Semana de 03 a 09 de junho de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Sob todos os aspectos o Brasil se encontra em um
cenário desalentador. A “nova política” defendida por um presidente que só
conhece a “velha política”, continua a deixar suas marcas: ameaças, acusações,
xingamentos e perseguições. A atividade econômica não decola, a culpa é sempre
atribuída aos governos anteriores e a retomada econômica está, segundo o
governo, interligada à aprovação da Reforma da Previdência.
Registro fatos desta semana que só reforçam a falta
de prioridades do governo. Em visita à Argentina, o presidente pediu aos
hermanos que votassem pela democracia, interferindo nas questões internas de
outro país (não é a primeira vez), certamente sob o pretexto de salvar o Sul da
tal conspiração comunista mundial (da qual Cristina Kirchner, candidata a
vice-presidente da Argentina, faz parte). Para fechar com chave de ouro, o
presidente disse que ele e Macri conversaram sobre a criação de uma moeda única
entre Argentina e Brasil. Facilmente, os economistas demonstraram que tal
medida é irrealizável. E ao retornar da viagem, o presidente se apressou em ir
pessoalmente ao Congresso levar um “projeto prioritário” (assim como foi o das
armas), que flexibiliza algumas regras do Código Nacional de Trânsito.
Menosprezando (de novo) todos os estudos científicos e premiando o achismo, o
presidente gera nova polêmica propondo várias medidas como o fim da exigência
de exame toxicológico para motoristas profissionais, dobrar de 20 para 40, o
limite máximo de pontos que um motorista pode acumular, em até 12 meses, sem
perder a licença para dirigir e abolir a multa para quem transporta crianças
sem o uso da cadeirinha.
Como se não bastasse, enquanto esta coluna era
finalizada, registrava-se o mais novo e maior escândalo do atual governo. O
ministro da Justiça Sérgio Moro foi flagrado em conversas nada republicanas com
os procuradores da Operação Lava Jato, quando era juiz e julgava os casos
montados pelo Ministério Público. O juiz e os procuradores, amparados por
posicionamentos políticos, combinaram ações, principalmente nos casos que
envolviam o ex-presidente Lula, que possivelmente interferiram no resultado das
eleições de 2018. O paladino da honestidade foi desmascarado no uso da máxima
de que “os fins justificam os meios”.
Enquanto o governo se prepara para juntar os cacos,
a realidade se impõe. A queda de 0,2% da atividade econômica do primeiro
trimestre ainda nem foi digerida e já se registra uma nova decepção: a produção
industrial brasileira iniciou o segundo trimestre crescendo menos da metade
daquilo que era esperado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em abril, a produção cresceu 0,3% sobre março (a
expectativa de expansão era de 0,7%). Os maus resultados estão provocando
revisões constantes das perspectivas de crescimento para este ano. A pesquisa
Focus produzida pelo Banco Central reduziu, pela décima quinta semana
consecutiva, a projeção do PIB de 2019, de 1,13%, para 1%. Esta previsão é
considerada otimista, pois diversas consultorias já preveem crescimento de
apenas 0,5%.
Como já alertamos aqui, também não há alento na
economia internacional. Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu,
afirmou que o órgão está pronto para se defender de uma possível crise. Ele
cogita fazer uma nova expansão do programa de afrouxamento quantitativo e novo
corte dos juros. A declaração vem depois de uma série de indicadores negativos
sobre o desempenho da economia europeia. O último número divulgado pela IHS
Markit, referente ao índice de gerentes de compras do setor industrial da zona
do euro, caiu de 47,9, em abril, para 47,7, em maio. É o quarto mês seguido de
contração da indústria do bloco europeu. O Federal Reserve, banco central americano
também cogita usar o instrumento. O alerta vem da queda da atividade industrial
dos Estados Unidos que em abril recuou 0,5%.
Infelizmente, as perspectivas da conjuntura nacional
e internacional são as piores. E a depender do governo brasileiro, o aquecimento
da economia continuará fora da lista de prioridades.
Afinal, o governo necessita agora defender o seu
caçador de corruptos.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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