quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A conjuntura econômica internacional piora significativamente


Semana de 05 a 11 de agosto de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

No setor financeiro mundial, registrou-se, esta semana, uma corrida pelos títulos soberanos, pelo ouro, por ienes e francos suíços. Os Bancos Centrais dos Estados Unidos, Nova Zelândia, Índia e Tailândia, baixaram suas taxas de juros com receio de uma nova recessão e a Austrália sinalizou um corte na próxima reunião. As ações provocaram uma queda do retorno dos títulos soberanos e a procura pelo ouro fez com que a barreira dos US$ 1.500 a onça fosse rompida pela primeira vez desde março de 2013.
O Japão e o Banco Central Europeu, preocupados com a desaceleração mundial, cogitam há algum tempo adotar novos estímulos monetários. A desconfiança tem base real. A economia dos Estados Unidos vem desacelerando e, pelo segundo mês consecutivo, o setor de serviços dos Estados Unidos definhou. O índice caiu de 55,1 em junho para 53,7 em julho, segundo o Instituto para Gestão de Oferta (ISM). A Capital Economics, registra que “a desaceleração, já evidente no setor manufatureiro, está agora contaminando o setor de serviços.”
Na Europa, o alerta vem da Alemanha. Em junho, a produção industrial alemã caiu 5,2% quando comparada a junho do ano passado e 1,5% em relação a maio. Segundo o banco ING, o resultado foi “devastador, sem nenhum ponto positivo.”
Além destes fatos, a guerra comercial entre China e Estados Unidos ganhou um novo capítulo. Após o governo dos Estados Unidos ameaçar aplicar tarifas de 10% sobre bens chineses, a China desvalorizou a sua moeda. A desvalorização da moeda chinesa ultrapassou os 7 yuans por dólar pela primeira vez em 11 anos e provocou uma onda de venda de ativos em Wall Street. Segundo analistas, a guerra comercial está empurrando a economia mundial para a recessão, pois as retaliações entre os dois países podem pesar sobre os investimentos, sobre os empregos e finalmente sobre o consumo.
            Internamente, apesar das promessas do ministro Ipiranga de que a economia iria melhorar, nada acontece. O nível de endividamento das famílias no Brasil voltou a crescer. Em maio a taxa de endividamento acumulada em 12 meses elevou-se para 44,04%, segundo dados do Banco Central. Já a CNC (Confederação Nacional do Comércio) apurou, que em julho, 64,1% das famílias afirmaram estar endividadas.
Endividadas, as famílias gastam menos. O resultado do varejo em junho confirma o comportamento. As vendas do varejo avançaram apenas 0,1% em junho comparadas a maio e o varejo ampliado (que inclui veículos e material de construção) permaneceu estável, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A venda de combustíveis recuou 1,4%, e a de móveis e eletrodomésticos caiu 1%. Embora a venda de veículos tenha crescido 5,3% no segundo trimestre, o resultado não foi suficiente para provocar mudanças significativas no resultado do varejo.
Outro resultado decepcionante veio do setor de serviços. Em junho, foi registrado o pior resultado para o mês em quatro anos. O setor recuou 1% em relação a maio, 3,6% em relação a junho do ano passado e fechou o trimestre com contração de 0,6%. Portanto, o setor intensificou as perdas, pois o volume de serviços já havia recuado 0,5% no primeiro trimestre.
A indústria já havia registrado contração de 0,7% no segundo trimestre e o resultado previsto para o PIB trimestral é de queda. O alerta vem do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), indicador prévio do PIB. Segundo o Banco Central, o IBC-Br teve alta de 0,3% em junho, na comparação com maio e queda de 0,13% no segundo trimestre em relação ao primeiro. A economia brasileira então está à beira de uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de contração).
Guedes que já havia fogueteado em maio que o crescimento “...já deve começar a ser positivo no segundo trimestre” quando confrontado, normalmente responde com um chilique. Lembremos ao ministro que fatos são fatos. Não se trata de torcer contra ou ser pessimista, trata-se apenas de fatos. E contra eles não há argumentos. Sua política, como era de se esperar, é um desastre.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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