quarta-feira, 26 de junho de 2019

Levy e o BNDES


Semana de 17 a 23 de junho de 2019

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Semana passada vimos mais um lamentável capítulo da caricata gestão Bolsonaro: a demissão de pessoas do alto escalão do governo acontecendo através das mídias tradicionais (a dúvida é quando que as demissões começarão a ocorrer via Twitter...). Aqui destaco a do Joaquim Levy, que estava à frente do BNDES.
Diante dos fatos revelados por Glenn Greenwald, fica até fácil de ver como o então juiz Sergio Moro foi recompensado por seus serviços prestados. Contudo, este não é o único caso de recompensa paga com cargo no governo. O caro leitor certamente se lembra que, logo depois das eleições de 2014, a “presidenta” Dilma Rousseff adotou a política do candidato perdedor. O que ela fez? No dia 1 de Janeiro de 2015, primeiro dia do seu novo mandato, demitiu Guido Mantega (tido como desenvolvimentista) e colocou em seu lugar ninguém menos que Joaquim Levy.
Então Ministro da Fazenda, Levy adotou a política econômica do “austericídio”, que junta as palavras austeridade e suicídio. A austeridade foi suicida neste momento porque a economia já ia mal desde meados de 2014 e, como solução deste problema, resolveu-se reduzir drasticamente a demanda gerada pelo Estado. Claro que isso resultaria no aprofundamento da crise econômica, e, mais claro ainda, que isso resultaria no aprofundamento da crise política nacional. O desenlace deste capítulo a história já mostrou e ainda está mostrando.
Disso, o que se deve destacar é: diante do “bom trabalho” realizado no governo do PT (durante todo o ano de 2015, quando o PIB caiu 3,5%), Joaquim Levy foi chamado para compor o Governo Bolsonaro. A ideia era continuar com as políticas do tipo “austericida” (que não acabaram, mas estão sendo ainda mais aprofundadas). O problema é que, por diversos motivos, que vão da legalidade, passando pela burocracia e chegando à própria gestão do BNDES, Levy ainda não havia entregado o que lhe foi pedido.
Dois eram (ainda são) os maiores desejos. O primeiro, por parte do clã Bolsonaro, é abrir uma suposta caixa-preta que esconderia todas as falcatruas canalho-petralhas do banco (quem dera eles quisessem expor as possíveis falcatruas canalho-militares da ditadura também). O segundo desejo é do Paulo Guedes, que gostaria de retirar do BNDES um total de R$ 126 bilhões para formar caixa no Tesouro Nacional para reduzir o déficit fiscal afim de garantir o pagamento dos juros da dívida. Os dois desejos, claro, são praticamente impossíveis de serem realizados.
Primeiro, segundo o ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, não há qualquer tipo de caixa-preta. Por exemplo, quem o banco financiou na relação com Cuba foram empresas que operavam no Brasil e precisavam de recursos para exportar bens e serviços à ilha caribenha (desde ônibus e carrocerias a atividades ligadas à construção civil). Por outro lado, o banco tem inúmeros contratos que são fiscalizados pelo Tribunal de Contas da União, o mesmo que agravou a punição à Guido Mantega pelas pedaladas fiscais. Caso não cumpra aquilo que está em contrato ou na lei de responsabilidade fiscal, o gestor irá pagar por seus atos. Assim, a devolução dos recursos do BNDES não pode acontecer de uma hora para outra.
Conhecendo a administração pública, coisa que Bolsonaro e Guedes não dominam, Levy fazia uma gestão que parecia pautada nos trâmites normais da legalidade. Isso significa dizer que ele levava o BNDES para o caminho certo? Na minha humilde opinião, não!
Quem conhece um pouco da história econômica brasileira sabe que o banco foi fundamental na formação da estrutura produtiva do país. Financiou desde atividades agropecuárias à tecnologia de ponta. Países como China, Espanha, Itália, Japão, Alemanha, Coreia do Sul e França mantêm esse tipo de banco, conhecidos como instituições financeiras públicas de desenvolvimento. Nesses países, tais bancos atuam nos mais diversos setores da economia. No Brasil, querem que atue apenas na área de infraestrutura e, quem sabe, inovação. E isso com um orçamento deveras minguado.
O leitor acha que é assim que se sai de uma estagnação econômica?

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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