Semana de 12 a18 de agosto de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Há mais de um ano que alertamos os nossos
leitores para a formação das condições de uma nova crise na economia mundial.
Nas últimas duas Análises que publicamos, os professores Lucas e Rosângela
chamaram a atenção para os novos dados que confirmam a aproximação do fenômeno.
As condições estão amadurecendo rapidamente e tudo indica que estamos nos
aproximando do momento da explosão.
E não é sem tempo. Todos sabem, embora
algumas ideologias econômicas tentem esconder, que a economia capitalista se
move em ciclos de expansão e retração. São os chamados ciclos econômicos ou
ciclos de Juglar que nós definimos como crises cíclicas de superprodução.
As estatísticas podem mostrar que estes
ciclos tem uma duração de 7 a 11 anos, envolvem a maioria dos países
capitalistas e ocorrem desde 1825. A partir dos anos 1970 eles passaram a ter
uma frequência quase decenal, ocorrendo no início de cada década. O ciclo de
2010 resolveu antecipar-se dois anos e explodiu em 2008 envolvendo o Brasil um
ano depois. Enquanto a economia mundial voltou a crescer, o que era previsível,
a economia local continuou no buraco. Esta foi a nossa especificidade. Agora a nossa
estagnação deverá integrar-se no novo mergulho que certamente nos arrastará.
Já dissemos antes e voltamos a repetir.
Quando o bonde da economia mundial passa subindo a ladeira é possível embarcar
ou não, mas quando ele passa descendo todos vão juntos. Coitado do Guedes e
seus “Chicago oldies!”
Mas parece que estamos atrasados em nossas
previsões. A colunista do Financial Times de Nova York, Rana Faroohar, desta
vez nos antecipou. Para ela, o “crash” já começou só que os analistas fazem
questão de não ver. Ela cita Ulf Lindahl, presidente executivo da consultoria
AG Bisset Associates, que prevê a transformação dos mercados em um “bear
market” e que teremos um “verão do medo”.
Com efeito, as notícias reforçam estas
previsões. Na Ásia, EUA, União Europeia (UE) e China cresce o número de
empresas-zumbi, aquelas cujos rendimentos não pagam o custo de suas dívidas. Do
total de 26 mil empresas estudadas pela Nikkei com dados da consultoria
QUIKFactSet, 20% não conseguem cobrir os custos de suas dívidas. Na Índia esta
porcentagem era de 26%, na Indonésia 24% e na Coreia 18%.
No segundo trimestre a Alemanha informou
que o PIB encolheu 0,1%, afetando toda a região do Euro, já abalada com a saída
do Reino Unido (Brexit), cuja economia também encolheu 0,8%. Na China, o
desemprego voltou a crescer e a economia desacelerou o que tende a piorar como
consequência da guerra comercial com os EUA.
Os acontecimentos políticos abalaram as
bolsas de valores que desabaram ao redor do mundo. Wall Street caiu 3,05%. O
Índice de volatilidade VIX chamado “termômetro do medo” disparou subindo
26,14%. A bolsa de Londres recuou 1,42%, a de Frankfurt, 2,19% e a de Paris
2,08%. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 2,6%.
A Organização do Comércio (OMC) publicou no
“Barômetro do Comércio de Mercadorias” que o comercio mundial se encontra no
seu mais baixo nível desde 2010. O índice apontou 95,7 (abaixo de 100 significa
desaceleração). Também mostraram desaceleração os indicadores de transporte
internacional de cargas (91,4), encomendas de exportação (97,50), venda de
automóveis (93,5) e de produtos agrícolas (97,1). A OMC prevê que o terceiro
trimestre também apresentará dados de desaceleração.
Há outro fenômeno de grande importância,
mas que as manchetes não refletem. No mundo há US$15 trilhões de bônus que
rendem juros negativos. Isto significa que os “investidores” pagam uma taxa
para comprar os títulos em vez de receberem rendimentos. Isto representa cerca
de 25% de todos os títulos emitidos pelos governos. O mundo está abarrotado de
capitais, entupido. Diante da impossibilidade de aplicá-lo para obter
rendimentos e da ameaça de perder tudo, os possuidores da riqueza,
enlouquecidos, estão pagando para salvar pelo menos uma parte dela.
Eis a crise em marcha. Vão-se os anéis, mas
fiquem os dedos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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