quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Davos: a montanha pariu um rato


Semana de 21 a 27 de janeiro de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]
        
Quatro cadeiras vazias com os nomes do presidente e de três de seus ministros mais importantes, entre os quais as duas grandes estrelas do governo: o Chicago oldie Paulo Guedes, com sua pregação liberal, e o ex-juiz Moro, o paladino da moralidade. Para vergonha de uma nação ninguém apareceu na conferência marcada sem que qualquer desculpa ou satisfação fosse dada aos organizadores do evento. O fato gerou “constrangimento e perplexidade” segundo a imprensa internacional.
Mas não foi a única decepção. O esperado discurso do presidente Bolsonaro, que devia durar 45 minutos, não passou dos 6, e vazios. Foi considerado “decepcionante”. Não foi além das afirmações genéricas do tipo: aumentar a segurança, combater a corrupção, reduzir o tamanho do estado, privatizar tudo, garantir os contratos, aumentar a abertura comercial, equilibrar as finanças, defender a família, a propriedade privada, os direitos humanos, etc. Não foi mais longe que isto. Um verdadeiro fiasco que só contribuiu para derrubar a bolsa de valores no Brasil. O IBOVESPA caiu 0,94%.
O que salvou a missão foram as importantes reuniões do presidente com o lixo da ultradireita europeia: o primeiro ministro da República Tcheca Andrej Babis e o presidente da Polônia Andrzej Duda, além do premier da Itália. Ainda teve tempo de aconselhar o candidato direitista à presidência do Uruguai, o magnata Juan Sartori. Outros importantes encontros anunciados foram os do ministro Guedes com ministros dos Países Baixos e de Isael.
Além da decepção Brasil, o Fórum Econômico Mundial em Davos na Suíça teve outras desilusões. Foi sentida a ausência de três grandes: os EUA, ocupados com o muro anti-mexicano e a briga Trump x congresso, o Reino Unido, desunido pelo Brexit e a França ameaçada pelos coletes amarelos.
Além desses contratempos, o Fórum sofreu o impacto do pessimismo com a possibilidade de uma nova grande crise que se aproxima. A Diretora Gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde, alertou os países que “... é preciso tratar as vulnerabilidades e estar pronto para quando uma séria desaceleração se materializar”. E não foi só ela. Os CEOs globais manifestaram seu pessimismo em uma pesquisa que envolveu 1.370 dirigentes empresariais em 91 países. Apenas 35% deles acreditam em ampliar seu faturamento nos próximos anos.
Como resultado deste pessimismo o fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) para o Brasil, em 2018, teve uma queda de 12%, segundo a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
A redução o crescimento da China é outro agravante. Em 2018, o país cresceu apenas 6,6%, a menor taxa desde 1990. Tanto as vendas no varejo quanto a produção industrial sofreram um processo de desaceleração.
Na União Europeia (UE) a situação não é melhor. O Banco Central Europeu (BCE) veio dar a sua colaboração ao clima de pessimismo ao afirmar que “a persistência das incertezas” moveu as perspectivas de crescimento “para o lado negativo”. O BCE divulgou o seu Índice dos Gerentes de Compras (PMI) que indicou que a economia da zona do euro se aproxima da estagnação. O índice caiu de 51,1 para 50,7 (abaixo de 50 significa depressão). Foi o mais baixo em 66 meses. No terceiro trimestre do ano passado a economia cresceu 0,2%. Diante deste quadro o banco decidiu manter a taxa de juros de referência em zero e a de depósito compulsório dos bancos em -0,4%. A estimativa de expansão da economia para 2018 foi rebaixada para 1,9%.
Aqui no nosso continente a coisa não é muito diferente. Além da tensão com a Venezuela, que pode descambar para uma solução militar, a crise da Argentina afeta diretamente nossa produção industrial com a queda nas exportações.
Neste ambiente o governo é torpedeado com fogo amigo, com as brigas internas no PSL, o bate-boca entre o guru Olavo de Carvalho e os deputados, e com as denúncias de corrupção do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, para não falar da cirurgia.
Está ficando complicado. Além de queda, ... coice.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog