reservatórios pesados (-17,5%), geradores, transformadores, motores elétricos (-4,8%), máquinas e equipamentos de uso geral (-1,0%).
Pelo lado do emprego a situação também não é animadora. Apesar de haver uma pequena redução do número de desempregados, os novos empregos criados são de má qualidade, baixa remuneração e informais. A taxa de ocupação caiu para 11,9%, mas, dos 1,3 milhões de empregos criados, 900 mil são informais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, feita pelo IBGE. Continuam desempregados 12,492 milhões de pessoas. Enquanto os empregos sem carteira assinada cresceram 4,7% os com carteira assinada apenas 0,4%. A precária situação da indústria fez com que a demanda interna fosse suprida pelas importações de produtos industriais. No terceiro trimestre o déficit da balança comercial de produtos da indústria de transformação foi 10 vezes maior atingindo US$46,4 bilhões.
A situação internacional vem se agravando ainda mais rapidamente. As bolsas nos EUA apresentaram fortes quedas. O mês de outubro está sendo considerado o pior outubro em uma década. O índice S&P 500, referência do mercado de ações, caiu 7,94%, a maior queda desde 2010. O Dow Jones perdeu 5,99%, o pior desempenho desde 2015. O Nasdaq Composto recuou 11,0%, o pior desde 2008. Os analistas atribuem este pânico ao aumento dos juros nos EUA, à guerra comercial com os chineses, aos problemas financeiros da Itália e a algumas preocupações com a economia americana. Na zona do euro, além dos problemas italianos, também há preocupações com a economia alemã e com redução dos programas de estímulos monetários do Banco Central Europeu. Na América Latina um relatório da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) alerta para a queda das exportações diante do esfriamento do comércio internacional.
O novo governo terá de enfrentar assim, condições internas e externas adversas. Apenas a inflação continua domada o que fez o BC manter a taxa Selic em 6,5%. Nestas condições é de se temer a condução da economia que o novo ministro Guedes pretende imprimir com sua visão liberal e de austeridade fiscal.
Preparemo-nos para as consequências sociais que elas provocarão.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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