quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O caráter estrutural da crise que chega


Semana de 19 a 25 de agosto de 2019

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Desde o fim do ano passado a presente coluna trouxe análises que alertavam para a chegada da crise no cenário internacional. Esta é uma das quatro fases do movimento alternado de maior e menor aquecimento da atividade econômica, que caracteriza as economias capitalistas maduras desde o início do século XIX.
O fenômeno é conhecido como ciclo econômico e é composto pelas fases de crise, depressão (ou fundo do poço), reanimação e auge da atividade econômica. Historicamente, o tempo que separou duas fases de crise distintas (depois de se ter passado pelas demais) alternou entre 7 e 11 anos. Ou seja, na história do capitalismo mundial, após a chegada de uma crise, outra aconteceu dentro deste intervalo. Os motivos que justificam esta periodicidade resultam do funcionamento do próprio capitalismo. Este é o movimento conjuntural da economia. É aquele onde as mudanças se dão dentro dos marcos e das bases até então estabelecidas e, apesar da crise, esta não é capaz de abalar as estruturas do sistema diretamente. Ou seja, no essencial as coisas voltarão ao “normal”.
Nesse contexto, pergunto ao caro leitor: lembra quando foi a última crise econômica internacional? Obviamente, não é o simples fato de ter se passado 11 anos desde a crise de 2008 que, por si só, podemos afirmar que uma nova chegaria entre 2015 e 2019. Na verdade, quando alertamos para a chegada da crise, desde o princípio, nos baseamos em diversos indicadores da atividade econômica. Contudo, tais indicadores mostram que, para além do aspecto conjuntural, a crise atual tem um conteúdo estrutural.
Se a crise conjuntural mantém os fundamentos econômicos, a crise estrutural, pelo contrário, abala suas bases. E antes de ser acusado de prever o fim do capitalismo (“deus me livre, mas quem me dera”), a história mostra que algumas crises conjunturais trouxeram mudanças estruturais que mantiveram os marcos capitalistas.
Foi assim com a Primeira Grande Depressão (1873), que, para além de uma grave crise conjuntural de abrangência internacional, dividiu as eras do “capitalismo concorrencial” e do “capitalismo monopolista”. A Segunda Grande Depressão (1929) também teve esse caráter, sobretudo na forma como o Estado atuaria na “socialização das perdas” advindas das crises conjunturais. Depois da 2ª Guerra Mundial, ele regulou, inclusive, como se daria a “socialização dos ganhos” através do Estado de Bem-Estar Social. Já os choques do petróleo da década de 1970 marcaram o fim dessa estrutura. Foi quando o capitalismo mudou suas bases e assumiu sua forma atual: a “neoliberal”.
Dentre as características mais relevantes, destaca-se a “financeirização”. Este fenômeno corresponde ao papel que a especulação financeira passou a desempenhar na dinamização da economia: tornou-se numa relevante fonte de valorização para todas as atividades, desde a bancária até a produtiva. Porém, já com a crise de 2008 e a posterior atuação estatal para salvar o sistema financeiro, a forma como este se organiza entrou em xeque.
O total de ativos sob posse dos principais bancos centrais do mundo, no final de 2007, estavam em US$ 5 trilhões, enquanto no final de 2017 ultrapassou os US$ 20 tri. Isto foi dinheiro dado aos bancos em troca de ativos podres para salvar o sistema financeiro. Atualmente, outros US$ 15 tri em bônus (25% dos títulos emitidos no mundo) estão sendo negociados com taxas de juros negativas. Isto significa que os emprestadores receberão no final do prazo menos do que emprestaram aos governos de Suíça, Alemanha, Japão, Dinamarca e outros países. Soma-se a isso o endividamento (público e privado) no mundo, que totaliza US$ 246,5 tri ou 320% do PIB mundial.
A preocupação com a atual estrutura do capitalismo se materializa no fato de que, neste último ciclo expansivo, de 2009 a 2019 (estimativa), os países mais avançados do mundo cresceram numa média de 1,5% ao ano. A média no período de 1998 a 2008 foi de 2,5%, enquanto entre 1987 e 1997 o crescimento médio do PIB foi de 3,1%. Na esteira desse dado, segue o aumento da desigualdade de renda em todo o mundo: em 2018 um total de 26 bilionários detinha um patrimônio igual à soma do patrimônio das 3,8 bilhões de pessoas mais pobres do mundo.
Até quando essa estrutura irá se sustentar?

