Semana de 23 a 29 de setembro de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Surgiram algumas esperanças que a situação
da economia melhore no terceiro trimestre do ano. Para o segundo trimestre as
esperanças já estão perdidas. De acordo com alguns analistas, a Fundação
Getúlio Vargas (FGV) deverá divulgar a queda de 0,6% do Produto Interno Bruto
(PIB) deste período. Só em agosto, o varejo ampliado caiu 0,9% e os serviços
0,3%. Já o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) também crê que,
com a reforma da Previdência, a redução da Selic e a liberação do FGTS, a
situação seja revertida no período seguinte. Um dado alentador é o aumento da
geração de 121,4 mil empregos com carteira assinada, em agosto, embora de má
qualidade. O relatório de inflação do Banco Central (BC) de setembro alterou
sua estimativa de crescimento do PIB para 2019, de 0,8 % para 0,9%. Este
crescimento lento é muito favorável à manutenção da inflação em níveis baixos o
que possibilita novas quedas da taxa Selic. Para 2020, o BC é mais pessimista
que o mercado e estima o crescimento do PIB em 1,8%.
Apesar da redução da Selic os bancos não
baixaram suas taxas de juros. Aproveitam para “engordar” suas margens
aumentando os “spreads’ em 0,5 pontos.
Enquanto a economia se arrasta, o sinistro
da Economia, Paulo Guedes, continua firme com o seu programa 3D: desindexar,
desobrigar, desvincular o orçamento da União, além de privatizar tudo. A
reforma da Previdência está praticamente aprovada com a ajuda de vários partidos,
inclusive o PSDB.
As vitórias do governo nestes terrenos têm
tido grande ajuda dos presidentes da Câmara e do Senado. O general Luiz Eduardo
Ramos, ministro da Secretaria de Governo tem mostrado sua competência na
aplicação do sistema “toma-lá-dá-cá” ou “é dando que se recebe”. Além disso,
tem a virtude de ser seletivo: exige fidelidade absoluta qualificada apenas
naquilo que é considerado “pautas para o país” que são definidas pelo próprio
general e envolvem as reformas estruturais como a da Previdência, a tributária,
a da liberdade econômica, pacto federativo etc. As questões de interesse do
presidente (religiosas, costumes, ideológicas, aborto) não interessam ao Brasil
e não exigem fidelidade. Na pauta da “nação” a infidelidade acarreta retaliação.
Brilhante ação do general. Fica explicitado
a base do apoio ao governo. Suportam-se os desmandos e a insensatez do monstro
desde que ele garanta os interesses da conservadora e reacionária classe
empresarial do país. Tudo é suportável: mamadeira de piroca, cristo na
goiabeira, destruição do ensino, das universidades, da cultura, da ciência, das
minorias, da ecologia, etc. Tudo é suportável desde que se garanta a destruição
das conquistas dos trabalhadores e aumente-se o lucro dos capitalistas e
banqueiros.
Diante da passividade geral, da falta de
lideranças e partidos políticos eles estão passando o rolo compressor no país.
O discurso do presidente na ONU é um ótimo
exemplo do governo que temos. Tudo foi dito às claras. A nossa vergonha está
exposta. O Congresso, o poder judiciário, os militares, são todos coniventes
com isto. Acabou a conciliação entre as classes sociais. Temos das burguesias
mais reacionárias e conservadoras do mundo.
Como consequência passaremos a sofrer
algumas ações de forças internacionais. Em primeiro lugar a crise mundial
continua em marcha e, quando deflagrada, fará abortar a débil recuperação
econômica do país. Segundo o Banco Central Europeu (BCE), a queda da economia
será muito mais prolongada do que se previa. Em segundo lugar a opinião pública
internacional que se manifesta através das organizações internacionais pode
pressionar as autoridades e as relações econômicas via comércio exterior. As
autoridades do país serão hostilizadas nos foros internacionais onde
participarem.
Parece que Bolsonaro exagerou na dose. Além
de seus seguidores fanáticos, apenas a Confederação Nacional da Agricultura
aplaudiu. Que vergonha!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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