Semana de 21 a 27 de janeiro de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Quatro cadeiras vazias com os nomes do
presidente e de três de seus ministros mais importantes, entre os quais as duas
grandes estrelas do governo: o Chicago oldie Paulo Guedes, com sua pregação
liberal, e o ex-juiz Moro, o paladino da moralidade. Para vergonha de uma nação
ninguém apareceu na conferência marcada sem que qualquer desculpa ou satisfação
fosse dada aos organizadores do evento. O fato gerou “constrangimento e
perplexidade” segundo a imprensa internacional.
Mas não foi a única decepção. O esperado
discurso do presidente Bolsonaro, que devia durar 45 minutos, não passou dos 6,
e vazios. Foi considerado “decepcionante”. Não foi além das afirmações
genéricas do tipo: aumentar a segurança, combater a corrupção, reduzir o
tamanho do estado, privatizar tudo, garantir os contratos, aumentar a abertura
comercial, equilibrar as finanças, defender a família, a propriedade privada,
os direitos humanos, etc. Não foi mais longe que isto. Um verdadeiro fiasco que
só contribuiu para derrubar a bolsa de valores no Brasil. O IBOVESPA caiu
0,94%.
O que salvou a missão foram as importantes
reuniões do presidente com o lixo da ultradireita europeia: o primeiro ministro
da República Tcheca Andrej Babis e o presidente da Polônia Andrzej Duda, além
do premier da Itália. Ainda teve tempo de aconselhar o candidato direitista à
presidência do Uruguai, o magnata Juan Sartori. Outros importantes encontros
anunciados foram os do ministro Guedes com ministros dos Países Baixos e de
Isael.
Além da decepção Brasil, o Fórum Econômico
Mundial em Davos na Suíça teve outras desilusões. Foi sentida a ausência de
três grandes: os EUA, ocupados com o muro anti-mexicano e a briga Trump x
congresso, o Reino Unido, desunido pelo Brexit e a França ameaçada pelos
coletes amarelos.
Além desses contratempos, o Fórum sofreu o
impacto do pessimismo com a possibilidade de uma nova grande crise que se
aproxima. A Diretora Gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine
Lagarde, alertou os países que “... é preciso tratar as vulnerabilidades e
estar pronto para quando uma séria desaceleração se materializar”. E não foi só
ela. Os CEOs globais manifestaram seu pessimismo em uma pesquisa que envolveu
1.370 dirigentes empresariais em 91 países. Apenas 35% deles acreditam em
ampliar seu faturamento nos próximos anos.
Como resultado deste pessimismo o fluxo de
Investimento Estrangeiro Direto (IED) para o Brasil, em 2018, teve uma queda de
12%, segundo a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento
(Unctad).
A redução o crescimento da China é outro
agravante. Em 2018, o país cresceu apenas 6,6%, a menor taxa desde 1990. Tanto
as vendas no varejo quanto a produção industrial sofreram um processo de
desaceleração.
Na União Europeia (UE) a situação não é
melhor. O Banco Central Europeu (BCE) veio dar a sua colaboração ao clima de
pessimismo ao afirmar que “a persistência das incertezas” moveu as perspectivas
de crescimento “para o lado negativo”. O BCE divulgou o seu Índice dos Gerentes
de Compras (PMI) que indicou que a economia da zona do euro se aproxima da
estagnação. O índice caiu de 51,1 para 50,7 (abaixo de 50 significa depressão).
Foi o mais baixo em 66 meses. No terceiro trimestre do ano passado a economia
cresceu 0,2%. Diante deste quadro o banco decidiu manter a taxa de juros de
referência em zero e a de depósito compulsório dos bancos em -0,4%. A
estimativa de expansão da economia para 2018 foi rebaixada para 1,9%.
Aqui no nosso continente a coisa não é
muito diferente. Além da tensão com a Venezuela, que pode descambar para uma
solução militar, a crise da Argentina afeta diretamente nossa produção
industrial com a queda nas exportações.
Neste ambiente o governo é torpedeado com
fogo amigo, com as brigas internas no PSL, o bate-boca entre o guru Olavo de
Carvalho e os deputados, e com as denúncias de corrupção do filho do
presidente, o senador Flávio Bolsonaro, para não falar da cirurgia.
Está ficando complicado. Além de queda, ...
coice.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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