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A desaceleração global


Semana de 12 a18 de agosto de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Há mais de um ano que alertamos os nossos leitores para a formação das condições de uma nova crise na economia mundial. Nas últimas duas Análises que publicamos, os professores Lucas e Rosângela chamaram a atenção para os novos dados que confirmam a aproximação do fenômeno. As condições estão amadurecendo rapidamente e tudo indica que estamos nos aproximando do momento da explosão.
E não é sem tempo. Todos sabem, embora algumas ideologias econômicas tentem esconder, que a economia capitalista se move em ciclos de expansão e retração. São os chamados ciclos econômicos ou ciclos de Juglar que nós definimos como crises cíclicas de superprodução.
As estatísticas podem mostrar que estes ciclos tem uma duração de 7 a 11 anos, envolvem a maioria dos países capitalistas e ocorrem desde 1825. A partir dos anos 1970 eles passaram a ter uma frequência quase decenal, ocorrendo no início de cada década. O ciclo de 2010 resolveu antecipar-se dois anos e explodiu em 2008 envolvendo o Brasil um ano depois. Enquanto a economia mundial voltou a crescer, o que era previsível, a economia local continuou no buraco. Esta foi a nossa especificidade. Agora a nossa estagnação deverá integrar-se no novo mergulho que certamente nos arrastará.
Já dissemos antes e voltamos a repetir. Quando o bonde da economia mundial passa subindo a ladeira é possível embarcar ou não, mas quando ele passa descendo todos vão juntos. Coitado do Guedes e seus “Chicago oldies!”
Mas parece que estamos atrasados em nossas previsões. A colunista do Financial Times de Nova York, Rana Faroohar, desta vez nos antecipou. Para ela, o “crash” já começou só que os analistas fazem questão de não ver. Ela cita Ulf Lindahl, presidente executivo da consultoria AG Bisset Associates, que prevê a transformação dos mercados em um “bear market” e que teremos um “verão do medo”.
Com efeito, as notícias reforçam estas previsões. Na Ásia, EUA, União Europeia (UE) e China cresce o número de empresas-zumbi, aquelas cujos rendimentos não pagam o custo de suas dívidas. Do total de 26 mil empresas estudadas pela Nikkei com dados da consultoria QUIKFactSet, 20% não conseguem cobrir os custos de suas dívidas. Na Índia esta porcentagem era de 26%, na Indonésia 24% e na Coreia 18%.
No segundo trimestre a Alemanha informou que o PIB encolheu 0,1%, afetando toda a região do Euro, já abalada com a saída do Reino Unido (Brexit), cuja economia também encolheu 0,8%. Na China, o desemprego voltou a crescer e a economia desacelerou o que tende a piorar como consequência da guerra comercial com os EUA.
Os acontecimentos políticos abalaram as bolsas de valores que desabaram ao redor do mundo. Wall Street caiu 3,05%. O Índice de volatilidade VIX chamado “termômetro do medo” disparou subindo 26,14%. A bolsa de Londres recuou 1,42%, a de Frankfurt, 2,19% e a de Paris 2,08%. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 2,6%.
A Organização do Comércio (OMC) publicou no “Barômetro do Comércio de Mercadorias” que o comercio mundial se encontra no seu mais baixo nível desde 2010. O índice apontou 95,7 (abaixo de 100 significa desaceleração). Também mostraram desaceleração os indicadores de transporte internacional de cargas (91,4), encomendas de exportação (97,50), venda de automóveis (93,5) e de produtos agrícolas (97,1). A OMC prevê que o terceiro trimestre também apresentará dados de desaceleração.
Há outro fenômeno de grande importância, mas que as manchetes não refletem. No mundo há US$15 trilhões de bônus que rendem juros negativos. Isto significa que os “investidores” pagam uma taxa para comprar os títulos em vez de receberem rendimentos. Isto representa cerca de 25% de todos os títulos emitidos pelos governos. O mundo está abarrotado de capitais, entupido. Diante da impossibilidade de aplicá-lo para obter rendimentos e da ameaça de perder tudo, os possuidores da riqueza, enlouquecidos, estão pagando para salvar pelo menos uma parte dela.
Eis a crise em marcha. Vão-se os anéis, mas fiquem os dedos.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A conjuntura econômica internacional piora significativamente


