Semana de 26 de agosto a 01 de setembro de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Há 10 semanas esta coluna alerta para a
desaceleração mundial e o seu contínuo agravamento. Fazemos mais um registro da
debilidade da economia mundial. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) registrou desaceleração generalizada nos resultados do segundo
trimestre quando comparados aos do primeiro. Na Alemanha a atividade econômica
foi de 0,4% para -0,1%, no Reino Unido, de 0,5% para -0,2%, nos Estados Unidos
de 0,8% para 0,5% e no Japão, de 0,7% para 0,4%. O recuo trimestral isolado dos
países provocou retração nos seguintes grupos: nos 35 países-membros da OCDE,
foi de 0,6% para 0,5%; na Zona do Euro foi de 0,4% para 0,2% e no G-7 de 0,6%
para 0,4%.
A OCDE também registrou queda no segundo trimestre
dos montantes negociados no comércio internacional em virtude, principalmente,
da guerra comercial entre Estados Unidos e China. No bloco que forma o G-20 a
desaceleração foi de 1,9% no montante das exportações e de 0,9% nas
importações.
Mas, a desaceleração mundial não tem chamado a
atenção da equipe econômica brasileira, pois o empenho em fazer as reformas,
tem tomado todo o tempo do Paulo Guedes e seus subordinados. Além disso, o PIB
brasileiro avançou 0,4% no segundo trimestre. O resultado por setores foi o
seguinte: a indústria teve alta de 0,7%, a agropecuária, queda de 0,4% e os
serviços cresceram 0,3%. Foi um alento. O PIB da construção civil cresceu 1,9%,
em relação ao primeiro trimestre, após 20 trimestres consecutivos em queda.
Outro alento veio da melhoria das condições gerais de crédito em julho. Segundo
o Banco Central, as concessões de empréstimos para pessoas físicas cresceram
1,77%, comparadas a junho, e o crédito a pessoas jurídicas cresceu 1,44%.
Logo após a divulgação do resultado do PIB do 2º
trimestre, fomos convidados a respirar aliviados, pois a recessão (dois
trimestres consecutivos de queda da atividade econômica) não foi decretada. E
ainda: o decréscimo de 0,2% do PIB do primeiro trimestre foi revisado para
-0,1%. Imediatamente, os analistas aumentaram a previsão de crescimento anual
para 1% e o jornal Valor Econômico até intitulou seu editorial de 30 de agosto
assim: “Recuperação se firma e ritmo lento deve prevalecer”. Mas não há o que
comemorar. Que a economia apresenta ritmo lento é um fato, mas, um resultado
negativo seguido de um positivo não é condição suficiente para garantir que a
“recuperação se firmou”. Quem acompanha nossas análises sabe que a atividade
econômica interna vem apresentando crescimento errático desde 2017. E um rápido
olhar para o mercado de trabalho mostra que a recuperação não é solida.
De mais a mais, as nuvens negras avistadas no
panorama internacional somam-se às nuvens negras produzidas pelos discursos e
atitudes do presidente Jair Bolsonaro. A verborragia presidencial fez aumentar
a desaprovação pessoal e do governo brasileiro. A nova pesquisa CNT/MDA apurou
que a desaprovação do desempenho pessoal do presidente cresceu de 28,2% em
fevereiro para 53,7% em agosto, enquanto sua aprovação caiu de 57,5% em
fevereiro para 41%. A avaliação negativa da gestão também cresceu. Em fevereiro
era de 19%. Em agosto registrou 39,5%. Já a avaliação positiva do governo caiu
de 38,9% em fevereiro para 29,4% em agosto.
Na segunda, 02 de setembro, o Datafolha publicou a
sua pesquisa. Os resultados reforçam aqueles apurados pela CNT/MDA.
O presidente continua a menosprezar as pesquisas.
Nisto não há novidade, pois o mesmo abomina a ciência e de propósito escolheu a
incivilidade como companheira de administração. Enquanto deputado era apenas
uma gralha esbaforida a dizer despautérios. Agora como presidente leva a nação
a reboque de suas sandices. Uma “combinação de circunstâncias” está se formando
e no horizonte se vislumbra a “tempestade perfeita”: crise econômica mundial
combinada com a austeridade fiscal de Paulo Guedes e associada à bestialidade
bolsonarista.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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