quarta-feira, 19 de junho de 2019

“O caminho certamente é para baixo”


Semana de 10 a 16 de junho de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Começo esta Análise com a afirmação do economista chefe do Banco Factor, José Francisco de Lima Gonçalves, ao inteirar-se das estatísticas divulgadas durante a semana, particularmente no setor de serviços.
Já temos demonstrado ao longo dos meses que a economia não consegue se recuperar e o primeiro semestre está praticamente perdido.
As notícias são preocupantes. Os indicadores para o mercado de trabalho da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para maio, mostram o agravamento da situação. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) apresenta uma queda de 6,7 pontos chegando a um total de 85,8 pontos, o menor resultado desde junho de 2016. O Indicador Coincidente de desemprego (ICD) subiu 0,9 pontos atingindo 95,7 pontos, o maior desde dezembro de 2018. A queda do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 0,2% agrava este quadro e não há sinais de reaquecimento. Neste trimestre o PIB industrial caiu 0,7%. Em abril a produção física industrial cresceu apenas 0,3%, segundo o IBGE, mas em maio espera-se uma nova queda. O Banco Safra estima queda de -0,9%, o Itaú-Unibanco -0,5% e a LCA Consultores -0,2%. Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade “A indústria está em recessão.”
Na sexta-feira passada o Banco Central (BC) publicou o seu indicador considerado uma prévia do PIB, o IBC-Br. Este indicador mostrou que, no mês de abril, a economia caiu 0,47%.
Os dados para o varejo não são animadores. Também em abril, o varejo restrito recuou -0,6% e o varejo ampliado (que inclui veículos e materiais de construção) ficou estável. Dos 10 ramos de atividade pesquisados 5 registraram queda.
Diante destas dificuldades e com a economia em desaceleração, a equipe dos pesadelos formada pelos Chicago oldies sob a direção do todo poderoso sinistro Guedes, mantém-se na ofensiva. Está descapitalizando os bancos públicos obrigando-os a devolverem ao Tesouro os recursos que neles foram depositados. A Caixa devolveu R$3 bilhões e deve devolver mais R$17 bilhões. O BNDES já devolveu R$126 bilhões e deve devolver mais R$36,5 bilhões, O Banco do Brasil tem R$8,1 bilhões a devolver e o Banco do Nordeste (BNB) R$1 bilhão. A consequência disto será uma maior restrição ao investimento. Convém lembrar que o investimento público federal, que em 2014 foi de R$100,6 bilhões, em 2018 foi reduzido para R$ 53,9 bilhões, quase a metade. Como o setor privado não ocupou este espaço, somos um avião voando sem as 2 turbinas, para usar a metáfora criada pela colunista do Valor Econômico Claudia Safatle. 
Com este panorama econômico desastroso, a ação do governo tem sido uma tragédia. Em um ataque de fúria olaviana o governo demitiu vários auxiliares. O general comandante da Funai, por pressão da bancada ruralista, o general diretor dos Correios, por ser contra a privatização, o general Ministro da Secretaria do Governo, por pressão das olavetes e da família. O presidente do BNDES, Joaquim Levy, também não escapou. A limpeza estendeu-se à casa Civil com o afastamento de 5 funcionários e os conflitos chegaram à porta do Itamaraty pois o chanceler Ernesto Araújo deseja indicar como embaixador dos EUA um protegido seu que está em 44º lugar nas promoções. Ainda é pouco, pois o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, não satisfeito com a destruição do meio ambiente que vem promovendo, resolveu dar um golpe no Fundo da Amazônia mantido pela Alemanha (US$69 milhões) e Noruega (US$1,2 bi) e recebeu um  NÃO.
Para completar a semana temos as denúncias apresentadas pelo The Intercept Brasil que atingiram em cheio o baluarte da moralidade Sergio Moro e a operação Lava-Jato, que respingou no Ministério Público e até mesmo no ministro do STF, Luiz Fux, citado em uma desastrosa afirmação “In Fux we trust.”
Como podemos constatar não faltam motivos para que o caminho certamente seja para baixo.
Aguardemos, pois a semana promete.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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