Semana de 05 a 11 de agosto de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

No setor financeiro mundial, registrou-se, esta semana, uma corrida pelos títulos soberanos, pelo ouro, por ienes e francos suíços. Os Bancos Centrais dos Estados Unidos, Nova Zelândia, Índia e Tailândia, baixaram suas taxas de juros com receio de uma nova recessão e a Austrália sinalizou um corte na próxima reunião. As ações provocaram uma queda do retorno dos títulos soberanos e a procura pelo ouro fez com que a barreira dos US$ 1.500 a onça fosse rompida pela primeira vez desde março de 2013.
O Japão e o Banco Central Europeu, preocupados com a desaceleração mundial, cogitam há algum tempo adotar novos estímulos monetários. A desconfiança tem base real. A economia dos Estados Unidos vem desacelerando e, pelo segundo mês consecutivo, o setor de serviços dos Estados Unidos definhou. O índice caiu de 55,1 em junho para 53,7 em julho, segundo o Instituto para Gestão de Oferta (ISM). A Capital Economics, registra que “a desaceleração, já evidente no setor manufatureiro, está agora contaminando o setor de serviços.”
Na Europa, o alerta vem da Alemanha. Em junho, a produção industrial alemã caiu 5,2% quando comparada a junho do ano passado e 1,5% em relação a maio. Segundo o banco ING, o resultado foi “devastador, sem nenhum ponto positivo.”
Além destes fatos, a guerra comercial entre China e Estados Unidos ganhou um novo capítulo. Após o governo dos Estados Unidos ameaçar aplicar tarifas de 10% sobre bens chineses, a China desvalorizou a sua moeda. A desvalorização da moeda chinesa ultrapassou os 7 yuans por dólar pela primeira vez em 11 anos e provocou uma onda de venda de ativos em Wall Street. Segundo analistas, a guerra comercial está empurrando a economia mundial para a recessão, pois as retaliações entre os dois países podem pesar sobre os investimentos, sobre os empregos e finalmente sobre o consumo.
            Internamente, apesar das promessas do ministro Ipiranga de que a economia iria melhorar, nada acontece. O nível de endividamento das famílias no Brasil voltou a crescer. Em maio a taxa de endividamento acumulada em 12 meses elevou-se para 44,04%, segundo dados do Banco Central. Já a CNC (Confederação Nacional do Comércio) apurou, que em julho, 64,1% das famílias afirmaram estar endividadas.
Endividadas, as famílias gastam menos. O resultado do varejo em junho confirma o comportamento. As vendas do varejo avançaram apenas 0,1% em junho comparadas a maio e o varejo ampliado (que inclui veículos e material de construção) permaneceu estável, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A venda de combustíveis recuou 1,4%, e a de móveis e eletrodomésticos caiu 1%. Embora a venda de veículos tenha crescido 5,3% no segundo trimestre, o resultado não foi suficiente para provocar mudanças significativas no resultado do varejo.
Outro resultado decepcionante veio do setor de serviços. Em junho, foi registrado o pior resultado para o mês em quatro anos. O setor recuou 1% em relação a maio, 3,6% em relação a junho do ano passado e fechou o trimestre com contração de 0,6%. Portanto, o setor intensificou as perdas, pois o volume de serviços já havia recuado 0,5% no primeiro trimestre.
A indústria já havia registrado contração de 0,7% no segundo trimestre e o resultado previsto para o PIB trimestral é de queda. O alerta vem do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), indicador prévio do PIB. Segundo o Banco Central, o IBC-Br teve alta de 0,3% em junho, na comparação com maio e queda de 0,13% no segundo trimestre em relação ao primeiro. A economia brasileira então está à beira de uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de contração).
Guedes que já havia fogueteado em maio que o crescimento “...já deve começar a ser positivo no segundo trimestre” quando confrontado, normalmente responde com um chilique. Lembremos ao ministro que fatos são fatos. Não se trata de torcer contra ou ser pessimista, trata-se apenas de fatos. E contra eles não há argumentos. Sua política, como era de se esperar, é um desastre.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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terça-feira, 6 de agosto de 2019

E tem como falar de outra coisa?


