quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Uma “tempestade perfeita” se aproxima...


Semana de 26 de agosto a 01 de setembro de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Há 10 semanas esta coluna alerta para a desaceleração mundial e o seu contínuo agravamento. Fazemos mais um registro da debilidade da economia mundial. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) registrou desaceleração generalizada nos resultados do segundo trimestre quando comparados aos do primeiro. Na Alemanha a atividade econômica foi de 0,4% para -0,1%, no Reino Unido, de 0,5% para -0,2%, nos Estados Unidos de 0,8% para 0,5% e no Japão, de 0,7% para 0,4%. O recuo trimestral isolado dos países provocou retração nos seguintes grupos: nos 35 países-membros da OCDE, foi de 0,6% para 0,5%; na Zona do Euro foi de 0,4% para 0,2% e no G-7 de 0,6% para 0,4%.
A OCDE também registrou queda no segundo trimestre dos montantes negociados no comércio internacional em virtude, principalmente, da guerra comercial entre Estados Unidos e China. No bloco que forma o G-20 a desaceleração foi de 1,9% no montante das exportações e de 0,9% nas importações.
Mas, a desaceleração mundial não tem chamado a atenção da equipe econômica brasileira, pois o empenho em fazer as reformas, tem tomado todo o tempo do Paulo Guedes e seus subordinados. Além disso, o PIB brasileiro avançou 0,4% no segundo trimestre. O resultado por setores foi o seguinte: a indústria teve alta de 0,7%, a agropecuária, queda de 0,4% e os serviços cresceram 0,3%. Foi um alento. O PIB da construção civil cresceu 1,9%, em relação ao primeiro trimestre, após 20 trimestres consecutivos em queda. Outro alento veio da melhoria das condições gerais de crédito em julho. Segundo o Banco Central, as concessões de empréstimos para pessoas físicas cresceram 1,77%, comparadas a junho, e o crédito a pessoas jurídicas cresceu 1,44%.
Logo após a divulgação do resultado do PIB do 2º trimestre, fomos convidados a respirar aliviados, pois a recessão (dois trimestres consecutivos de queda da atividade econômica) não foi decretada. E ainda: o decréscimo de 0,2% do PIB do primeiro trimestre foi revisado para -0,1%. Imediatamente, os analistas aumentaram a previsão de crescimento anual para 1% e o jornal Valor Econômico até intitulou seu editorial de 30 de agosto assim: “Recuperação se firma e ritmo lento deve prevalecer”. Mas não há o que comemorar. Que a economia apresenta ritmo lento é um fato, mas, um resultado negativo seguido de um positivo não é condição suficiente para garantir que a “recuperação se firmou”. Quem acompanha nossas análises sabe que a atividade econômica interna vem apresentando crescimento errático desde 2017. E um rápido olhar para o mercado de trabalho mostra que a recuperação não é solida.
De mais a mais, as nuvens negras avistadas no panorama internacional somam-se às nuvens negras produzidas pelos discursos e atitudes do presidente Jair Bolsonaro. A verborragia presidencial fez aumentar a desaprovação pessoal e do governo brasileiro. A nova pesquisa CNT/MDA apurou que a desaprovação do desempenho pessoal do presidente cresceu de 28,2% em fevereiro para 53,7% em agosto, enquanto sua aprovação caiu de 57,5% em fevereiro para 41%. A avaliação negativa da gestão também cresceu. Em fevereiro era de 19%. Em agosto registrou 39,5%. Já a avaliação positiva do governo caiu de 38,9% em fevereiro para 29,4% em agosto.
Na segunda, 02 de setembro, o Datafolha publicou a sua pesquisa. Os resultados reforçam aqueles apurados pela CNT/MDA.
O presidente continua a menosprezar as pesquisas. Nisto não há novidade, pois o mesmo abomina a ciência e de propósito escolheu a incivilidade como companheira de administração. Enquanto deputado era apenas uma gralha esbaforida a dizer despautérios. Agora como presidente leva a nação a reboque de suas sandices. Uma “combinação de circunstâncias” está se formando e no horizonte se vislumbra a “tempestade perfeita”: crise econômica mundial combinada com a austeridade fiscal de Paulo Guedes e associada à bestialidade bolsonarista.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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