quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O que esperar do “Resto do mundo” em 2019


Semana de 07 a 13 de janeiro de 2019

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Em economia, como o próprio nome sugere, “Resto do mundo” é como classificamos todos os demais países que realizam algum tipo de transação com o nosso. Isto é importante, naturalmente, porque esta relação influencia a atividade produtiva de qualquer nação individualmente, seja na entrada seja na saída de recursos.
No caso do Brasil, segundo o IBGE, do PIB total produzido entre 2000 e 2017, 12,5% foram exportados para o “Resto do mundo”. Entre 2003 e 2008, quando passamos por um período de forte crescimento da demanda mundial por commodities (basicamente produtos primários e de baixo valor agregado), as exportações corresponderam a 14,5% do PIB. De lá pra cá (a partir de 2009), o percentual do PIB brasileiro que foi exportado caiu para 11,9%. De qualquer forma, esta cifra é significativamente superior ao visto na última metade da década de 1990 (década em que o país passou por uma “reestruturação produtiva”), quando o Brasil exportou apenas 7,6% do PIB.
As importações apresentaram cifras semelhantes, mas com menor oscilação ao longo do tempo. De acordo com os dados do IBGE, durante a última metade da década de 1990, as importações corresponderam a 9,8% do PIB brasileiro, ou seja, aquilo que foi necessário comprar do “Resto do mundo” correspondeu a quase um décimo do valor de tudo o que o país produziu entre 1995 e 1999. Isto fez parte da já falada reestruturação produtiva dos anos de 1990. Findo este processo, as importações como proporção do PIB passaram a apresentar um padrão nas décadas seguintes: 12,8% entre 2000 e 2017, sendo que entre 2003 e 2008 foi de 12,6% e entre 2009 e 2017 foi de 12,8%.
Assim, vemos que parte do comportamento da economia brasileira tem relação direta com os produtos vindos e vendidos ao “Resto do mundo”. Somando as importações e exportações, a corrente comercial do Brasil com os demais países do mundo correspondeu a 25,3% do PIB, entre 2000 e 2017.
Em análises anteriores, já foi dito que a economia nacional está saindo a passos curtos da sua pior crise. Contudo, também foi dito que a economia mundial está dando sinais de que entrará em fase de crise. Pois bem, os dados referentes ao fim de 2018 mostram que ela já pode ter chegado nesta fase.
O primeiro sinal vem da maior economia da Europa, a alemã, que, segundo estimativas preliminares de órgãos oficiais, cresceu apenas 1,5%, em 2018. Este é o menor valor dos últimos 5 anos. Esta taxa deve ter evitado uma recessão técnica (quando há decrescimento do PIB em dois trimestres consecutivos), na medida em que representa crescimento positivo no último trimestre de 2018, ante a queda de 0,2% no terceiro trimestre. De qualquer forma, isto sinaliza que as turbulências na economia do “velho continente” não foram superadas. Na União Europeia, segundo a Eurostat, entre novembro e outubro de 2018, a produção de bens de capital caiu 1,6%, bens intermediários 1,1%, bens de consumo duráveis 1,0%, bens de consumo não-duráveis 0,6% e energia 0,5%. Dentre as principais causas apontadas para isto está a redução da atividade chinesa.
Apesar de todo o ano de 2018 apresentar um crescimento significativo no comércio exterior (9,9% nas vendas e 15,8% nas compras em relação a 2017), em dezembro de 2018 as exportações da China reduziram-se em 4,4%, em relação ao mesmo mês de 2017, e as importações caíram 7,6% na mesma comparação. A desaceleração do país asiático ao longo de 2018 foi tal que o governo chinês está preparando um pacote de estímulos fiscais para reaquecer a demanda doméstica.
A partir dos dados oficiais a serem divulgados sobre a atividade produtiva internacional nos últimos meses de 2018 poderemos ter maiores informações do que está acontecendo (e já aconteceu) com o ciclo econômico mundial. Contudo, as informações disponíveis, as políticas econômicas (fiscais e monetárias) e as perspectivas de vários analistas nos dão fortes indícios de que a crise mundial já se manifesta.
Resta saber como nosso superministro irá enfrentá-la já que ele nem se dá conta de que ela vem aí.

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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