Semana de 29 de julho a 04 de agosto de 2019

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

A coisa está cada vez pior. Os jornais trazem, dia após dia, como cavaleiros do apocalipse (esse apocalipse tem nome), notícias que angustiam uma parte significativa dos brasileiros. Se o caro leitor acha que estou me referindo aos despautérios bolsonarianos, está absolutamente correto. Seria inacreditável a qualquer brasileiro do passado pensar que viveria esta tormenta no presente, já se desesperando com um futuro ainda mais sombrio. Contudo, não destinarei esta análise àquilo que muitos estão, literalmente, cansados de ver e ouvir: à estupidez desmedida do atual presidente do Brasil.
Já respondendo à pergunta que intitula o presente texto, sim, tem como falar de outra coisa. Contudo, ela não é muito melhor do que as asneiras criminosas relinchadas por Bolsonaro (o que não é difícil). Estou falando da encruzilhada na qual se encontra a economia nacional. Não é de hoje que alertamos o nosso leitor para a situação econômica em que nos encontramos.
Crise mesmo não há para o setor financeiro. Por exemplo, o Itaú Unibanco lucrou R$ 7,034 bilhões nos meses de abril, maio e junho de 2019. Esse valor foi 10,2% maior do que o observado nos mesmos meses de 2018. Juntando com Bradesco e Santander, o lucro dessas três maiores instituições bancárias privadas que atuam no Brasil somou R$ 17,131 bilhões. E olhe, nem cabe aqui falar da nova reestruturação pela qual os bancos brasileiros estão a passar, com cada vez menos agências físicas e funcionários nos caixas, e cada vez mais aplicativos em celulares: nos três meses citados, só o Itaú Unibanco fechou 195 agências e demitiu 1,3 mil empregados.
No cenário mundial, cada vez mais os bancos centrais reagem contra o já manifestado desaquecimento da economia global. O Banco Central estadunidense (Fed) reduziu sua taxa básica de juros em 0,25 pontos percentuais. O Banco Central Europeu já anunciou que tomará medidas de reaquecimento da economia em setembro. A Comissão Econômica para América Latina e Caribe, da ONU, a Cepal, já reduziu a previsão de crescimento de toda região latino-americana. O único país que teve sua projeção melhorada foi a Colômbia. Para o Brasil, a estimativa saiu de 1,1% para 0,8% de crescimento do PIB, em 2019.
Voltando ao Brasil, os dados mais recentes da PNAD/IBGE sobre o desemprego mostram que no trimestre abril-maio-junho de 2019, dos 106,1 milhões de pessoas que compõem a força de trabalho brasileira (ocupada e desocupada), 28,4 milhões encontram-se em uma dessas condições: desempregados, desalentados (desempregado que desistiu de procurar emprego) ou subocupados (trabalha menos do que gostaria). Para piorar, o rendimento médio mensal que habitualmente a força de trabalho brasileira recebe vem caindo ao longo de 2019. O valor foi de R$ 2.290, média que não mudou muito desde 2013.
No caso da indústria, a situação não é melhor. No acumulado de janeiro a junho de 2019, a indústria brasileira recuou sua produção em 1,6%. Comparando só o mês de junho do presente ano com junho do ano passado, a queda na produção industrial foi de 5,9%. Nessa comparação anual, todas as categorias de bens apresentaram quedas significativas: capital (-3,5%), intermediários (-6,4%), consumo (5,3%). Não é à toa que as expectativas para julho sejam de piora. A única coisa que deu um alento à parte dos empresários foi a aprovação na câmara, em 1º turno, da “Deforma” da Previdência. Mas, segundo o FMI, essa “Deforma” causará redução na renda per capita brasileira, redução do consumo das famílias e estagnação dos investimentos até 2020 (estimativa que considero otimista). Segundo o relatório, dado o atual cenário nacional, a economia brasileira só retomaria seus grandes investimentos a partir de 2023.
A partir desses números, uma coisa não se pode deixar de falar: nessa crise que se arrasta desde 2014, uns ganham muito, outros só perdem e outros patinam. Diante da loucura em que nos encontramos, veremos até quando iremos agonizar, seja na política, seja na economia. Nesse meio tempo, podemos continuar lutando por dias melhores, pois o grosso das reformas até aqui propostas não o farão por nós, pelo contrário.

