quinta-feira, 6 de junho de 2019

“Cabeça, ombro, joelho e pé”


Semana de 27 de maio a 02 de junho de 2019

Jomar Andrade da Silva Filho [i]
            
Acompanhar as projeções dos analistas para a economia brasileira, às vezes, pode ser uma atividade um tanto quanto divertida. Como no jingle infantil entoado por Xuxa no ano 2000, as projeções de crescimento do PIB brasileiro para o ano de 2019 vem despencando com ritmo e música. Ainda no ano passado, logo após as eleições, as projeções do Boletim Focus do Banco Central indicavam uma taxa de crescimento de 2,55%. De lá até cá, esse número foi revisado para baixo mais de 12 vezes.
Sem entrar no mérito de julgar a capacidade dos economistas de prever o futuro, o fato é que, diante das sucessivas trapalhadas governamentais, do desempenho capenga da economia e da escancarada imperícia do presidente e de alguns membros de sua equipe, não restou aos economistas outra opção senão a de recolher suas últimas doses de otimismo.
Esta semana, mais um dado negativo foi divulgado pelo IBGE.
No primeiro trimestre de 2019 a economia brasileira encolheu 0,2% na comparação com o trimestre anterior. Pelo lado da despesa, o mau resultado foi acentuado por uma forte queda nos investimentos (-1,7%) e nas exportações (-1,9%). O consumo das famílias, principal componente do PIB, perdeu força e cresceu apenas 0,3%. Pela ótica da produção, o resultado negativo foi impulsionado pela queda na indústria, recuo de 0,7%, com destaque para a queda acentuada da indústria extrativa (-6,3%) e na construção civil (-2%). A agropecuária recuou 0,5% e o setor de serviços teve leve crescimento de 0,2%.
Após a divulgação desses dados, o Boletim Focus revisou para baixo (mais uma vez) a projeção de crescimento para este ano, de 1,23% para 1,13%. Assim, para que ao final de 2019 o PIB chegue a um crescimento de 1%, é necessário que a atividade econômica cresça 0,5% nos próximos três trimestres.
Descrentes, alguns analistas já projetam crescimento inferior a 1% em 2019.
A grande vilã parece ser a tão falada incerteza. Palavra que todo mundo entende, mas que é difícil de explicar e de mensurar. A tal incerteza na economia tem retraído o consumo das famílias, o investimento das empresas e paralisado a atuação do Estado.
Para complicar esse quadro, o Governo tem enfrentado dificuldades na articulação com o congresso, sofrendo algumas derrotas e acirrando os ânimos entre o Executivo e o Legislativo. A convocação e o apoio explícito do presidente às manifestações do dia 26 de junho constituíram mais um capítulo deste imbróglio. Embora poucos dias antes o presidente tenha optado por mudar o “tom” quanto às manifestações, seu posicionamento ríspido contra o Congresso e a chamada “velha política” nos dias anteriores reverberou nas manifestações.
Enquanto isso, a política fiscal contracionista do governo tem comprometido severamente os investimentos públicos. A equipe econômica segue focada na aprovação da Reforma da Previdência (que vai “livrar o país da incerteza”). Mesmo que alguns analistas já comecem a alertar para a necessidade de propor medidas que estimulem a economia no curto prazo, tudo que se pode ouvir do ministro Guedes é um simplista: “não temos nada ainda, vamos ver, vamos ver”.
A verdade é que é difícil acreditar que um pretenso “ganho de confiança dos agentes” (se é que isso virá da reforma) possa reverter esse quadro de baixo dinamismo econômico. A população tem sofrido com o desemprego, o trabalho informal e o crescente endividamento. Do outro lado, os empresários (exceto os do setor financeiro) estão encurralados pela baixa demanda interna, pela elevada capacidade ociosa de suas plantas e pelas tensões comerciais internacionais.
Parece que, ao presidente e sua equipe, lhes faltam OLHOS para enxergar os reais desafios da economia, OUVIDOS para escutar as demandas mais urgentes da população, BOCA para melhorar o diálogo com o Legislativo e NARIZ para farejar caminhos para a retomada do crescimento da economia brasileira.
Já para alguns economistas, desejamos apenas um pouco mais de bom senso.

[i] Economista graduado pela UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; jomarandradefilho@gmail.com)

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