quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Queiroz, Flávio, Economia e Davos: tudo junto e misturado


Semana de 14 a 20 de janeiro de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, após leve alta de 0,02% em outubro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), cresceu apenas 0,29%, em novembro. Este número fortalece a projeção de que o resultado do quarto trimestre será fraco, e ainda pôs em dúvida a projeção de 2,5% para o PIB de 2019. No mês, a produção industrial aumentou somente 0,1%, o setor de serviços ficou estável e as vendas no varejo cresceram 2,9%, influenciadas pela Black Friday.
Outros números preocupam. Os indicadores antecedentes de dezembro deram péssimos sinais. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a LCA Consultores, a utilização da capacidade instalada da indústria diminuiu 0,8%, o tráfego de veículos pesados nas estradas caiu 1,4%, a expedição de papelão ondulado diminuiu 4,4% e a venda de veículos caiu 3,8%.
O desemprego, segundo apurou a PNAD (Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, caiu para 11,6%, no trimestre encerrado em novembro. Mas, o BTG Pactual levantou preocupações referentes ao mercado de trabalho, pois permanece o alto nível de informalidade, com salários reais estagnados e cresce a mão de obra subutilizada (desempregados somados àqueles que desejam trabalhar por mais tempo e trabalhadores que deixaram de procurar uma vaga).
Mesmo assim os analistas demonstram otimismo. A melhoria das condições financeiras, a possível aprovação das reformas, a inflação baixa com manutenção de juros também baixos, a recuperação do crédito e a melhora do mercado de trabalho são, segundo eles, indicadores potenciais da nossa recuperação. Mas, eles não consideram a evolução da situação mundial coisa que temos alertado em nossas últimas análises.
O Fórum Econômico Mundial começa diante da iminência de uma nova crise. Uma das ameaças vem da dívida global acumulada de 225% do PIB de todo o mundo, volume que está maior do que o de antes da crise de 2008. As demais ameaças vêm da desaceleração econômica dos países. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já constatou gradual desaceleração para os próximos anos. E as projeções de crescimento menor na China, de 6,6% em 2018, para 6,2% neste ano e 5,8% em 2022 são também alvos de preocupação. A Capital Economics declarou que a desaceleração global vai ser impulsionada pelos EUA, pelo aumento dos juros e pela exaustão dos estímulos fiscais promovidos por Donald Trump. A Itália e a Alemanha também estão à beira de uma recessão. Diante deste cenário, o Rabobank apontou até uma data para a eclosão do evento: a partir de maio de 2020.
Enquanto isso, assistimos, internamente, nada surpresos, a queda dos arautos da honestidade, retratada no episódio sem fim do Fabrício Queiroz que atingiu em cheio a “família tradicional” a partir do envolvimento de Flávio Bolsonaro.
Com a atenção voltada para estes escândalos a situação externa está passando despercebida. E como o superministro da Economia ainda está deslumbrado com a sua própria posse, não se deu conta do perigo iminente. Alheia à realidade, a comitiva presidencial partiu para Davos. Paulo Guedes desfilará como autoridade suprema que traz nas mãos o grande milagre econômico liberal. Sérgio Moro posará de caçador de corruptos e o presidente ganhou mais importância diante da ausência das autoridades dos Estados Unidos, França e Reino Unido.
Ao pisar em solo suíço, Bolsonaro deu o tom do seu discurso. Em entrevista, disse que seu maior objetivo é garantir que os negócios “voltem a florescer entre o Brasil e o mundo, sem o viés ideológico”.
Tais afirmações sem sentido refletem as ideias de uma equipe de governo formada com grupos de interesses diversos que vão desde as questões econômicas e de infraestrutura (os moderados) às questões dos costumes, lendas, conspirações e coisas afins (os alucinados) que defendem a luta contra a dominação comunista mundial (!) e o marxismo cultural.
 Por enquanto está ganhando o discurso alucinado. Começamos mal.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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