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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quinta-feira, 1 de agosto de 2019

“Economia próxima à estagnação”


Semana de 22 a 28 de julho de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Começamos esta Análise referindo-se ao Informe Conjuntural do segundo trimestre divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo esta publicação, vários indicadores do crescimento foram revisados pra baixo justificando a lamentação de que “É um resultado decepcionante: a economia manteve-se muito próxima da estagnação desde o fim da crise”.
Com efeito, as estimativas apresentam taxas cadentes de crescimento. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 2% para 0,9%. O PIB industrial, de 1,1% para 0,4%. O consumo das famílias passou de 2,2% para 1,5% e o investimento de 4,9% para 2,1%.
Novamente lamenta a CNI: “O marasmo dominou a economia no primeiro semestre”. “O consumo não reage, o investimento continua travado e as exportações apresentam dificuldades”.
É espantosa a ingenuidade dos nossos garbosos empresários. Ingenuidade, ignorância ou cinismo. Caíram na conversa do sinistro (sinistro e não ministro) e sua “equipe dos pesadelos” de “Chicago oldies”. Baixam os salários, demitem trabalhadores, destroem as leis trabalhistas, promovem ajuste fiscal, cortam despesas e verbas para ações sociais, privatizam empresas públicas, comprimem o consumo, e lamentam-se de que, para agravar a situação, estão aprovando a reforma da previdência que, agora, começa a ser identificada como recessiva.
Não satisfeitos continuam o processo de liquidação dos bancos públicos. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continua sua caminhada para a redução à dimensão mínima, enquanto sucessivos presidentes, que não conseguem descobrir uma tal caixa preta (que o governo afirma existir), são demitidos. Como se fosse pouco investem contra tradicionais parceiros comerciais, agredindo o mundo árabe, com descarados afagos a Israel e, agora, o Irã, obedecendo às recomendações tresloucadas do governo Trump.
Há outro indicador que reforça o mau humor dos empresários. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou seu Indicador de Confiança da Indústria que mede a confiança do empresariado. Agora em julho, esta confiança teve uma queda de 1,7 pontos, a maior queda em quatro anos. Em três das quatro categorias analisadas, bens de capital, intermediários e não duráveis, caiu a confiança, e no quarto, bens duráveis, ela apenas se manteve..
Mas não é apenas o setor industrial que chora suas mágoas. No comércio o grupo Carrefour Brasil informou que no segundo trimestre teve um prejuízo de R$494 milhões e o Grupo Pão de Açúcar registrou uma queda de 8,1% no lucro líquido em relação ao ano passado.
Estes são os principais destaques para a economia interna.
No resto do mundo a situação continua igualmente desanimadora. Como temos destacado em outras análises, a crise internacional mantém sua marcha. Agora, o Deutsche Bank, o maior banco da Alemanha, registrou um prejuízo trimestral de 3,1 bilhões de euros e implementou um plano de reestruturação que demitirá 18 mil trabalhadores. As ações do banco, em um dia, registraram uma queda de 5%, para o patamar mais baixo em seus 149 anos de existência. Nervoso, o Banco Central Europeu (BCE) anuncia mais um pacote de estímulos incluindo novos cortes nas taxas de juros, compra de bônus e aumento do relaxamento quantitativo (quantitative easing). Do lado americano o Federal Reserve (FED), banco central do país, também se prepara para o corte de suas taxas de juros preocupado com a economia.
Como os leitores podem constatar, a situação está difícil e não é para amadores e muito menos para loucos irresponsáveis como os que temos na direção do país, a começar pelo presidente, que agora resolveu se vangloriar de saber o destino dos mortos pela ditadura, que ele tanto admira, além de retomar a ofensiva contra as universidades e vociferar contra os relatórios do INPE sobre o desmatamento da Amazônia.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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