quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

“Terra brasilis”


Semana de 28 de janeiro a 03 de fevereiro de 2019

Jomar Andrade da Silva Filho [i]

Como um barco à deriva, ora levado pelos ventos sagrados do messias, ora guiado pelas previsões astrológicas do guru Olavo, se encerrou o primeiro mês da viagem rumo à retomada do crescimento sob o comando do capitão Jair Bolsonaro. Pouco se avançou em termos de execução das medidas concretas prometidas e as notícias que trago da terra brasilis não são animadoras.
A trajetória errática da economia nos mostra que o nosso capitão e seus auxiliares precisarão ir muito além das afirmações que endossaram a campanha presidencial. Dados divulgados pelo IBGE indicam que a produção industrial cresceu apenas 1,1% em 2018, muito aquém dos 2,5% de 2017. O mercado de trabalho fechou o ano mostrando uma queda tímida no desemprego (apenas 0,2% ante 2017). O número de desocupados atingiu 11,6% e com crescimento da informalidade. A sub ocupação bateu um recorde e chegou a 6,9 milhões). O número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar um emprego) cresceu em ritmo acelerado em 2018, chegando a 4,7 milhões, em dezembro, contra 4,1 milhões, em março de 2017. Foi um crescimento de 14,3%, segundo a Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Esse cenário revela que, essa leve recuperação do emprego se deu com a criação de trabalhos de pior qualificação e baixa remuneração, o que poderá comprometer a recuperação do consumo das famílias e restringir a capacidade de retomada da economia
Na política, o nosso comandante passou por sua primeira prova de fogo: a eleição dos presidentes das casas legislativas. Sem muita dificuldade, e com o apoio de 21 partidos (dentre eles o PSL), Rodrigo Maia voltou ao comando da Câmara dos Deputados com a missão de coordenar a aprovação da reforma da Previdência, que deve ser enviada ao Congresso ainda em fevereiro.
Já no Senado, a disputa se deu de maneira conturbada. Com uma taxa de renovação mais elevada, o discurso pela “nova política” tomou conta do púlpito da casa, sendo reservado ao algoz Renan Calheiros a pecha de representante da “velha política”. Sob a articulação do velho marujo Onyx e com a pressão do 01, como porta voz do capitão, o vencedor da disputa foi o desconhecido Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ao que parece, se nenhum outro escândalo interno assolar o governo, o saldo dessa primeira disputa é no mínimo duvidoso para o planalto, pelo desgaste que sofreu.
Mas, na economia, os ventos já sopram mais fortes e alguns especialistas captam em seus radares a chegada de uma nova tempestade mundial. Dados mostram que a Zona do Euro desacelerou. A Itália, terceira maior economia do bloco, entrou em recessão técnica, após dois trimestres seguidos de contração. Há poucos dias, o governo alemão cortou sua previsão de crescimento no ano pela metade, para apenas 1%. Ademais, a desaceleração da economia chinesa já está afetando o desempenho de seus parceiros comerciais em todo o mundo. Para se ter uma ideia, a queda da demanda chinesa por produtos japoneses reduziu as exportações do país em 3,8%, só no mês de dezembro. Outro risco é o agravamento das tensões comercias China x EUA, que poderá prejudicar o desempenho da economia mundial.
O caminho rumo à retomada do crescimento é uma aventura e tanto, onde os ventos sopram para todos os lados, exigindo do nosso comandante a habilidade de navegar por mares desconhecidos e lidar com velhas criaturas mitológicas. Para essa jornada, o capitão Bolsonaro escalou um time peculiar de marujos. Ao seu fiel escudeiro, Paulo Guedes, foi reservado lugar de timoneiro, na proa da embarcação, mas ao que se diz, a falta de experiência do marujo o fez recorrer até aos escritos do velho comandante Ciro Gomes. No posto de imediato, para cuidar da disciplina, o escalado foi o marujo Moro, que ganhou o cargo como recompensa pelos bons favores prestados no passado, principalmente com a vitória na batalha presidencial, ao provocar o naufrágio do barco pilotado pelo “pirata” Lula.
Ao que tudo indica, depois de ingressar nessa jornada sem bússola e sem um mapa nas mãos, mas guiado pelas vozes do oráculo Olavo, ficaremos à deriva por mais algum tempo.

[i] Estudante de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; jomarandradefilho@gmail.com).

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