Semana de 07 a 13 de janeiro de 2019
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Em economia, como o próprio nome sugere, “Resto do
mundo” é como classificamos todos os demais países que realizam algum tipo de
transação com o nosso. Isto é importante, naturalmente, porque esta relação
influencia a atividade produtiva de qualquer nação individualmente, seja na
entrada seja na saída de recursos.
No caso do Brasil, segundo o IBGE, do PIB total
produzido entre 2000 e 2017, 12,5% foram exportados para o “Resto do mundo”.
Entre 2003 e 2008, quando passamos por um período de forte crescimento da
demanda mundial por commodities (basicamente produtos primários e de baixo
valor agregado), as exportações corresponderam a 14,5% do PIB. De lá pra cá (a
partir de 2009), o percentual do PIB brasileiro que foi exportado caiu para
11,9%. De qualquer forma, esta cifra é significativamente superior ao visto na
última metade da década de 1990 (década em que o país passou por uma
“reestruturação produtiva”), quando o Brasil exportou apenas 7,6% do PIB.
As importações apresentaram cifras semelhantes, mas
com menor oscilação ao longo do tempo. De acordo com os dados do IBGE, durante
a última metade da década de 1990, as importações corresponderam a 9,8% do PIB
brasileiro, ou seja, aquilo que foi necessário comprar do “Resto do mundo”
correspondeu a quase um décimo do valor de tudo o que o país produziu entre
1995 e 1999. Isto fez parte da já falada reestruturação produtiva dos anos de
1990. Findo este processo, as importações como proporção do PIB passaram a
apresentar um padrão nas décadas seguintes: 12,8% entre 2000 e 2017, sendo que
entre 2003 e 2008 foi de 12,6% e entre 2009 e 2017 foi de 12,8%.
Assim, vemos que parte do comportamento da economia
brasileira tem relação direta com os produtos vindos e vendidos ao “Resto do
mundo”. Somando as importações e exportações, a corrente comercial do Brasil
com os demais países do mundo correspondeu a 25,3% do PIB, entre 2000 e 2017.
Em análises anteriores, já foi dito que a economia
nacional está saindo a passos curtos da sua pior crise. Contudo, também foi
dito que a economia mundial está dando sinais de que entrará em fase de crise.
Pois bem, os dados referentes ao fim de 2018 mostram que ela já pode ter
chegado nesta fase.
O primeiro sinal vem da maior economia da Europa, a
alemã, que, segundo estimativas preliminares de órgãos oficiais, cresceu apenas
1,5%, em 2018. Este é o menor valor dos últimos 5 anos. Esta taxa deve ter
evitado uma recessão técnica (quando há decrescimento do PIB em dois trimestres
consecutivos), na medida em que representa crescimento positivo no último
trimestre de 2018, ante a queda de 0,2% no terceiro trimestre. De qualquer
forma, isto sinaliza que as turbulências na economia do “velho continente” não
foram superadas. Na União Europeia, segundo a Eurostat, entre novembro e
outubro de 2018, a produção de bens de capital caiu 1,6%, bens intermediários 1,1%,
bens de consumo duráveis 1,0%, bens de consumo não-duráveis 0,6% e energia
0,5%. Dentre as principais causas apontadas para isto está a redução da
atividade chinesa.
Apesar de todo o ano de 2018 apresentar um
crescimento significativo no comércio exterior (9,9% nas vendas e 15,8% nas
compras em relação a 2017), em dezembro de 2018 as exportações da China
reduziram-se em 4,4%, em relação ao mesmo mês de 2017, e as importações caíram
7,6% na mesma comparação. A desaceleração do país asiático ao longo de 2018 foi
tal que o governo chinês está preparando um pacote de estímulos fiscais para
reaquecer a demanda doméstica.
A partir dos dados oficiais a serem divulgados sobre
a atividade produtiva internacional nos últimos meses de 2018 poderemos ter
maiores informações do que está acontecendo (e já aconteceu) com o ciclo
econômico mundial. Contudo, as informações disponíveis, as políticas econômicas
(fiscais e monetárias) e as perspectivas de vários analistas nos dão fortes
indícios de que a crise mundial já se manifesta.
Resta saber como nosso superministro irá enfrentá-la
já que ele nem se dá conta de que ela vem aí.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
0 comentários:
Postar um comentário