Semana de 08 a 14 de abril de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Estimado leitor, em colunas anteriores já
antecipamos a débil situação da atividade econômica interna e mundial. As novas
projeções e resultados não nos permitem abandonar este tema. Depois de crescer
3,8% em 2017 e 3,6% em 2018, a economia global vai desacelerar para 3,3% em 2019,
avalia o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esta é a segunda revisão que a
instituição faz este ano. A previsão anterior era de crescimento de 3,5% para o
PIB global. Vários fatores têm contribuído para a desaceleração, segundo o
órgão: a tensão comercial entre EUA e China, ajustes monetários na China,
crises na Argentina e na Turquia, problemas no setor automotivo da Alemanha e
piora geral das condições financeiras mundiais. Para a Zona do Euro o corte foi
de 1,6% para 1,3%; para os EUA, o crescimento foi revisado de 2,5% para 2,3%;
para os emergentes, o corte foi de 4,5% para 4,4%; para a América Latina, a
redução foi de 2% para 1,4% e para o Brasil de 2,5% para 2,1%. A Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) também detectou desaceleração
na América Latina em 2019 e revisou o crescimento de 1,7% para 1,3% neste ano.
A revisão para o Brasil foi de 2% para 1,8%.
Tais perspectivas também são reforçadas pelo sistema
de estatísticas dos Estados Unidos. Em fevereiro, o Departamento do Comércio
norte-americano apurou que as encomendas de bens industriais americanos
encolheram 0,5% em relação a janeiro. Este foi o quarto recuo em cinco meses e
a queda está sendo atribuída ao conflito comercial entre China e EUA e à
desaceleração do crescimento econômico global.
Já os últimos números da economia interna também não
são animadores. A mediana das estimativas para o crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) apurada pela pesquisa Focus vem caindo e fechou esta semana em
1,97%. Parte dos analistas já cogita crescimento mais próximo de 1% que de 2%.
Além da fraca demanda detectou-se que os empresários não planejam investir no curto
prazo.
Os resultados das vendas em fevereiro reforçam o
desalento. As vendas no varejo restrito permaneceram estáveis e o volume de
vendas do varejo ampliado (que inclui veículos e material de construção)
apresentou queda de 0,8%.
Enquanto isso, o novo governo completa seus 100
primeiros dias. E a impressão que se tem é que o presidente se afasta da
realidade como se estivesse em uma realidade simulada em que ele e os seus se
movem tal qual Matrix. A tradicional pesquisa do Datafolha referente à avaliação
dos três primeiros meses de governo foi menosprezada pelo governo. Ao ser
convidado a comentar o resultado que obviamente não lhe agradou, Bolsonaro deu
de ombros. A pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 31 de março e 1 de
abril, apontou que 30% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo,
ótimo ou bom (32%) e regular (33%). O Ibope já havia apurado que a avaliação
positiva do governo despencou 15 pontos percentuais.
Alheio à conjuntura econômica e a outras realidades,
o governo tratou de comemorar seus primeiros cem dias de gestão. Como havia
fixado 35 metas prioritárias para o período, afirmou que a taxa de sucesso foi
de 100%. Mas, balanço feito pelo Jornal Valor Econômico indica que o governo
deixou de cumprir 49% do que foi prometido e que só 20%, 7 das 35 metas foram
cumpridas em sua totalidade.
As análises dos 100 dias continuam a ocupar os
noticiários. Diante da realidade (não a do presidente, pois ela inexiste), as
conclusões dos analistas revelam uma verdade: o presidente não sabe o que faz
no posto. Os títulos das manchetes refletem bem esta conclusão: 100 dias de
inação, 100 dias sem projeto, 100 dias de tropeço, 100 dias de aflição, 100
dias de conflito, 100 dias de inoperância... Truculência, ignorância, “marxismo
cultural”, inimigos comunistas, imprensa marrom, conflitos entre olavetes e
militares, pautas vazias... É isto o que o presidente tem a apresentar.
E, para desespero dos que gostariam de saber qual o
seu projeto para o Brasil, sinto dizer: o presidente está sendo apenas ele
mesmo. Ponto.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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