Semana de 18 a 24 de novembro de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, a conjuntura econômica mundial continua
desacelerando. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), afirmou que as incertezas políticas e o fraco fluxo de comércio e
investimentos dominam o cenário econômico. A instituição estima uma
desaceleração no crescimento do comércio mundial de 1,2% este ano. O PIB global
cairá de 3,5%, registro de 2018, para 2,9% este ano. Registros de arrefecimento
também foram feitos para os Estados Unidos, Japão, Zona do Euro e China.
A economia interna apresenta sinais dúbios. O volume
de vendas do varejo restrito cresceu 1,6% no terceiro trimestre, segundo o
IBGE. O Monitor da FGV indica crescimento do PIB no trimestre, pois foi
registrado um crescimento de 0,3% na passagem de agosto para setembro. No
mercado de trabalho, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)
detectou a abertura de 70,9 mil empregos em outubro. Mas a qualidade do emprego
é o que chama a atenção. Houve criação líquida de 6.087 empregos com contrato
intermitente e abertura de outras 2.569 vagas pelo sistema de jornada parcial.
Estas duas modalidades foram criadas pela reforma trabalhista. O secretário de
Política Econômica, Adolfo Sachsida, comemorou: “...este vai ser o melhor Natal
dos últimos anos na economia brasileira.”
O melhor Natal acontecerá, segundo a consultoria
IDados (com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), com 26,6% do
total de trabalhadores classificados como chefes de família ganhando um salário
mínimo ou menos. O aumento do emprego informal é o responsável pelo aumento
desta fatia que no segundo trimestre de 2015 era de 23,8%.
Mas os fatos não bastam e o desmonte da proteção
trabalhista continua. Para justificar o “Contrato Verde e Amarelo”, que visa
estimular o emprego dos jovens, o secretário especial de Previdência e Trabalho
do Ministério da Economia, Rogério Marinho, destacou o “bom senso” do governo,
na revogação de trechos da CLT sobre fiscalizações trabalhistas. Além disso,
falou a empresários na Federação das Indústrias de Minas Gerais que há muito
“ruído” em relação à taxação dos desempregados. Aplaudido, defendeu ampliação
da possibilidade de trabalho aos domingos, dizendo que o “domingo é um dia de
trabalho como qualquer outro” e que o trabalhador não perderá seu dia de
descanso remunerado que não precisa ser no domingo. O secretário, otimista
prevê que a taxa de desemprego no Brasil se aproxime de um dígito até 2022. Ao
que parece, o secretário especial de Previdência tem memória curta. No governo
Dilma, as desonerações não provocaram o aumento automático do emprego como a
equipe econômica previa.
Guedes e sua equipe não reconhecem o fracasso das
políticas recentes e o retumbante fracasso das políticas liberais no mundo. Seu
grupo se esforça em explicar que, à medida que o governo se retira da economia,
o setor privado passa a ocupar os espaços que sobraram. Adolfo Sachsida,
secretário de Política Econômica, esteve presente na imprensa durante toda a
semana para defender a política econômica e em especial, o regramento fiscal.
Ele chegou a afirmar que: “Pouca gente percebe, mas estamos fazendo um ajuste
fiscal expansionista.” Em sua crença registrada como teoria econômica já está
determinado o fim do ciclo recessivo. “Existem vários textos acadêmicos que
dizem que, quando o governo faz um ajuste fiscal rigoroso, principalmente
reduzindo gastos, isso estimula o PIB”, afirmou.
Na semana passada ficou demonstrado nesta coluna,
quem irá pagar o pato pela política econômica do governo. Não devemos tratar
com surpresas as reformas aprovadas e propostas por Paulo Guedes, porque o
mesmo nunca escondeu sua pauta. O Posto Ipiranga do governo Bolsonaro agrada a
elite econômica brasileira, que comemora o desmonte do Estado. E a bestialidade
autoritária com a qual o governo flerta diariamente é tolerada pela promessa de
entrega da pauta econômica. Até quando?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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