quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A reforma de um governo trapalhão


Semana de 18 a 24 de fevereiro de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Acompanhar os movimentos da conjuntura econômica às vezes torna-se monótono. É que os fenômenos da economia ocorrem com muita lentidão exceto nos momentos de ruptura, o que não é a situação atual. Estamos agora na fase ascendente do ciclo econômico, depois de nos arrastarmos por alguns anos de crise. A novidade é que esta recuperação está sendo muito lenta e instável, o que se observa pelo nível de desemprego de dois dígitos (acima de 10%) e pelas baixas taxas de crescimento do PIB.
Os dados recentes confirmam esta tendência. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) calcula que o crescimento do PIB do ano passado foi de 1,1% e, para este ano, reduziu suas estimativas de 2,3% para 2,1%, considerada otimista. Cláudio Considera, economista coordenador do Monitor do PIB da FGV, afirma que 2018 foi um ano perdido, um “desastre” e que 2019 não apresenta bons sinais. O PIB de dezembro do ano passado representou uma queda de 0,4%. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostrou que, em 2018, a produção industrial de baixa tecnologia, que inclui setores como alimentos, bebidas têxteis, calçados, madeira, etc., recuou 2,3%. A pequena queda no desemprego ocorreu com a oferta de empregos de baixa qualidade e salários reduzidos. Portanto, a perda de fôlego da indústria foi geral.
Isto coincide com a deterioração da situação internacional que temos acompanhado e que representa um agravante. Nos EUA, em fevereiro, a atividade industrial vem caindo. O índice de gerente de compras (PMI) caiu de 54,9 para 53,7. O Federal Reserve (Fed.), banco central americano, divulgou que a produção das fábricas, serviços públicos e minas, em janeiro, caiu 0,6%. O setor industrial recuou 0,9%. Para o primeiro trimestre a estimativa do PIB agora é de apenas 1,1%, metade do que era esperado antes.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE), na ata da última reunião do Conselho Diretor, expôs as preocupações com a situação da União Europeia, em conflito com os EUA, destacando que as perspectivas econômicas se moveram para baixo. A zona do euro cresceu apenas 0,2% por dois trimestres consecutivos.
O Sudeste Asiático também apresentou desaceleração. Segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento o PIB das cinco principais economias (Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia) desacelerou, de um crescimento de 6,7%, em 2017, para 6,2%, em 2018.
Com este ambiente econômico adverso o governo Bolsonaro continua a enterrar-se em ações desastrosas. O escândalo da semana foi a queda do ministro Bebiano, o primeiro a ser demitido em 50 dias de governo. Foi uma briga de comadres desencadeada por um dos filhos do presidente. Lembremos que os outros dois estão envolvidos em escândalos de corrupção e o que é senador já recorreu ao direito de foro especial. O ministro do Turismo, também acusado, já apelou para o mesmo recurso enquanto o paladino da justiça, Moro, perdoou o crime de caixa 2, classificando-o como de menor importância. A luta contra a corrupção do governo está indo pelo ralo enquanto as trapalhadas continuam. Agora foi a vez do ministro de Educação, com sua ordem para tocar o hino nacional e saudar o “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, além de filmar os alunos em posição de sentido nas escolas. Tornou-se o novo bobo da corte.
No meio de todo o tumulto o presidente finalmente apresentou algum serviço: entregou o projeto de lei com a proposta de reforma da Previdência.
Agora sim, começa a briga de cachorro grande. E começou mal, pois a proposta exclui os militares que ficaram à espera de outro projeto.
Já começam a aparecer os primeiros protestos e críticas ao documento que, saindo de onde veio, representará, com certeza, um agravamento geral para todos os funcionários e trabalhadores com o objetivo único de tapar um suposto rombo que sequer foi discutido ou demonstrado. Certamente será objeto de nossas futuras análises.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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