Semana de 11 a 17 de fevereiro de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. Enquanto a economia mundial segue
rumando para uma nova crise, o cenário nacional rouba a cena pelas trapalhadas
do novo governo que, passados dois meses e meio, ainda não se encontrou. De
concreto, temos apenas a divulgação do “pacote” contra a violência do ministro
da Justiça, Sérgio Moro, que não foi poupado das mais diferentes críticas,
inclusive a de que não irá reduzir a violência. Nem mesmo a Reforma da Previdência
“decola”. Antes de ser divulgado, o texto “vazou” e recebeu críticas de todos
os lados ao propor a mesma idade mínima de 65 anos para homens e mulheres. As
críticas estimularam um recuo neste item e após uma semana da divulgação
oficial do texto base, a nova proposta tornou-se um incômodo para os estados,
pois prevê contribuição extraordinária dos servidores em caso de déficit
previdenciário; obrigação de equacionamento do passivo e transformação da
Previdência pública em fundo de pensão. O “superministro” Paulo Guedes já fala
em “desidratar” a proposta para atender os governadores.
Não contente, o governo Bolsonaro poupa a oposição
de exercer seu papel e autoproduz conflitos. Uma briga de comadres se instalou
no governo quando um dos filhos do presidente, o Carlos Bolsonaro, chamou o
ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, de
mentiroso diante da divulgação de existência de um esquema de candidatos
laranjas montado no PSL (Partido Social Liberal) para as eleições do ano
passado. Como o episódio certamente iria atingir o presidente, o filhinho do
papai alimentou o disse-me-disse, digno de um circo de horrores, afirmando que
Bebianno mentiu ao dizer que falou em apenas um dia, três vezes com o
presidente. O grotesco espetáculo expôs o que há de pior no círculo íntimo do
presidente, durou cinco dias com ameaças dos dois lados e culminou com a
exoneração de Bebianno na segunda, 19/02.
Será que estamos sendo governados por amadores ou
simplesmente por arrogantes desrespeitosos?
Pois bem, alheia ao circo de horrores, a conjuntura
econômica segue sua trajetória a passos de tartaruga. O varejo, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), encerrou 2018 com alta
de 2,3% pouco acima dos 2,1% de 2017. Mas, o que chamou a atenção foi o péssimo
desempenho das vendas em dezembro do ano passado, comparado a novembro. A queda
de 2,2% foi decepcionante. No varejo ampliado (introduzindo veículos e material
de construção) as vendas neste período caíram 1,7%, apesar do aumento do
comércio interno de veículos.
Já a indústria cresceu apenas 1,1% em 2018. E no
quarto trimestre, apresentou queda de 1,3% em relação ao trimestre anterior. A
taxa de desemprego fechou em 11,6% no ano passado. Com desemprego alto e
fraqueza na produção, as agências já se programam para reduzir suas estimativas
de crescimento para 2019. As piores estimativas para o Produto Interno Bruto
(PIB) já giram em torno de 2%.
Mas, o setor bancário vai bem, obrigado. Em 2018, o
lucro ajustado do BB foi de R$ 13,5 bilhões, crescimento de 22,2% em relação a
2017. Mas, seu novo presidente está insatisfeito. Segundo Rubem Novaes se a
instituição fosse privatizada seria mais eficiente. Em suas palavras: “O BB
privatizado seria mais eficiente, ganhariam os funcionários, ganharia todo
mundo.”
A única estatística positiva, não deveria nos
orgulhar tanto. Segundo o IBGE, sete commodities concentraram em 2018, 50,2%
das exportações totais do Brasil. As vendas do complexo soja, óleos brutos de
petróleo, minério de ferro, carnes, celulose, açúcar e café totalizaram US$
120,3 bilhões. Enquanto isso, a participação da nossa indústria no comércio
internacional não ultrapassa o 1%. Por um lado, este dado vai reforçar os
argumentos e a força da bancada ruralista; por outro, expõe o quão distante
estamos do mundo, da produção de manufaturados que gera produtos de alto valor
agregado.
Enfim, até agora nada garante a continuidade da
nossa pífia recuperação.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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