Semana de 30 de setembro a 06 de outubro de 2019
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
No dia 24 do mês passado o Comitê de Política
Monetária do Banco Central (Copom) divulgou uma ata afirmando que a economia
brasileira estaria em “recuperação”. Mas “essa retomada ocorrerá em ritmo
gradual”. Foi suficiente para um bando de entusiastas da política estúpida do
Paulo Guedes, incluindo o próprio, sair aos noticiários dizendo que a economia
voltou a crescer.
De fato, nos últimos dois meses, alguns indicadores
melhoraram. Contudo, essa melhora é pontual e está muito longe de significar
uma real mudança na tendência de crescimento. Isto não é mera especulação. Os
dados divulgados pelo IBGE no dia 01 de outubro de 2019 mostram que houve um
crescimento de 0,8% na indústria brasileira, entre agosto e julho. Detalhando
em termos regionais, o crescimento aconteceu em 11 dos 15 locais pesquisados:
só não cresceu no RS, SC, ES e BA.
Analisando segundo os tipos de bens, a situação não
é tão animadora. São eles: bens intermediários (essencialmente insumos e
matérias-primas), bens de capital (máquinas e equipamentos), bens de consumo
duráveis (eletrodomésticos, automóveis, etc.) e bens de consumo semi e
não-duráveis (vestuário, alimentos, etc.). Desses quatro, apenas os bens
intermediários tiveram crescimento (1,4%). Todos os demais caíram. Isso
significa que a indústria consumiu mais insumos em agosto quando comparado a
julho. Contudo, isso não significa que os grandes investimentos voltaram à
tona. São os gastos em bens de capital a principal locomotiva do crescimento.
É verdade que o setor cresceu nos últimos meses. Mas
isto é resultado da profunda queda total de 10,1% ocorrida entre outubro de
2018 e janeiro de 2019. Entre janeiro e agosto de 2019 o índice da produção
dessa indústria cresceu 8,5%. Mas, comparando agosto de 2018 com agosto de
2019, a produção de bens de capital ainda está 2,3% menor. Isto significa que
ainda é pior do que no ano passado. Assim, por esses dados sazonalmente
ajustados, a observação é válida para toda a indústria nacional.
Se a análise for feita segundo a atividade produtora
das mercadorias, vê-se que 16 dos 26 ramos estudados tiveram queda na produção
entre julho e agosto de 2019. Dentre os mais importantes estão: produtos
farmoquímicos e farmacêuticos (-4,9%); outros produtos químicos (-0,4%);
informática, ópticos e eletrônicos (-0,5%); máquinas e equipamentos (-2,7%);
veículos automotores (-3,0%).
Diante deste cenário interno, a esperança de
crescimento mais robusto para o Brasil poderia vir de dois “atores”: ou do
setor externo ou do governo. No caso do primeiro, não é novidade para o assíduo
leitor do presente blog que a crise internacional já começou a se manifestar. E
os sinais externos estão piorando. O setor de serviços é aquele que mais
contribui para o PIB da maior parte das economias no mundo. Pois bem, ele está
desaquecendo. EUA, Reino Unido e a Zona do Euro dão sinais de que a fraca produção
industrial em seus territórios já “contamina” os demais setores da economia. A
isso se soma a “Guerra Comercial” entre estadunidenses e chineses. Têm-se um
prato cheio, que dizer, vazio para o setor externo não estimular o Brasil de
forma contundente.
No caso do governo como estimulador da atividade
interna, é risível a crença dos economistas mais ortodoxos de que o Estado não
pode “atrapalhar” a iniciativa privada. E que seria suficiente criar um
ambiente propício para os empresários que a economia voltaria a crescer por si
só. Isso é uma verdadeira piada. Só quem nunca estudou a formação econômica e
social do Brasil (ou de qualquer outro país, incluindo aí os EUA) pode
acreditar que os empresários não precisam do Estado e do seu aparelho para
realizar investimentos. Sobretudo em inovação. Claro que para o próprio Paulo
Guedes isso tem a ver com os interesses pessoais dele (leia-se mercado
financeiro). Precisa ter mais locais onde aplicar os recursos que controla. De
toda forma, o governo não dá qualquer sinal de que usará suas forças para
empurrar o país para fora do buraco.
Assim, seja pela dinâmica interna, pelo cenário
externo ou pelo governo, a economia brasileira está longe de uma real retomada
do crescimento.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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