Semana de 14 a 20 de janeiro de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, após leve alta de 0,02% em outubro, o
Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), cresceu apenas 0,29%,
em novembro. Este número fortalece a projeção de que o resultado do quarto
trimestre será fraco, e ainda pôs em dúvida a projeção de 2,5% para o PIB de
2019. No mês, a produção industrial aumentou somente 0,1%, o setor de serviços
ficou estável e as vendas no varejo cresceram 2,9%, influenciadas pela Black
Friday.
Outros números preocupam. Os indicadores
antecedentes de dezembro deram péssimos sinais. Segundo a Fundação Getulio
Vargas (FGV) e a LCA Consultores, a utilização da capacidade instalada da
indústria diminuiu 0,8%, o tráfego de veículos pesados nas estradas caiu 1,4%,
a expedição de papelão ondulado diminuiu 4,4% e a venda de veículos caiu 3,8%.
O desemprego, segundo apurou a PNAD (Pesquisa
nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, caiu para 11,6%, no trimestre
encerrado em novembro. Mas, o BTG Pactual levantou preocupações referentes ao
mercado de trabalho, pois permanece o alto nível de informalidade, com salários
reais estagnados e cresce a mão de obra subutilizada (desempregados somados
àqueles que desejam trabalhar por mais tempo e trabalhadores que deixaram de
procurar uma vaga).
Mesmo assim os analistas demonstram otimismo. A
melhoria das condições financeiras, a possível aprovação das reformas, a
inflação baixa com manutenção de juros também baixos, a recuperação do crédito
e a melhora do mercado de trabalho são, segundo eles, indicadores potenciais da
nossa recuperação. Mas, eles não consideram a evolução da situação mundial
coisa que temos alertado em nossas últimas análises.
O Fórum Econômico Mundial começa diante da iminência
de uma nova crise. Uma das ameaças vem da dívida global acumulada de 225% do
PIB de todo o mundo, volume que está maior do que o de antes da crise de 2008.
As demais ameaças vêm da desaceleração econômica dos países. O Fundo Monetário
Internacional (FMI) já constatou gradual desaceleração para os próximos anos. E
as projeções de crescimento menor na China, de 6,6% em 2018, para 6,2% neste
ano e 5,8% em 2022 são também alvos de preocupação. A Capital Economics
declarou que a desaceleração global vai ser impulsionada pelos EUA, pelo
aumento dos juros e pela exaustão dos estímulos fiscais promovidos por Donald
Trump. A Itália e a Alemanha também estão à beira de uma recessão. Diante deste
cenário, o Rabobank apontou até uma data para a eclosão do evento: a partir de
maio de 2020.
Enquanto isso, assistimos, internamente, nada
surpresos, a queda dos arautos da honestidade, retratada no episódio sem fim do
Fabrício Queiroz que atingiu em cheio a “família tradicional” a partir do
envolvimento de Flávio Bolsonaro.
Com a atenção voltada para estes escândalos a
situação externa está passando despercebida. E como o superministro da Economia
ainda está deslumbrado com a sua própria posse, não se deu conta do perigo
iminente. Alheia à realidade, a comitiva presidencial partiu para Davos. Paulo
Guedes desfilará como autoridade suprema que traz nas mãos o grande milagre
econômico liberal. Sérgio Moro posará de caçador de corruptos e o presidente
ganhou mais importância diante da ausência das autoridades dos Estados Unidos,
França e Reino Unido.
Ao pisar em solo suíço, Bolsonaro deu o tom do seu
discurso. Em entrevista, disse que seu maior objetivo é garantir que os
negócios “voltem a florescer entre o Brasil e o mundo, sem o viés ideológico”.
Tais afirmações sem sentido refletem as ideias de
uma equipe de governo formada com grupos de interesses diversos que vão desde
as questões econômicas e de infraestrutura (os moderados) às questões dos
costumes, lendas, conspirações e coisas afins (os alucinados) que defendem a
luta contra a dominação comunista mundial (!) e o marxismo cultural.
Por enquanto
está ganhando o discurso alucinado. Começamos mal.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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