quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Estatísticas de 2018 não garantem recuperação


Semana de 11 a 17 de fevereiro de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor. Enquanto a economia mundial segue rumando para uma nova crise, o cenário nacional rouba a cena pelas trapalhadas do novo governo que, passados dois meses e meio, ainda não se encontrou. De concreto, temos apenas a divulgação do “pacote” contra a violência do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que não foi poupado das mais diferentes críticas, inclusive a de que não irá reduzir a violência. Nem mesmo a Reforma da Previdência “decola”. Antes de ser divulgado, o texto “vazou” e recebeu críticas de todos os lados ao propor a mesma idade mínima de 65 anos para homens e mulheres. As críticas estimularam um recuo neste item e após uma semana da divulgação oficial do texto base, a nova proposta tornou-se um incômodo para os estados, pois prevê contribuição extraordinária dos servidores em caso de déficit previdenciário; obrigação de equacionamento do passivo e transformação da Previdência pública em fundo de pensão. O “superministro” Paulo Guedes já fala em “desidratar” a proposta para atender os governadores.
Não contente, o governo Bolsonaro poupa a oposição de exercer seu papel e autoproduz conflitos. Uma briga de comadres se instalou no governo quando um dos filhos do presidente, o Carlos Bolsonaro, chamou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, de mentiroso diante da divulgação de existência de um esquema de candidatos laranjas montado no PSL (Partido Social Liberal) para as eleições do ano passado. Como o episódio certamente iria atingir o presidente, o filhinho do papai alimentou o disse-me-disse, digno de um circo de horrores, afirmando que Bebianno mentiu ao dizer que falou em apenas um dia, três vezes com o presidente. O grotesco espetáculo expôs o que há de pior no círculo íntimo do presidente, durou cinco dias com ameaças dos dois lados e culminou com a exoneração de Bebianno na segunda, 19/02.
Será que estamos sendo governados por amadores ou simplesmente por arrogantes desrespeitosos?
Pois bem, alheia ao circo de horrores, a conjuntura econômica segue sua trajetória a passos de tartaruga. O varejo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), encerrou 2018 com alta de 2,3% pouco acima dos 2,1% de 2017. Mas, o que chamou a atenção foi o péssimo desempenho das vendas em dezembro do ano passado, comparado a novembro. A queda de 2,2% foi decepcionante. No varejo ampliado (introduzindo veículos e material de construção) as vendas neste período caíram 1,7%, apesar do aumento do comércio interno de veículos.
Já a indústria cresceu apenas 1,1% em 2018. E no quarto trimestre, apresentou queda de 1,3% em relação ao trimestre anterior. A taxa de desemprego fechou em 11,6% no ano passado. Com desemprego alto e fraqueza na produção, as agências já se programam para reduzir suas estimativas de crescimento para 2019. As piores estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) já giram em torno de 2%.
Mas, o setor bancário vai bem, obrigado. Em 2018, o lucro ajustado do BB foi de R$ 13,5 bilhões, crescimento de 22,2% em relação a 2017. Mas, seu novo presidente está insatisfeito. Segundo Rubem Novaes se a instituição fosse privatizada seria mais eficiente. Em suas palavras: “O BB privatizado seria mais eficiente, ganhariam os funcionários, ganharia todo mundo.”
A única estatística positiva, não deveria nos orgulhar tanto. Segundo o IBGE, sete commodities concentraram em 2018, 50,2% das exportações totais do Brasil. As vendas do complexo soja, óleos brutos de petróleo, minério de ferro, carnes, celulose, açúcar e café totalizaram US$ 120,3 bilhões. Enquanto isso, a participação da nossa indústria no comércio internacional não ultrapassa o 1%. Por um lado, este dado vai reforçar os argumentos e a força da bancada ruralista; por outro, expõe o quão distante estamos do mundo, da produção de manufaturados que gera produtos de alto valor agregado.
Enfim, até agora nada garante a continuidade da nossa pífia recuperação.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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