Semana de 04 a 10 de novembro de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Semana morna em relação aos dados
econômicos e quente em relação aos acontecimentos políticos.
Em relação à economia as notícias confirmam
as tendências que temos apontado aqui: desaceleração da economia mundial e
arrastamento da recuperação nacional.
Na América Latina o consumo de aço,
indicador da produção industrial, caiu ao nível de 2016. Os maiores
consumidores, Brasil, México e Argentina encontram-se em dificuldades. A
indústria americana recuou com a queda da demanda por bens industriais, em
setembro, contra agosto, considerada a maior queda em 4 meses. No Reino Unido o
Banco Central (BoE) manteve as taxas de referência em 0,75% ao ano alegando
desaceleração da economia em 2019 e as consequências do Brexit. Na Alemanha o
Conselho de Especialistas Econômicos do governo estimou para este ano um
crescimento do PIB de 0,5% e para o próximo 0,9%. No segundo trimestre a
economia encolheu 0,1%. Para a economia mundial como um todo os analistas
consideram que o setor automotivo continua a puxar a desaceleração. Em 2018 as
vendas caíram 3% e a produção 2,4%. Para este ano prevê-se a continuação da
queda que afeta a economia mundial graças ao efeito de arrastamento que este
setor tem.
Para o Brasil as principais notícias foram:
a manutenção da inflação sob controle, o IPCA, em outubro, teve alta de 0,1% e
em 12 meses o acumulado ficou em 2,54%. (Viva o desemprego que esmaga o
consumo!); a estimativa do boletim Focus, publicação do BC, para o crescimento
do PIB deste ano que ficou em 0,92%; a piora das contas externas, que diante
das saídas de dólares apresentaram um saldo negativo de US$ 8,494 bilhões em outubro.
A saída é atribuída à desaceleração das exportações, à remessa de lucros e
dividendos e à saída de investimentos estrangeiros, o que indica uma falta de
confiança dos investidores estrangeiros; e a publicação, pelo IBGE, da pesquisa
“Síntese de Indicadores Sociais 2019”, que mostrou que o contingente de 13,5
milhões de pessoas em condições de extrema pobreza no ano passado é o maior da
série histórica iniciada em 2012. Representam 6,5% da população brasileira.
Este número é superior às populações de países como a Bélgica, Bolívia, Grécia,
Portugal e Cuba. Mostrou ainda que o número de trabalhadores informais é o
maior dos últimos 7 anos constituindo 47,4% da população ocupada.
Enquanto a situação social se agrava,
choramos o fracasso do leilão do pré-sal, onde não apareceu nenhum gigante
petroleiro do mundo e apenas a Petrobrás salvou a paróquia. Choramos também o
embargo da carne bovina brasileira exportada para os EUA, pois nosso amigo
preferencial não se comoveu com o voto brasileiro de apoio na ONU. Pela
primeira vez em 27 anos o Brasil juntou-se a Israel no apoio aos americanos
votando contra a condenação do bloqueio à Cuba feito unilateralmente por aquele
país.
Passemos aos acontecimentos políticos que
ocuparam a semana.
O caso do assassinato de Marielle, que
ainda vai causar grandes problemas à família Bolsonaro. Voltou à cena o
depoimento do porteiro sobre a autorização dada para a entrada de um dos
assassinos no condomínio do presidente.
O apelo ao AI-5 feito pelo deputado Eduardo
Bolsonaro e apoiado pelo general Heleno causou repulsa geral e condenação de
partidos e autoridades e inclusive do próprio presidente apanhado com saia
justa.
Para culminar foi publicado na internet a
cena do leão sendo atacado pelas hienas com cartazes personificando órgãos,
pessoas, organizações, entidades etc. e que foi rapidamente tirado do ar
servindo de motivo para o presidente ser chamado de “rei dos animais” pelo
humorista Jô Soares.
Para terminar vale citar o editorial do
jornal Valor Econômico alertando para a destruição da Amazônia pela política do
governo. O maior problema não é o fogo, mas o desmonte legal e institucional
dos mecanismos de proteção da região permitindo a ocupação das terras
indígenas, a legalização da mineração, do desmatamento e a expansão da
agricultura e pecuária.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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