quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A aceleração econômica “autossustentável” de Paulo Guedes


Semana de 28 de outubro a 03 de novembro de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

À medida em que o clã dos Bolsonaro segue flertando com o autoritarismo e produzindo polêmicas, a realidade mantém o seu curso. A atividade econômica continua em passos lentos. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego fechou em 11,8% no terceiro trimestre encerrado em setembro permanecendo estável em relação ao segundo trimestre. O país ainda registra 12,5 milhões de desempregados e os novos recordes do mercado de trabalho não nos servem de orgulho: são 11,8 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e 24,4 milhões que trabalham por conta própria. O número de desalentados, trabalhadores que desistiram de procurar trabalho, caiu de 4,9 milhões no segundo trimestre para 4,7 milhões no terceiro trimestre, mas ainda é recorde.
Estes números demonstram que não há perspectivas de melhora no mercado de trabalho. Sendo assim, espera-se que a demanda interna continue fraca nos próximos meses. Com demanda baixa, a taxa de inflação continua a cair. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil achou espaço para mais uma vez reduzir os juros. A taxa Selic caiu de 5,5% para 5% e o Copom sinalizou para mais um corte em dezembro. Sem fazer referências às causas da queda da inflação, a instituição caracterizou o cenário inflacionário como benigno e citou a alta ociosidade da economia como fator favorável. Por fim, afirmou que a economia brasileira está em “retomada gradual”, como se o alto desemprego, a baixa demanda e a enorme ociosidade do parque produtivo fossem indicadores compatíveis com um cenário de recuperação “gradual”.
Ao divulgar a ata da última reunião, o Copom foi “bastante preciso” ao apresentar o cenário do quarto trimestre. “O comitê estima que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter apresentado crescimento no terceiro trimestre. Os trimestres seguintes devem apresentar alguma aceleração, que deve ser reforçada pelos estímulos decorrentes da liberação de recursos do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço] e PIS-Pasep [Programa de Integração Social/Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público] - com impacto mais concentrado no último trimestre de 2019.” Ao julgar pelos destaques em negrito, o Copom reduziu sua análise econômica a uma simples crença.
Enquanto isso, seguimos atentos aos resultados econômicos mundiais. A desaceleração econômica dos EUA continuou no terceiro trimestre. Segundo o Departamento de Comércio, o PIB americano cresceu 1,9% (taxa anualizada), ficando abaixo da expansão de 2% registrada no segundo trimestre. Analistas preveem que o resultado do quarto trimestre será de 1,4%, pois os investimentos continuam a cair e a guerra comercial com a China tem produzido efeitos na economia real.
A atual realidade econômica mundial imporá desafios à Christine Lagarde, nova presidente do Banco Central Europeu. Lidar com a crise que se avizinha é o maior deles. Renomados economistas como Olivier Blanchard, chegaram à conclusão de que “a política monetária está sem munição para reagir, mas, se os bancos centrais disserem isso explicitamente demais, poderão descontrolar o mercado.”
No momento em que o mundo se prepara para a crise, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comemora a aceleração “autossustentável” da atividade econômica (!). Em sua definição, até a liberação de saques de contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a criação do saque-aniversário, figuram como um “empurrãozinho autossustentável”. Sem apresentar dados, o ministro disse que a economia brasileira já voltou a crescer e prometeu um PIB entre 2% e 2,5% em 2020. E, ao ser questionado sobre as promessas econômicas que fez e que até agora não foram concretizadas, o ministro respondeu como de praxe, dando piti: “Foram 30 anos de centro-esquerda. Dá para esperar quatro aninhos de um liberal-democrata? Se não melhorar, troca, sem intolerância. Mas deu três meses e já começaram: cadê o crescimento? Vamos ser razoáveis. Não é justo.” Em seu grande finale o ministro mostra ignorância ao concluir que foi o único liberal a assumir a pasta da Economia com o intuito de culpar os outros pelo seu próprio fracasso.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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