quarta-feira, 24 de abril de 2019

Economia a passo de caranguejo


Semana de 15 a 21 de abril de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Quem trabalha com Análise de Conjuntura tem inevitavelmente de ser repetitivo. Nós analisamos a evolução dos fenômenos econômicos e estes ocorrem com muita lentidão. No curto prazo, as mudanças às vezes são pouco perceptíveis, embora sejam indicadoras de acontecimentos importantes. Não se pode perder os mínimos detalhes para não perder o fio condutor dos grandes movimentos. Há também que se ter uma boa teoria que explique estes movimentos e nos forneça fundamentos para a seleção dos dados relevantes e mais significativos. Por isso nós trabalhamos com a teoria dos ciclos econômicos. Ela nos fornece o fio condutor para o nosso trabalho.
Como temos mostrado, a economia do país encontra-se na fase de reanimação depois de enfrentar um período de crise e depressão, nos últimos 3 anos. A fase que estamos atravessando era esperada e obedece ao que é considerado normal no ciclo econômico. A particularidade do nosso caso é que esta reanimação está se efetuando em ritmos muito lentos e os últimos dados continuam a confirmar esta anomalia.
Os analistas estimavam que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), calculado pelo Banco Central (BC), para o mês de fevereiro, mostraria uma queda de 0,29%. Para surpresa geral o índice divulgado pelo BC mostrou uma queda na atividade de 0,73%, o pior resultado desde maio do ano passado. Em janeiro a queda já havia sido de 0,31%.
Para março, os indicadores coincidentes de várias consultorias mostram igualmente queda na produção. Segundo a LCA Consultores houve queda no fluxo de caminhões (-1,2%); nas vendas de papelão ondulado (-7,7%); nas vendas de motocicletas (-17,3%); na produção de veículos (-18,3%); nas vendas de veículos (-16,8%) e a confiança da Indústria caiu 1,8%. O Banco Itaú estimou uma queda de 0,7% no índice da Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF). O Safra vê queda de 0,7% da Indústria e a LCA calcula ainda que o IBC-Br de março cairá 0,2% e o do trimestre 0,7%.
O Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra uma queda de 0,4%, em fevereiro, sendo o pior resultado desde maio de 2018. Cláudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV declarou que “a economia está paralisada” e que “aumentou a probabilidade de um PIB negativo no primeiro trimestre”. Ainda segundo o Monitor do PIB, em fevereiro a agropecuária recuou 3%, a Indústria 1,3% e os Serviços 0,1%.
Diante deste quadro o Ministério da Economia enviou ao congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020 com uma previsão de déficit de R$124,1 bilhões, mesmo sem reajuste de servidores e sem aumento real de salário mínimo. A previsão de receita caiu de 21,8% do PIB, em 2018, para 21,13%, em 2019.
Contribuindo para agravar o quadro de desaceleração da economia, o governo se desintegra nos choques entre os 3 grupos de pressão que o constituem: os olavetes, os liberais do Guedes e os militares. Os olavetes, dirigidos à distância pelo astrólogo Olavo de Carvalho e capitaneados internamente pelos 3 raivosos filhotes do presidente, resolveram atacar violentamente os militares e particularmente o vice-presidente Mourão. O Guedes, na lateral do conflito, tenta enfiar a reforma da previdência, baseada em documentos “secretos”, goela abaixo do Congresso e o sinistro Moro, por enquanto, apenas mostra sua cara de bobo da corte pois nada tem a apresentar.
Contribuindo para aumentar a tensão, a Petrobrás elevou em 5,7% o preço do diesel provocando a revolta dos caminhoneiros e o pânico do presidente que se apressou em anular o aumento fazendo o Guedes arrancar os cabelos. Depois de entendimentos o aumento foi reduzido para 4,84% e anunciado um pacote de bondades para os caminhoneiros. Coroando a semana o deputado Marco Feliciano, vice líder do governo na Câmara protocolou um pedido de impeachment contra o vice-presidente Mourão.
Neste caos, acentua-se o sobe e desce da bolsa de valores e do dólar, o “mercado” mostra-se inquieto e os “investidores” se retraem.
Pobre país! Se não vai para trás, anda de lado feito caranguejo.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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