Semana de 01 a 07 de abril de 2019
Jomar Andrade da Silva Filho [i]
O cenário futuro está cada vez mais incerto
para a economia brasileira. Ao que parece, um muro se ergue em nossa frente: a
discussão sobre a “reforma” da Previdência.
O governo está completamente paralisado
diante deste imbróglio político. A tramitação da reforma tem encontrado
resistência no parlamento, e o acirramento dos ânimos entre o Executivo e o
Legislativo têm ganhado tons um tanto quanto cômicos nos últimos dias. As
principais divergências mais claras dizem respeito, principalmente, às mudanças
no benefício de prestação continuada (BPC) e na aposentadoria rural. Por isso e
por outros motivos, tudo indica que a reforma acabará desidratada em sua
passagem pelo Congresso.
A visita do ministro da Economia, Paulo
Guedes, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na semana passada demonstrou
que a articulação do governo ainda é muito frágil. A forma (“Tchutchucalesca”)
como a reunião se encerrou é um sintoma claro disso.
As divergências internas e externas à base
também têm se acentuado. A maior razão disso é a proposta de reforma para a ala
militar, considerada muito generosa. Segundo dados do relatório de
acompanhamento fiscal do Senado, os militares representam metade dos gastos com
a Previdência dos servidores públicos. Além disso, a estimativa da economia
líquida com a reforma proposta para a categoria corresponde a apenas 1% da
estimativa total para as demais categorias nos próximos dez anos. Ou seja, o
setor que mais consome desse orçamento será o que menos contribuirá para o seu
“equilíbrio”.
Do outro lado do muro, para os que se
arriscam a espiar entre as frestas, os cenários são os mais discrepantes
possíveis. Se aprovada a reforma da Previdência sem alterações significativas,
garantindo-se a economia de 1 trilhão de reais desejada pela equipe econômica,
os rumos do Brasil seriam gloriosos: o retorno da confiança empresarial
atrairia um elevado volume de investimentos, gerando empregos e garantindo a
retomada do crescimento econômico do país. O ministro da Economia ainda arrisca
dizer que “a empregabilidade dos jovens de 16, 17 anos será de 100%”. Um
verdadeiro sonho.
Caso a reforma não seja aprovada, o colapso
financeiro estaria instalado: crescimento do PIB na casa dos 1,5%, faltariam
recursos para saúde, educação e serviços públicos essenciais. O país iria à
falência e não haveria dinheiro sequer para pagar as aposentadorias atuais. Um
pesadelo dos mais terríveis.
Enquanto isso, o que parece claro é a
trajetória ainda errática da atividade econômica no Brasil. Dados divulgados
pelo IBGE mostram que o mercado de trabalho não se recupera, com o número de
desempregados alcançando a marca dos 13,1 milhões de pessoas. A informalidade e
o total de desalentados também cresceu. Ademais, a última pesquisa semanal do
Boletim Focus, do Banco Central, apontou, pela primeira vez, para projeções de
crescimento do PIB em 2019 abaixo dos 2%.
No cenário internacional, o clima ainda é
de total cautela. O ritmo do comércio global desacelerou 0,3% no último
trimestre de 2018, segundo a OMC. As tensões comerciais recentes e o Brexit
ainda representam um motivo de preocupação. O FMI também já reviu a sua
previsão de crescimento para a economia global em 2019, passando de 3,5%, em janeiro,
para agora 3,3%. Complicando ainda mais a situação, uma série de indicadores
sugerem uma desaceleração nas trajetórias dos EUA, Europa e China.
Como se não bastasse esse quadro que vos
apresento, as viagens presidenciais aos EUA e a Israel renderam uma série de
tensões diplomáticas com outras economias. Alguns setores exportadores
brasileiros, em especial o da agropecuária, já se mostram preocupados com
possíveis perdas comerciais.
A inoperância e a incapacidade de gestão da
máquina pública foram as marcas destes primeiros cem dias de governo.
Independentemente do que encontraremos do outro lado do muro, entre o sonho e o
pesadelo, o presente e a realidade concreta seguem implacáveis, condenando
nossa economia à estagnação e nosso povo ao desemprego e à miséria.
[i] Estudante
de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; jomarandradefilho@gmail.com).
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