Semana de 01 a 06 de janeiro de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
No campo da economia as perspectivas
continuam inalteradas: crise mundial em marcha, recuperação interna lenta e
instável. Os dados confirmam as mesmas tendências. No terreno político as
novidades são inúmeras e diárias. Continuamos perplexos com os discursos de
posse do presidente e de seus ministros e colaboradores.
A cada pronunciamento pensamos que ocorreu
o pior e no momento seguinte algo maior acontece. Pelo que está sendo prometido
e por alguns atos que são anunciados a situação promete ser desastrosa. Não são
poucas as contradições entre os grupos que compõem o governo. O mais ridículo é
formado pelos defensores da moral e da família. São os pupilos do astrólogo
Olavo de Carvalho, guru do presidente, e que infelizmente controlam a educação,
as relações exteriores e o meio ambiente. Entre outras coisas eles pretendem
queimar o Professor Paulo Freire e acabar o comunismo. Defendem uma aliança com
o grotesco Trump transferindo a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém a
fim de contribuir para o apocalipse e o juízo final. Tal é o tamanho da
ignorância que se aproxima da debilidade mental. Como se não bastasse, e para
aumentar a nossa vergonha, a eles juntou-se a fanática ministra das mulheres, a
tal que surpreendeu Jesus em cima de uma goiabeira e determinou que as meninas
e os meninos devem usar roupas rosa e azuis.
Ainda não se sabe como este projeto moral
será executado.
Na área da segurança o projeto de acabar
com a violência e o crime organizado ainda não tomou forma e elas continuam
aumentando. O grupo encarregado dessa área além de contar com o competente Sergio
Moro, controla um aparato militar formidável comandado por uma elite de
generais e outros oficiais. Há mais militares no governo do que na época da
ditadura. Ainda não sabemos contra quem este aparato será utilizado: contra os
bandidos ou contra os “vermelhos”, como prometeu o presidente.
Em relação à agricultura e o meio ambiente
o caminho será único. Com o ministério da agricultura na mão dos ruralistas,
adeus meio ambiente e preservação da natureza. Vão envenenar tudo e passar o
trator em cima de florestas e pessoas (coitados dos índios). O Luiz Nabhan,
produtor rural e secretário especial de assuntos fundiários do Ministério da
Agricultura já avisou: não tem dinheiro para ONGs, não conversa com movimentos
criminosos (MST, MTST) e qualquer invasão de terras será tratada como crime. O
próprio presidente declarou que não demarcaria nem um centímetro de terra
indígena. Conclusão: adeus Amazônia, índios, animais, preservação, etc.
No meio de tanta loucura, fanatismo e
insensatez o grupo dos militares desponta como o mais equilibrado e pragmático.
Afinal não é com Jesus em cima de goiabeiras que se ganham batalhas. Eles
também sabem, graças aos estudos de história, que, com a queda do muro de
Berlim, o comunismo acabou e os interesses nacionais são outros.
No terreno da economia a situação é
previsível. Aí não há visões celestiais, mas crenças teóricas. A equipe
monolítica dos “Chicago oldies” comandada pelo super sinistro Paulo Guedes sabe
o que quer, já disse, está pondo em prática e vai continuar em uma só direção.
Não haverá surpresas. Pretendem reduzir o tamanho do estado, privatizar tudo,
fazer a reforma da previdência urgente, fazer o ajuste fiscal para equilibrar o
orçamento a qualquer custo. Outra linha é a liberalização da economia e do
mercado de trabalho. A legislação trabalhista deve ser liquidada e a carteira
de trabalho verde amarela é um caminho para isto. Por um ato de fé, eles
acreditam, creem, que com isto a confiança dos consumidores, empresas e
investidores será restaurada e o milagre acontecerá: os consumidores vão
consumir, os empresários vão investir, os empregos serão criados, o desemprego
cai, as taxas de juros caem e a economia iniciará um processo de crescimento
sustentado. O milagre estará feito, o liberalismo triunfará e o governo será
consolidado por muitos anos.
E se
não houver o milagre?
Enquanto isso não ocorre nomeiam-se e
protegem seus corruptos, parentes e afilhados. Tudo como dantes. E o bate
cabeça continua nos mentidos e desmentidos das diferentes autoridades.
Eis o governo do ex-capitão. Tudo
previsível, não reclamem.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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