Semana de 05 a 11 de agosto de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
No setor financeiro mundial, registrou-se, esta
semana, uma corrida pelos títulos soberanos, pelo ouro, por ienes e francos
suíços. Os Bancos Centrais dos Estados Unidos, Nova Zelândia, Índia e
Tailândia, baixaram suas taxas de juros com receio de uma nova recessão e a
Austrália sinalizou um corte na próxima reunião. As ações provocaram uma queda
do retorno dos títulos soberanos e a procura pelo ouro fez com que a barreira
dos US$ 1.500 a onça fosse rompida pela primeira vez desde março de 2013.
O Japão e o Banco Central Europeu, preocupados com a
desaceleração mundial, cogitam há algum tempo adotar novos estímulos monetários.
A desconfiança tem base real. A economia dos Estados Unidos vem desacelerando
e, pelo segundo mês consecutivo, o setor de serviços dos Estados Unidos
definhou. O índice caiu de 55,1 em junho para 53,7 em julho, segundo o
Instituto para Gestão de Oferta (ISM). A Capital Economics, registra que “a
desaceleração, já evidente no setor manufatureiro, está agora contaminando o
setor de serviços.”
Na Europa, o alerta vem da Alemanha. Em junho, a
produção industrial alemã caiu 5,2% quando comparada a junho do ano passado e
1,5% em relação a maio. Segundo o banco ING, o resultado foi “devastador, sem
nenhum ponto positivo.”
Além destes fatos, a guerra comercial entre China e
Estados Unidos ganhou um novo capítulo. Após o governo dos Estados Unidos
ameaçar aplicar tarifas de 10% sobre bens chineses, a China desvalorizou a sua
moeda. A desvalorização da moeda chinesa ultrapassou os 7 yuans por dólar pela
primeira vez em 11 anos e provocou uma onda de venda de ativos em Wall Street.
Segundo analistas, a guerra comercial está empurrando a economia mundial para a
recessão, pois as retaliações entre os dois países podem pesar sobre os
investimentos, sobre os empregos e finalmente sobre o consumo.
Internamente,
apesar das promessas do ministro Ipiranga de que a economia iria melhorar, nada
acontece. O nível de endividamento das famílias no Brasil voltou a crescer. Em
maio a taxa de endividamento acumulada em 12 meses elevou-se para 44,04%,
segundo dados do Banco Central. Já a CNC (Confederação Nacional do Comércio)
apurou, que em julho, 64,1% das famílias afirmaram estar endividadas.
Endividadas, as famílias gastam menos. O resultado
do varejo em junho confirma o comportamento. As vendas do varejo avançaram
apenas 0,1% em junho comparadas a maio e o varejo ampliado (que inclui veículos
e material de construção) permaneceu estável, conforme os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A venda de combustíveis recuou
1,4%, e a de móveis e eletrodomésticos caiu 1%. Embora a venda de veículos
tenha crescido 5,3% no segundo trimestre, o resultado não foi suficiente para
provocar mudanças significativas no resultado do varejo.
Outro resultado decepcionante veio do setor de
serviços. Em junho, foi registrado o pior resultado para o mês em quatro anos.
O setor recuou 1% em relação a maio, 3,6% em relação a junho do ano passado e
fechou o trimestre com contração de 0,6%. Portanto, o setor intensificou as
perdas, pois o volume de serviços já havia recuado 0,5% no primeiro trimestre.
A indústria já havia registrado contração de 0,7% no
segundo trimestre e o resultado previsto para o PIB trimestral é de queda. O
alerta vem do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central),
indicador prévio do PIB. Segundo o Banco Central, o IBC-Br teve alta de 0,3% em
junho, na comparação com maio e queda de 0,13% no segundo trimestre em relação
ao primeiro. A economia brasileira então está à beira de uma recessão técnica
(dois trimestres consecutivos de contração).
Guedes
que já havia fogueteado em maio que o crescimento “...já deve começar a ser
positivo no segundo trimestre” quando confrontado, normalmente responde com um
chilique. Lembremos ao ministro que fatos são fatos. Não se trata de torcer
contra ou ser pessimista, trata-se apenas de fatos. E contra eles não há argumentos.
Sua política, como era de se esperar, é um desastre.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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